28.7.08

433 - De galinhas e dromedários


Foto: Wikipedia
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De galinhas e dromedários

Por Paulo Heuser


Ontem estive num supermercado, no Interior, onde havia degustação de lingüiça, ofertada por uma bela e gentil demonstradora. Passei, pois achei meio esquisito comer lingüiça às 8h30. Se fosse às 09h00, quem sabe? Passei, mas não pude deixar de observar a curiosa reação de uma mulher, ao descobrir do que era feita a tal da lingüiça. Após aprovar o sabor, ela arriscou vários palpites a respeito da procedência da carne da lingüiça. Carne de porco, de bovino, de ovino, de frango, de papelão e serragem temperados? Nada. A moça sorria, divertida com a charada. Como a mulher não adivinhava, ela deixou escapar uma pista:

- Vem da Austrália...

A velha senhora estacou, no limiar entre o engasgo e o arremesso do último pedaço da lingüiça, já submetido a tritura pela chapa. Ela ficou imóvel, por alguns instantes, enquanto tentava digerir a informação que recebera. Da imobilidade, passou a ação, descabida, exagerada e desproporcional. Cuspiu o último pedaço da lingüiça, que passou zunindo pela orelha da então apavorada demonstradora. Quase que a chapa foi atrás, impedida no último instante pelo bote certeiro da língua. Subitamente, o rosto da velha senhora tornou-se rubro, e as pestanas ergueram-se, enquanto ela gritava:

- Que nojo! Como é que podem servir lingüiça de carne de canguru?

- É de avestruz, senhora! – tentou remendar.

- Que nojo, mais ainda! Ela mete a cabeça no buraco, para se esconder, e vocês vêm e “Schnnnitt!”, cortam o pescoço dela. Dito isso, ela seguiu, indignada, enquanto repetia o que nojo, ainda mais ainda.

A moça restou parada, com ar de desalento. Aparentemente, não era a primeira vez que ocorria algo semelhante.

- Por que você não os avisa antes, da origem da carne?

Acabei provando da lingüiça, que se mostrou muito saborosa, apesar de serem apenas 08h32.

- Se eu os aviso da procedência, ninguém prova dela! Ficam com nojo. – o ar de desânimo ficou patente.

Veio-me a lembrança o ditado: “Dos aviões e das lingüiças, melhor não saber do que são feitos!”. Prova-se verdadeiro, novamente. A bela jovem parecia tão desamparada, frente ao seu estoque de lingüiças refugadas, que resolvi ajudá-la.

- Por que você não diz que as lingüiças são feitas com a carne da Struthio camelu – nome científico da avestruz -, ave da Oceania, obtida a partir da cruza de galinhas com os raríssimos dromedários de duas corcovas?

Ela pareceu animar-se um pouco. E não é que deu certo? Várias pessoas provaram da lingüiça, e nenhuma cuspiu. Gostaram do tal do Strudel de camelo - como um homem alto e magro denominou a iguaria. Áustria, Austrália, que diferença faz? Mudam apenas duas letras. E uma corcova.

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3 Comments:

At quarta-feira, 30 julho, 2008, Blogger José Elesbán said...

POis é. eu tinha ouvido algo sobre Bismarck ter dito que as pessoas não deveriam saber como eram feitas as leis e as salsichas. Linguiça dá para tratar como salsicha...

 
At quarta-feira, 30 julho, 2008, Blogger Paulo Roberto Heuser said...

Poi Zé, a diferença entre uma lingüiça e uma salsicha é apenas uma questão de moagem.

 
At quarta-feira, 30 julho, 2008, Blogger José Elesbán said...

:)

 

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