20.6.06

Meu Oásis

Meu Oásis

Aos sábados ocorre a tradicional migração dos siris urbanos aos shoppings. Deve ser algum tipo de maré urbana. Estacionamentos apinhados, corredores congestionados e praças de alimentação lotadas com gente que opta pela comida rápida (fast food). Comida rápida gaudéria é o espetinho de gateteto ao primo miado, assado em meio-tonel, exalando um aroma irresistível. MeCêMiau, para concorrer com aquele grupo vindo do norte, da terra do Bill. Em São Paulo há uma comida rápida, de origem helênica, o churrasquinho grego. Conhecido como Gyros, na Grécia e kebab, na Turquia. A versão paulistana de rua é preparada com carne de terceira, já que de quarta não há, enrolada em um cilindro e assada até que a gordura, predominante, amacie o composto, ninguém sabe bem do quê. Servido na rua, entre fatias de pão, como sanduíche, com um molho apimentado, para disfarçar algum eventual gosto estranho. E não é que abriram uma casa de churrasquinhos gregos finos, a MisterGyros? Aí perde a graça, a carne tem procedência insuspeita,o molho é o de iogurte e o assador tem dentes. Por que não criar aqui o SenhorGatos para concorrer com as comidas rápidas ao norte do Rio Uruguai? Primeira franquia da autêntica comida rápida dos pampas. Essencial para o sucesso do empreendimento é a qualidade da carne, com muito sebo. Acompanha caldo de cana maturado. Para aromatizar, fogo aceso com óleo queimado. Deixando de lado as comidas rápidas, retornamos aos hábitos de sábado. Como sou diferente – caminho no sentido horário, no Parcão -, minha prole tende a ser um pouco diferente também. Optamos pelo Mercado Público, aos sábados. Por que aos sábados? Porque temos tempo e o Mercado não pode ser visitado com pressa. Melhor se for à tarde, pois há estacionamento no Largo Glênio Peres e menos gente nos corredores. À tarde os preços dos hortifrutigranjeiros (ufa!) caem, pechinchando dá para fazer ótimos negócios. A mulher faz uma cara um pouco estranha quando chego triunfante com o cacho inteiro de bananas e o saco de 20 kg de rabanetes, comprados de barbadinha. Sempre dá para fazer doce de banana e sorvete de rabanetes. Deste não dou a receita, pois não a tenho, ainda. A primeira parada, no interior do mercado, é uma casa que vende granola e coisas secas. Para quem gosta, e tem coragem, de comer wasabi – raiz forte japonesa -, ali se encontra em pó. Em seguida, pistache para a filha. Após uma conferida nas peixarias, hora de ir ao centro da questão, e do Mercado. Ali se concentram os parques temáticos gastronômicos. Temperos e ingredientes em geral, exóticos ou de Dois Irmãos, trazem a culinária do mundo a Porto Alegre. Há bacalhau Porto ou, pelo menos, do lado do porto. Lá se encontra o legítimo pão alemão tipo Pumpernickel. Este pão exige certos cuidados, no transporte e no consumo, devido a sua peculiar consistência, semelhante à do concreto. Não é produto para quem usa mobília (a da boca). Quedas acidentais podem causar estragos consideráveis. O pão Pumpernickel da Vestfália, redondo e pré-cortado, com serra de diamantes, é tão denso que Ludwig II da Baviera, O Louco, o utilizou nas fundações do Castelo de Neuschwanstein, de pé até hoje. Embutidos artesanais e queijos de qualquer procedência, tudo se concentra nessa área do Mercado. Vai fazer um molho pesto alla Genovese? Nessas bancas encontrará manjericão fresco, pinoles e queijo pecorino. Mais algumas sacolas e podemos sentar para uma salada de frutas com nata ou uma bomba Royal. Refeitos, vamos pechinchar, do lado de fora, nas bancas informais de frutas e verduras. Ali tudo custa um real, inclusive o caixote da banca. Após as 17 horas o preço do quilo de qualquer coisa cai para 50 centavos. Nesse momento é hora de largar as sacolas no carro para entrar de mãos livres na banca de vinhos. Lá podemos escolher vinhos de todo o mundo e todos os preços. Varietais especiais da Serra Gaúcha também tem seu lugar de destaque. Bem como os vinhos para sagu, de garafón. Há um espumante de Linha Pinto Bandeira, novamente distrito de Bento Gonçalves, que se sobressai entre outros. Bom como os franceses por muito menos. Linha Pinto Bandeira é a versão gaúcha da Alsácia e da Lorena. Como na Guerra Franco-Prussiana, ao lá acordar, olha-se para a bandeira na prefeitura (ex-prefeitura atualmente), para saber a quem pertence. Bento é o dono do momento. Pouca gente sabe, mas Porto Alegre tem alguns Oásis. O Mercado Público é um dos meus. Alguém aí tem alguma receita de sorvete de rabanete? O cachorro ainda não conseguiu se adaptar à nova dieta.

Paulo Roberto Heuser

3 Comments:

At quarta-feira, 21 junho, 2006, Anonymous Anônimo said...

Que filha chique hein! Comendo pistache? hehe
Muito boa a crônica.
Ainda não visitei o mercado de São Paulo, será que é parecido com o de Porto?
=)

 
At sexta-feira, 11 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

Great site loved it alot, will come back and visit again.
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At quarta-feira, 16 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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