19.10.09

557 - Plutônio-168


Fonte: Wikipedia
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Plutônio-168

Paulo Heuser

Levou 37 anos, mas, aconteceu. Demolélio encontrou um livro, O despertar dos deuses, do finado Asimov. Em primeiro lugar, faz-se necessário apresentar o Demolélio, já que ele vive em um universo paralelo ao nosso. Parece confuso. Porém, é muito mais confuso do que parece. Em poucas palavras, ele é o um ex-descendente dos representantes de uma antiga ONG, os Pobres Cavaleiros do Rei Salomão, também conhecidos pelas designações Pocaresa e Templários. Pois bem, esses cavaleiros eram mercenários para lá de ricos, até que endividaram um político importante, o tal de Guilherme de Nugget. O sujeito não deixou por menos e conseguiu que o manda-chuva, chamado Clemente Vê, nada clemente, terminasse com a ONG medieval. Depois disso, os sobreviventes da confraria se esconderam. Guardavam segredos milenares. Conta a lenda urbana que os Pocaresas escondiam um objeto fantástico, um cálice sagrado.

Demolélio caiu na mão de agiotas e ficou na mesma situação do Nugget, quebrado. Como não havia mais Clemente, teve uma idéia, coisa de empreendedor. Comprou uma xícara pavorosa, numa loja de 1,99 e tentou vendê-la aos confrades, que até então procuravam a famosa porcelana. A situação era embaraçosa, a ONG havia perdido a xícara, em algum momento do passado. Contudo, ele não contava, nem com a presbiopia, nem com a marca da xícara. Qual foi o idiota que colocou marca numa xícara de 1,99? A marca estava ilegível, mas, lia-se claramente made in Biguaçu. Desmascarado, Demolélio vê-se na rua, ninguém mais lhe dá emprego ou ajuda. Os Pocaresas continuam procurando pela xícara e todo mundo acredita que eles a têm.

A rua fez um estrago considerável no semblante do ex-cavaleiro de Salomão. Barba e cabelos se misturam num emaranhado que só pode ser definido como pêlo. O sorriso lembra uma ficha de compensação, puro código de barras.

Demolélio revirava uma lixeira, lá pelo Bonfa, quando encontrou o livro. Trinta e sete anos após a publicação, os olhos embaçados devoravam as páginas de uma história estranhíssima. Seria melhor não aumentar a confusão, mas é necessário. Em mais umas poucas palavras, alguém trocou uma amostra de tungstênio-168 por uma de plutônio-168, num laboratório. Rarará, dirão, plutônio-168 nem existe! É verdade. Qualquer um sabe disso. Além de não existir, não pode ser obtido, nem pela transmutação por decaimento. O personagem, Dr. Hallan, logo conclui o óbvio, aquela amostra veio de um universo paralelo. Em pouco tempo, alguém tem a idéia de construir um dispositivo que troca o estável tungstênio-168 pelo instável, portando físsil, plutônio-168. O que é estável aqui, torna-se instável lá, e vice-versa. O que parece uma fonte inesgotável de combustível nuclear, na verdade, mostrar-se-á como um esquema que levará à destruição de ambos os universos.

Demolélio coça os pêlos da cabeça. Ele vive em um universo paralelo, que não é o mesmo daquela bela mulher que passa correndo ao lado dele, fazendo jogging, sem vê-lo. O código de barras do sorriso dela não tem barras, só brancos. Aquele livro o fez lembrar que outro mundo existe. O que acontecerá, quando interagir com o seu, ele já sabe. Destruir-se-ão, mutuamente. É puro plutônio-168. Confuso, porém, físsil prá caramba!

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