431 - A concorrência forânea
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A concorrência forânea
Por Paulo Heuser
No fim, é tudo uma questão de concorrência. Homens e mulheres concorrem entre si, uns pelo amor dos outros, e vice-versa, seja lá o que isto queira dizer. Municípios vizinhos sempre concorreram uns com os outros. Lembro-me da rivalidade histórica entre a minha Santa Cruz do Sul e as cidades vizinhas, algumas nem tanto, como Cachoeira do Sul. Havia rivalidade entre os colégios, entre as bandas marciais e entre os clubes. Daquela época, veio a quase impublicável expressão: “se cagaram para os de Cachoeira!”, após um jogo de basquete no qual o time da Ginástica perdeu para um time de lá.
Nos bailes, a situação também se complicava, quando os “de fora” vinham competir pela atenção das moças. Vinham de Venâncio Aires e de Rio Pardo, vistos como bárbaros invasores, pelos locais. Os da Capital, então, eram vistos como hunos depredadores da fauna local.
No turismo também há competição entre cidades. Gramado e Canela competem com Nova Petrópolis, esta pelos gaúchos, aquela pelos paulistas. Tudo em bom nível, mas que há competição, isto há. Bento Gonçalves entra com o vinho, Garibaldi com o espumante. Ganhamos nós, os alvos da competição.
A competição estende-se também aos estados. Todo mundo leva algo daqui. Indústrias de calçados, beneficiadoras de fumo, montadoras, cantinas, todos vão atrás dos incentivos fiscais oferecidos pelos outros estados. Nós ficamos com a fama, eles com o investimento. Uma questão de concorrência.
Nas praias, perdemos feio. Santa Catarina nos dá de dez a zero, apesar da superlotação de algumas praias, no verão. Porém, como não preferir a Lagoinha, fora de época? O que falar da Bahia, então? Todas aquelas praias de mar morno, oferecendo as mais diversas maravilhas rústicas, como a água de côco e as lagostas. Bobó de lagosta, lagosta no bafo, bafo de lagosta, moqueca de lagosta, pizza de lagosta, arroz-de-leite com lagosta, carreteiro de lagosta, há qualquer prato de lagosta.
A Bahia também nos supera pelas lembranças de viagem. Em Prado, no sul da Bahia, vendem carrancas de madeira de 1,50 m de altura e meio metro de diâmetro. Tão fáceis de trazer, na bagagem de mão, como os berimbaus e as panelas de barro dos pataxós.
Contudo, nada nos supera na ecologia. Nós os mandamos de volta para o mar, mas os baianos vendem os pingüins que por lá aportam. Na sua próxima viagem a Bahia, não se esqueça de comer lambretas – ostras do mangue -, punhetas de anjo – bolinhos fritos -, e de trazer berimbau e pingüim – vivo -, como bagagem de mão.
Marcadores: bahia, pataxó, praia do prado
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