27.4.06

Tirando o Boi do Brete

Tirando o Boi do Brete

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São 11h50, num típico escritório no Centro, num típico dia útil da semana. Uma certa inquietude toma conta de muitos, que passam a conferir o relógio a cada minuto. Quase hora de sair correndo para buscar filhos no colégio? Não, é quase hora de enfrentar o martírio diário do almoço no bufê. Quem há muito o faz, sabe bem o suplício que pode ser um almoço quando se espera em filas para entrar, filas para sentar, filas para se servir e filas para pagar. Claro, esqueci da fila para pegar o elevador. O evento social criado pela fila até que pode ser positivo. Quanta gente não se conheceu nas filas, casou, e hoje curte uma fila acompanhada? Os mais solitários, ou mais sensatos, podem escapar das filas utilizado uma das 5 técnicas básicas: 1) vá muito cedo; 2) vá muito tarde; 3) vá a um lugar que serve comida muito ruim; 4) vá a um lugar muito caro; 5) fuja do Centro, se puder. A combinação da terceira com a quarta é a menos recomendável. Eu já estava há muito convencido de que o melhor é ir cedo mesmo. A comida está fresca, toda arrumada e a sopa de cappelletti ainda não virou mingau. Minha sobrinha, no entanto, acrescentou um argumento irrefutável, ao afirmar: - "Não gosto de comida cuspida". As pessoas falam enquanto se servem. Um grande bufê, na verdade, é uma sofisticada linha de produção, onde entram os mais variados insumos, água, gás, verduras, frutas, legumes, carnes, guardanapos e um, que pode passar despercebido, que é você! Traçando um paralelo tosco com a pecuária de corte, entra boi magro de uma lado, recebe trato e sai boi gordo do outro lado. No meio está o brete. Como na pecuária, o objetivo é fazer com que você engorde o máximo possível, no menor tempo e com menor custo. Há uma ciência denominada Teoria das Filas, que estuda o fluxo das pessoas nos bufês (além de umas outras coisas menos importantes, como os tráfegos telefônico e aéreo). Existe muita controvérsia quanto ao inventor da teoria das filas. Todo mundo sabe quem inventou as filas. Serviços públicos e bufês certamente colaboraram muito. Criar fila é barbada, terminar com ela, sem utilizar métodos heterodoxos (bombas, caminhões desgovernados, etc), é bem mais complicado. O que perturba o andamento do processo de produção (você entrando, comendo, pagando e saindo), é a presença de novatos, não iniciados nos bufês. São pessoas, ainda não condicionadas pavlovianamente, trancando a fila pela total falta de objetividade. Acham que devem provar todos os 97 pratos quentes, 73 frios e as 18 sobremesas. Pedem ao sujeito dos grelhados um pedaço menos ou mais passado. Insistem em tentar ler as plaquinhas, com aquelas letras miúdas.. E o pior de tudo, após chegarem na última cuba, resolvem voltar nove cubas para pegar a azeitoninha. Isto é linha de produção gente, é coisa séria, tudo calculado! Tenha extremo cuidado com bufês instalados em locais que podem abrigar congressos, cursos ou outros eventos. São 11h45, você chegou cedo, serviu apenas uma saladinha, já que não vai enfrentar fila antes das 12h03. Pode servir o prato principal depois. Repentinamente, duas centenas de participantes de um congresso de lutadores de sumô, 93% deles não iniciados em bufês, irrompem porta adentro e criam uma fila instantânea, de dar inveja à marcação de consultas na saúde pública. Aí o seu prato principal sairá lá pelas 15 horas, se algo restar. Corra e compense na sobremesa, já que os primeiros da trupe só chegarão lá em quatro minutos. Cuidado com as pernas das cadeiras viradas, para marcar território, principalmente se o seu prato já estiver servido.

Domingo, 13 horas, a família implorando em coro para almoçar naquele bufê concorrido, você se fazendo de morto. E o Dia das Mães está aí. Pode comprar algum livro com um título que pareça "Elementos de Análise Estatística Estocástica Markoviana". Será bem útil para a mamãe ler enquanto espera.

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Paulo Roberto Heuser

2 Comments:

At terça-feira, 18 julho, 2006, Anonymous Anônimo said...

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At quinta-feira, 20 julho, 2006, Anonymous Anônimo said...

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