15.9.08

462 - O pior dos tormentos

Foto: Wikipedia

O pior dos tormentos

Por Paulo Heuser


Dizem por aí que um lugar para experimentar os piores tormentos imagináveis é a prisão de Guantánamo. Pode ser, mas não é o único. Há locais onde um homem pode sofrer muito, pelo menos no aspecto psicológico. São as lojas de roupas femininas.

Para começo de conversa, dificilmente um homem entra numa loja de roupas femininas para comprar alguma coisa. Ele entra para acompanhar as mulheres em compras. Então surge a diferença comportamental entre os dois sexos originais, aqueles do tempo de Adão e Eva. Nos casais de Adão e Ivo, não sei como os Ivos se comportam nas compras, mas presumo que se assemelham às mulheres.

Quando um homem entra numa loja de roupas para comprar uma camisa branca – eles sempre entram tendo em mente o que querem comprar -, pede uma camisa branca, e especifica o tipo de camisa e o número. Se a camisa tem etiqueta de marca conhecida, o homem pula a fase do provador, pergunta o preço, paga e vai embora. Isso leva por volta de 10 minutos, incluído aí o tempo necessário para se convencer o vendedor de que não queremos comprar calças, sapatos, meias, pijamas, gravatas e outros itens. Queremos uma camisa branca, e não queremos fazer o cartão da loja.

Quando uma mulher entra numa loja para comprar uma blusa branca, ela vai aos shoppings, pois as lojas fora deles não apresentam o mesmo tumulto. A mulher pára em todas as lojas que há antes da loja de roupas, pois sempre há algo interessante na vitrine. Lojas de roupas femininas não têm balconistas, já que não há mais balcões. Há apenas araras e cestos, de modo que as clientes possam se servir à vontade. O espaço entre as araras delimita o caminho que a loja deseja que a cliente faça. Esta pára a cada arara, remexendo em meio às dezenas de roupas. Os provadores estão localizados no fundo da loja, de modo que as clientes só conseguem chegar lá após passarem, senão por todas, pela maioria das araras. Os caixas são ilhas cercadas por expositores de acessórios por todos os lados. Já que ficarão na fila, por que não escolhem um relógio de pulso, ou óculos de sol, enquanto esperam?

Vem a fase do arrependimento, quando elas percebem que escolheram roupas ou acessórios que não combinam entre si ou com qualquer outra coisa que têm em casa. Deixam as mercadorias e saem da loja. Isso não toma mais do que duas horas e meia, incluídos aí os 25 minutos para encontrarem vaga nos estacionamento. Na saída vêem que a loja de sapatos está com ofertas imperdíveis. Por que o único número que está em falta é sempre o delas? Por que não há aquele modelo da fivela sem a fivela? Paciência, pois há outras lojas antes da saída para o estacionamento, e o shopping só fecha às 22 horas.

Quem faz o leiaute das lojas de roupas femininas não deixa espaço para os homens. Não há onde se possa ficar parado, em meio àquele caos, sem atrapalhar as mulheres que andam de arara em arara. Quando elas somem no provador, aí mesmo que aquilo vira um tormento. Demoram, demoram e demoram. Enquanto isso, os homens tentam se distrair, de alguma forma. Qual forma? Vale tudo, desde o joguinho do celular até José Saramago. Tampouco há lugar onde se possa sentar. Loja esperta colocaria um pub com sinuca e telão para os homens esperarem pelas mulheres em compras. Quereriam voltar sempre.

Faltou algo. A mulher que foi comprar a blusa branca percebe, quando chega ao estacionamento, que se esqueceu de comprar a blusa branca.

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