2.7.08

421 - De pelancas e ossos



Foto: Wikipedia
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De pelancas e ossos
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Por Paulo Heuser
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A rapaziada anda se reunindo na casa de alguém para fazer um churrasco. Até aí, nenhuma novidade. Quando eu me incluía nessa faixa etária, a opção pelo churrasco era econômica, antes de tudo. Não havia opção mais barata de cardápio, com exceção do carreteiro. Mas, como carreteiro que se preze leva charque ou carne de churrasco, fazia-se necessário assar primeiro o churrasco, para depois preparar o arroz de carreteiro. As televisões de cachorro com tele-entrega já permitem que se pule diretamente à segunda etapa. Basta encomendar um vazio assado, para obter a matéria prima para o arroz. O que me surpreendeu, mesmo, nos atuais churrascos da rapaziada, foi o cardápio: pizza. Há razões para essa mudança.
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O churrasco era barato porque não havia toda essa frescura de cortes que andam hoje por aí. Assavam-se costelas e alguma carne sem osso, para as madames. Com a picanha, ninguém sonhava. Ela vinha agregada a outro corte qualquer, pois ainda não havia sido tipificada. O carvão não competia em preço com a carne. Ainda não vinha com alça para transporte, tampouco tinha sabor. Do jeito que as coisas vão, em breve teremos butiques carvoeiras, que poderão se chamar charboneries, desde que não sejam confundidas com as sociétés secretes francesas, onde a carne é a caça. Nas charboneries serão degustados carvões diferenciados de madeiras nobres, do picumã de Nectandra megapotamica (canela-merda) até o parfum dos carvões oriundos da queima de velhas pipas de conhaque, de carvalho francês. Tudo era mais simples, a começar pela guarnição: pão. Curto e seco, tal qual a palavra pão.
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O problema com o preço do churrasco foi a exploração na bolsa. Os insumos para o churrasco deixaram de ser mercadorias e viraram commodities. Há especuladores jogando dinheiro na bolsa de commodities. Apostam hoje na sua paleta de amanhã. Aí não tem mais jeito. Quando a costela gaudéria ganha embalagem a vácuo, rotulada côte de boeuf, a vaca brasileira vai para o brejo francês. Lá será exibida em caprichadas bandejas decoradas com cheiro verde. E nós ficaremos a assar mondongo. Ainda não chegamos ao preço deles, mas estamos nos empenhando com afinco. Em breve, entenderemos por que eles não comem tanta carne como nós (comíamos).
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Ontem me bateu aquela vontade de tomar uma sopa. Fui ao supermercado comprar alguns ingredientes, como batatas, cenouras, espinafre, couve e carne. Procurei pela autêntica carne para sopa, daquelas que são formadas por pelancas e ossos. Nada melhor para preparar um bom caldo básico, após uma hora de fervura. Saí apavorado. O que havia de mais pelancudo, e ossudo, custava R$ 9,35 por quilo! Após remexer toda prateleira das carnes, mudei de setor. Fui à peixaria. Mudei a receita para a sopa de lagosta. Sai bem mais em conta. Elas ainda não são commodities. Sai muito caro cozinhar sopa de commodities!
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