Constantinopla Não Caiu
Publicada pelo jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul, em 20/06/2006, coluna Opinião:
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Constantinopla Não Caiu
Lendo os jornais da manhã (expressão do tempo que os havia também à tarde), imaginei algum repórter daquela afamada revista masculina correndo atrás da loira da demolição da Câmara Federal. Daria a capa perfeita para um dos próximos números. Assim como no passado o foram a fogueteira da copa e a caminhoneira não me recordo do quê. Seria a do MST? Imagine, ela na capa brandindo uma barra de ferro com concreto na ponta, mostrando a bela tatuagem, enquanto destrói um computador? Arriscando uma pequena paródia de Para Não Dizer Que Falei de Flores, do genial Geraldo Vandré: decididos cordões fizeram da tatuagem seu maior refrão, acreditando na loira vencendo o canhão . A invasão a Câmara Federal conseguiu obscurecer até a cobertura, pela imprensa, das bolhas do Ronaldo, às portas da Copa! Quem ainda se lembra das ambulâncias? Coisas de um passado longínquo, mais de uma semana, com certeza. Sempre procuro buscar paralelos aos fatos do cotidiano na história ou na literatura. Acredito nas funções periódicas que levam a história a se repetir, adaptada aos tempos. O cinema americano reduz progressivamente o período desta função. Em breve deverão lançar o Código da Vinci 3. O 2 não ficará pronto à tempo. Fiquei tentado a comparar a invasão da Câmara Federal com a Tomada da Bastilha. Não deu certo, pois lá foi o povo urbano, aqui foram os campesinos. A Queda de Constantinopla (1453), capital do Império Bizantino, quem sabe? Vejo dois grandes senões: primeiro, nossa capital do Novo Império Bizantino não caiu. Segundo, o tal de Maranhão não faz jus à figura do glorioso Maomé II cavalgando seu corcel branco. Este, a titulo de esclarecimento, é um cavalo, não é um carro velho. Tanto não faz jus que foi preso e nossa Nova Constantinopla retomada. O resto até que combina razoavelmente bem. Veja o caso do automóvel vermelho, mimo que seria sorteado entre os patrícios neobizantinos, utilizado pelos exércitos invasores como aríete contra os portões da Nova Constantinopla. Pesa em torno de 800 kg, apenas um pouco a mais do que os 550 kg de peso das balas do terrível canhão turco que pôs abaixo a amurada da Constantinopla original, hoje Istambul. No poder de destruição, se igualaram. A fúria mostrada pelos 537 campesinos ou não, ao adentrar muros, comparou-se àquela mostrada pelos 70.000 soldados de Maomé II. Atrás dessas tropas aguardavam mais 50.000 soldados, estes de elite. Para a sorte e felicidade dos neobizantinos, o que seguiu Maranhão foi a Polícia. Graças ao Aldo, que se rebelou, e fez o que Constantino XI não conseguiu, expulsar os neo-otomanos. Ah, que infame trocadilho! Ao olhar para nosso dublê de Maomé II, o vejo também como um personagem da literatura, uma espécie de Dom Quixote que faz estragos. O vizinho do Dom Quixote (o de Cervantes), Sancho Pança, foi um agricultor engambelado pela conversa delirante do cavaleiro. Assistimos às andanças de Dom Quixote e 536 Sanchos Panças, importados das mais distantes e variadas terras. Maranhão se vê como um subcomandante Marcos do EZLN – Exército Zapatista de Libertação Nacional. Pelo menos a logística foi semelhante. No México, em 1994, e na Nova Constantinopla, em 2006, foram de ônibus. Toda aquela gente recolhida ao estádio Nilson Nelson lembrava o Estádio Nacional, na Santiago do Chile de Pinochet, só que de lá muitos não saíram, vivos pelo menos. Não chega a ser segredo o nível de (im)popularidade do Congresso Nacional. Há uma forte campanha, a favor do voto nulo, visando renovar o plantel da casa. Após a invasão da Câmara dos Deputados, talvez caia a ficha de Suas Excelências. O que acontecerá se tentarem mostrar serviço, a qualquer custo, às portas de eleição? Se toda essa lambança que aí está foi feita enquanto ocupados com seus folguedos de autofagia, do que serão capazes quando descobrirem o Brasil? Bem, mudemos de assunto, vamos à Copa do Mundo.
Paulo Roberto Heuser
Lendo os jornais da manhã (expressão do tempo que os havia também à tarde), imaginei algum repórter daquela afamada revista masculina correndo atrás da loira da demolição da Câmara Federal. Daria a capa perfeita para um dos próximos números. Assim como no passado o foram a fogueteira da copa e a caminhoneira não me recordo do quê. Seria a do MST? Imagine, ela na capa brandindo uma barra de ferro com concreto na ponta, mostrando a bela tatuagem, enquanto destrói um computador? Arriscando uma pequena paródia de Para Não Dizer Que Falei de Flores, do genial Geraldo Vandré: decididos cordões fizeram da tatuagem seu maior refrão, acreditando na loira vencendo o canhão . A invasão a Câmara Federal conseguiu obscurecer até a cobertura, pela imprensa, das bolhas do Ronaldo, às portas da Copa! Quem ainda se lembra das ambulâncias? Coisas de um passado longínquo, mais de uma semana, com certeza. Sempre procuro buscar paralelos aos fatos do cotidiano na história ou na literatura. Acredito nas funções periódicas que levam a história a se repetir, adaptada aos tempos. O cinema americano reduz progressivamente o período desta função. Em breve deverão lançar o Código da Vinci 3. O 2 não ficará pronto à tempo. Fiquei tentado a comparar a invasão da Câmara Federal com a Tomada da Bastilha. Não deu certo, pois lá foi o povo urbano, aqui foram os campesinos. A Queda de Constantinopla (1453), capital do Império Bizantino, quem sabe? Vejo dois grandes senões: primeiro, nossa capital do Novo Império Bizantino não caiu. Segundo, o tal de Maranhão não faz jus à figura do glorioso Maomé II cavalgando seu corcel branco. Este, a titulo de esclarecimento, é um cavalo, não é um carro velho. Tanto não faz jus que foi preso e nossa Nova Constantinopla retomada. O resto até que combina razoavelmente bem. Veja o caso do automóvel vermelho, mimo que seria sorteado entre os patrícios neobizantinos, utilizado pelos exércitos invasores como aríete contra os portões da Nova Constantinopla. Pesa em torno de 800 kg, apenas um pouco a mais do que os 550 kg de peso das balas do terrível canhão turco que pôs abaixo a amurada da Constantinopla original, hoje Istambul. No poder de destruição, se igualaram. A fúria mostrada pelos 537 campesinos ou não, ao adentrar muros, comparou-se àquela mostrada pelos 70.000 soldados de Maomé II. Atrás dessas tropas aguardavam mais 50.000 soldados, estes de elite. Para a sorte e felicidade dos neobizantinos, o que seguiu Maranhão foi a Polícia. Graças ao Aldo, que se rebelou, e fez o que Constantino XI não conseguiu, expulsar os neo-otomanos. Ah, que infame trocadilho! Ao olhar para nosso dublê de Maomé II, o vejo também como um personagem da literatura, uma espécie de Dom Quixote que faz estragos. O vizinho do Dom Quixote (o de Cervantes), Sancho Pança, foi um agricultor engambelado pela conversa delirante do cavaleiro. Assistimos às andanças de Dom Quixote e 536 Sanchos Panças, importados das mais distantes e variadas terras. Maranhão se vê como um subcomandante Marcos do EZLN – Exército Zapatista de Libertação Nacional. Pelo menos a logística foi semelhante. No México, em 1994, e na Nova Constantinopla, em 2006, foram de ônibus. Toda aquela gente recolhida ao estádio Nilson Nelson lembrava o Estádio Nacional, na Santiago do Chile de Pinochet, só que de lá muitos não saíram, vivos pelo menos. Não chega a ser segredo o nível de (im)popularidade do Congresso Nacional. Há uma forte campanha, a favor do voto nulo, visando renovar o plantel da casa. Após a invasão da Câmara dos Deputados, talvez caia a ficha de Suas Excelências. O que acontecerá se tentarem mostrar serviço, a qualquer custo, às portas de eleição? Se toda essa lambança que aí está foi feita enquanto ocupados com seus folguedos de autofagia, do que serão capazes quando descobrirem o Brasil? Bem, mudemos de assunto, vamos à Copa do Mundo.
Paulo Roberto Heuser
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