12.4.06

Ben-Hur e Pipocas

Ben-Hur e Pipocas

Estava no cinema, aguardando o início da projeção, quando me vieram à lembrança as idas às matinês de domingo, dos cinemas Vitória e Apolo, em Santa Cruz do Sul, durante a minha infância. Chegávamos cedo, bem antes do início da sessão dupla, geralmente uma combinação de filmes de capa-e-espada ou de guerra, onde todos japoneses e alemães eram idiotas, seguidos de um spaghetti western com Franco Nero ou um romance meloso com Gianni Morandi e Rita Pavone. Antes da sessão se trocavam figurinhas de álbuns impossíveis de completar e gibis. O Vitória tinha poltronas metálicas estofadas. Incomparáveis, no aspecto conforto, com as dos cinemas atuais. Hoje temos poltronas com encosto para tudo, porta copos, piso inclinado, à prova de pessoas altas e ar condicionado. Assisti ao Lawrence da Arábia (1962), na interminável versão original, num dia escaldante de verão, nas poltronas de madeira do Apolo. Uma simulação muito real do deserto - chegamos ao final da sessão derrotados como os otomanos. Nada comparável, no entanto, ao Ben-Hur (1959) com 210 minutos de duração. Quando Messala morreu, atropelado no final do primeiro grande racha (de bigas) da história cinematográfica, o cinema veio abaixo com os aplausos, não só pela sede de vingança contra Messala, mas principalmente por saber que aquele suplício, nas poltronas de madeira, terminaria em breve. Num aspecto os cinemas de outrora e os de hoje se assemelham. Há baleiros na entrada. As balas mais infames são as azedinhas e as balas de goma, enroladas em celofane, fazendo muito ruído cada vez que alguém as tira.. Noutra, no entanto, os cinemas atuais inovaram na tortura, ou melhor, importaram a tortura de outras terras. Não havia na época nada comparável ao fedor de pipocas que se espalha pelas modernas salas. Só mesmo vendendo galinha na farofa. Como apop-corn aux microondes avec fromage - assim fica mais chique para combinar com o preço cobrado por aqueles vasos de pipoca - fica muito crocante, um novo ruído tipo chomp-chomp soma-se ao já conhecido schtress-schtress das embalagens de balas. Os filmes legendados ajudam, já que não é necessário ouvir a trilha sonora. Restou o problema da falta de concentração, pois somado ao cheiro nauseante das pipocas e de uns salgadinhos sabor de bacon, que mereciam ser chamados de Vomititos, tem o irritante ruído chomp-schtress-brrrrrrr - este de celulares com alarme vibratório. O fedor continua, mas para os ruídos a tecnologia veio com uma solução - um sistema de som OSAPPAS – Ondas Sonoras Amplificadas Para Provocar Abalos Sísmicos, modelo Armagedon. O volume é tão alto que abafa quaisquer ruídos à mais de 2 metros do espectador. Sussurros velados, de amantes apaixonados, nos chegam a 98,7 dB. A queda de um alfinete nos faz pular de susto na poltrona. Alguns filmes ajudam a abafar ruídos com as seqüências de explosões, desabamentos, terremotos, perseguições e outros fenômenos ensurdecedores que se prolongam. Certo, a corrida de bigas do Ben-Hur durou 17 minutos. Nos filmes antigos, exibidos no Apolo e no Vitória, cenas de carros acidentados eram filmadas com uma antiga técnica - jogar uma carcaça do perau. Tomadas feitas bem de longe, por uma câmera apenas, tendo o cuidado de, pelo menos, jogar uma carcaça da mesma cor do carro filmado na estrada. Nos filmes americanos os carros sempre explodiam ao cair, mais de uma vez inclusive. Teriam mais do que um tanque de gasolina? Os europeus só perdiam rodas e pedaços ao longo da queda. Aliás, características mantidas até hoje. Só que os orçamentos atuais de Hollywood permitem jogar um Rolls-Royce no despenhadeiro e efetuar tomadas simultâneas, de uns 17 ângulos diferentes. Pena que muitos dos filmes modernos sejam produzidos a partir de uma série de efeitos especiais, ao redor dos quais se tenta montar um enredo. Efeitos especiais são muito bem vindos quando Uma Turman é A Noiva num filme de Quentin Tarantino. Aí vira arte.

Surge defronte a tela um sujeito vendendo mais pipocas.

Paulo Roberto Heuser

6 Comments:

At quarta-feira, 28 junho, 2006, Anonymous Anônimo said...

Really amazing! Useful information. All the best.
»

 
At domingo, 02 julho, 2006, Anonymous Anônimo said...

Your are Nice. And so is your site! Maybe you need some more pictures. Will return in the near future.
»

 
At terça-feira, 18 julho, 2006, Anonymous Anônimo said...

Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
»

 
At quinta-feira, 20 julho, 2006, Anonymous Anônimo said...

Nice! Where you get this guestbook? I want the same script.. Awesome content. thankyou.
»

 
At segunda-feira, 07 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

Here are some links that I believe will be interested

 
At sexta-feira, 11 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

Very best site. Keep working. Will return in the near future.
»

 

Postar um comentário

<< Home