18.6.06

Nanotecnologia

Nanotecnologia

Que a física é coisa para loucos todo mundo sabe. Loucos e mal pagos ainda por cima. Não é de se admirar que minguam os formandos nos cursos de física. Por quê? Porque é difícil? Porque utiliza a matemática como linguagem para demonstrar os fenômenos físicos? Talvez. A própria matemática tem áreas complicadas, como os cálculos diferencial e integral e a álgebra linear. Lembro de uma professora de cálculo, jovem e muito bonita, bem falante e com didática perfeita, fazendo desenhos de cônicas no quadro negro. Olhei para aquela cena e pensei, comigo mesmo, o que teria levado aquela menina a ser professora de cálculo? São estranhos os desígnios do Senhor. Ela estava longe do esteriótipo do professor de cálculo. Tão longe como eu estava do esteriótipo do aluno de cálculo. Após apanhar durante um ou mais semestres para lograr aprovação em Cálculo I, os aprovados deixam os Campi com aquele olhar confiante de triunfo no rosto, de quem venceu, é um dos Eleitos. Passadas as férias, toda aquela confiança se vai, nas primeiras aulas de Cálculo II, ao descobrir um prolongamento do inferno, agora em três dimensões. Findo outro semestre, os sobreviventes gritam de alegria: “cálculo nunca mais!”. Não perdem por esperar a primeira aula de equações diferenciais. Agora o monstro cria vida e temos de ir tirando as casas do caminho dele. Os alunos das ciências exatas e da terra sofrem bastante com essas disciplinas. O que me deixa mais espantado nesta história é o fato de que Newton (Principia, 1687), Leibniz (Acta Eruditorum, 1684) e Bernoulli (1705) – pais do cálculo - escreveram seus trabalhos faz mais de 300 anos! Com parcos recursos de pesquisa. Após mais de três séculos ainda apavora estudantes do século XXI. “Eles enlouqueceram, estão multiplicando letras!” - exclamou um colega. Desde a reforma do ensino deixou-se de estudar introdução ao cálculo no ensino médio, então segundo grau.
Na física não é muito diferente. Apesar de todo mundo conhecer Newton, na mecânica clássica, no ensino médio, a física moderna fica fora dos currículos. E=mc2 é a equação mais conhecida do mundo, do Ushuaia até a Groenlândia. Ao mesmo tempo, seu significado é quase que desconhecido. Convertendo a cruzados novos, significa que podemos extrair enorme quantidade de energia ao fracionarmos átomos. A fissão (quebra) dos átomos contidos em um grama de U235 (urânio enriquecido) libera energia equivalente àquela liberada pela queima de mais de uma tonelada de carvão. Os estudos de Michelson-Morley (1887) e Albert Einstein (1905) abriram caminho para a exploração da energia atômica. Faz mais de 100 anos. O desconhecimento de princípios físicos básicos, como a conservação da massa, da energia e do movimento, facilita em muito a vida dos produtores de filmes cheios de “defeitos especiais”. Este mesmo desconhecimento facilita a venda de produtos milagrosos, como cristais e outras coisas que “emitem energia”, sem recebê-la em outra forma. Se for verdade mesmo, certifique-se de que não são radioativos, ou seja, emitem energia decorrente da transmutação (transformação de um elemento químico em outro). Cobalto e césio emitem energia que podemos absorver, mas não queremos, em situações normais. Na prática não há muito perigo - os materiais radioativos que podem causar danos biológicos importantes são muito mais caros do que os materiais miraculosos. Estes são placebos, provocam efeitos psicossomáticos decorrentes da fé neles. A ignorância em física se torna mais importante no que diz respeito à mecânica quântica. As leis da física clássica, ensinada no colégio, nem sempre se aplicam àquela. Para complicar mais o problema surgiu a nanotecnologia, que cria aplicações, em diversos ramos da ciência, para os fenômenos que cercam coisas de tamanho medido em bilionésimos de metro. Elementos e substâncias que apresentam determinadas características físicas no mundo macro, apresentam outras no mundo nano. O ramo de aplicações da nanotecnologia é enorme, especialmente nas áreas de materiais e medicina. Nesta ciência há muita esperança no desenvolvimento de novas técnicas de tratamento do câncer sem dano aos tecidos saudáveis. Não se espante se, em poucos anos, o presente de Natal preferido for um par de botas e luvas para escalar paredes, feito lagartixa. Mestres, voltai aos bancos escolares!

Paulo Roberto Heuser

2 Comments:

At sexta-feira, 11 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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At quinta-feira, 17 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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