1.7.08

420 - Ressurreições

Eniac - Foto: Wikipedia
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Ressurreições

Por Paulo Heuser


Pipocam daqui e dali notícias que dão conta da ressurreição de algo ou de alguém. As bolachas de música foram enterradas pelos CDs e DVDs. Na verdade, nunca morreram. Alguns fanáticos continuaram mantendo seus equipamentos em ordem, dando vida adicional ao vinil, que ainda pode ser encontrado nas lojas especializadas. A indústria fonográfica já decretou a morte dos CDs e DVDs, ultrapassados pelos MP alguma coisa. A pirataria tomou conta de tudo. Enquanto a velha bolacha mantém sua qualidade musical inalterada, as novas tecnologias digitais comprimem os arquivos musicais até o limite da perda do timbre. Pavarotti e Ney Matogrosso acabarão com a mesma voz. Essa devastação musical faz com que o vinil retorne, não apenas em forma de velhos álbuns, como também em lançamentos.

Na área dos alimentos, antigas cozinheiras são retiradas da aposentadoria. Elas dominam o segredo da comida feita a partir de ingredientes básicos, sem processamento industrial. Elas sabem preparar o caldo de carne feito a partir de carne. Coisa surpreendente, na era dos tabletes. Elas também sabem temperar com apenas uma fração do sódio embutido nos ingredientes industrializados. Não utilizam corantes, essências nem aromatizantes. O resultado final é surpreendente: pratos que diferem em gosto, um do outro, e têm gosto daquilo que se propõem a ser. O peixe tem gosto de peixe, a galinha tem gosto de galinha e a carne de porco tem gosto de carne de porco. Só não espere ver essas cozinheiras trabalhando num rodízio. Elas passam ao largo.

Na minha profissão – informática -, os profissionais que atuam com os computadores de grande porte (mainframes), são chamados de dinossauros, em alusão ao tamanho dos equipamentos e à iminente extinção, que ainda não ocorreu. Ouço falar dela desde os anos 80. Contudo, nunca chega. A profecia levou ao fim dos cursos de formação dos analistas e programadores que utilizam tal tecnologia, muito diferente daquela empregada nos microcomputadores. É certo que os mainframes diminuíram em número, mas a razão não tem tanto a ver com a sucessão tecnológica na direção da microinformática. Na verdade, quem está sumindo são as empresas que empregam mainframes, grandes indústrias e bancos. A fusão dessas grandes empresas concentra as áreas administrativas. As empresas resultantes das fusões empregam computadores cada vez maiores, porém em menor número. É certo também que novas empresas dificilmente partirão do zero utilizando mainframes. Eles são caros demais, para quem inicia, além de demandarem pessoal que não é tão fácil de se encontrar no mercado. Algumas universidades norte-americanas perceberam que o nicho de mercado dos mainframes não sumiu. Estão recriando disciplinas de programação para mainframes. As aulas são ministradas por professores que utilizam andadores e aparelhos auditivos. Ah, e giz.

Alguns caçadores de talentos andam atrás de profissionais que haviam perdido muito destaque, nos últimos anos. Eram os reis, nas empresas. Ninguém lhes fazia sombra. Eram os economistas, que ocupavam os cargos de gerentes financeiros. Só eles sabem como fazer uma empresa dar um lucro danado sem produzir absolutamente nada, como nos velhos tempos da inflação. Os preços não interessavam muito, o importante era o prazo. Receber antes, pagar depois. Essa arte foi esquecida. Os MBAs não ensinam isso.


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