23.5.06

Inominável, O Filme

Inominável, O Filme

Ao deixar o Túnel da Conceição, sumido o chiado saindo do rádio do carro, ouvi um pedaço de anúncio que dizia: “...é isto mesmo, apenas 19 prestações de R$ 699,99 numa plasma...” (sic). Traduzindo de paulistanês mercadológico para português, consegui entender que se tratava de oferta de uma TV plasma. A venda dessas TVs deslanchou, por conta da copa. Alguns compradores devem estar se preparando para assistir, em DVD, ao filme da moda, o Cdg d Vnc, baseado no livro homônimo, de Dn Brwn. Não esqueci das vogais, apenas não consigo mais ouvir esses nomes, nem pronunciá-los, estão em tudo que se lê, se vê ou se ouve. Podemos chamar o filme, temporariamente, de Inominável. Nada relacionado ao demo. Apenas para não repetir aquele outro nome. Sem entrar nos méritos literário, religioso, mercadológico e oportunista, imagino o que está acontecendo com o lançamento do Inominável. Como outras tantas filmagens, baseadas em livros, acaba agradando quem não leu a obra literária. Ou não, como diria um dialético apressado. O resultado da leitura de um livro é único e pessoal, fruto da combinação do que está escrito com o que nossa imaginação produz, esta ainda influenciada pelo ambiente. A tradução dos livros já é uma fonte de interferência, pois dependemos do tradutor encontrar correspondência perfeita na nossa língua. No caso das filmagens, ficamos nas mãos de quem adapta a obra, considerados diversos aspectos, inclusive os econômicos. A imaginação não tem limites, a realidade os tem, mesmo a virtual. Sonhar e imaginar não custa nada, tentar passar o sonho aos outros, através de imagens, pode ter um custo insuportável. Isto que o filme pode contar com a trilha sonora. Fui um devorador dos livros de Frank Herbert (1920-1986) da saga Duna. Após ter lido os seis livros da série, combinações singulares de ficção científica, filosofia, religião, política e ecologia, fiquei muito feliz com o anúncio do filme Duna (1984), dirigido por David Lynch - outra boa nova. A decepção foi inevitável, como comprimir aquelas 676 densas páginas num filme? O fracasso de bilheteria, nos EUA, foi atribuído ao fato de Lynch ter criado um filme de ficção científica, esquecendo dos demais aspectos, principalmente dos filosóficos, religiosos e políticos. Uma obra bem feita, com bom elenco, boa fotografia e direção, não fazendo jus ao livro, apenas isto. Neste caso, quem não leu, pelo menos o primeiro livro – Duna, não entendeu nada. Viu um filme bonitinho de ficção científica. Quem o leu, teve de complementar, com a memória da leitura, lacunas imperdoáveis do filme, além de um desvio horrível, da trama original, no final. Uma praga que assola muitas filmagens de obras literárias é o tamanho destas. Não tem como comprimi-las a partir de certo ponto, só dá para cortar passagens. Aí caem no lugar comum ou ficam incompreensíveis. Ainda não assisti ao Inominável, apenas li o livro. Vou assisti-lo depois que baixar a poeira e a mídia esquecê-lo um pouco. O Dn Brwn coloca o leitor num liquidificador teológico-geotemporal, feito uma máquina de pinball. É de ficar zonzo, como numa montanha-russa. Quando nem havia assimilado ainda alguma quebra de dogma, outras se seguiam de roldão. O livro as trata de forma tão natural, e óbvia, que me senti o último idiota do mundo - ãããh, só eu não sabia... Faltou alguém como Frederick Forsyte para costurar aquela trama toda. Por isso, não espero muito do filme. Distração apenas. Pena que não tenho “uma plasma”, assim meu Louvre, na tela grande, não teria cheiro de pipocas. Ocorreu-me uma idéia agora, de fazer umas continhas aqui. Vejamos, paguei R$ 25,00 pelo meu Cdg d Vnc, na Feira do Livro, do ano passado. Mais R$ 5,50 por um acarajé e um suco de graviola. O transporte, não vou contabilizar - a excelente exposição no Margs, durante a Feira, compensou o custo. Ficamos então com um custo de R$ 30,50 - o que dá, aproximadamente, 2,5416666666666666666666666666667 (conta de açougueiro) ingressos de cinema, sem acrescer nestes os custos com estacionamento, pipocas e pastilhas de magnésia. Magnésia para quê? Para controlar meus ataques de gastrite, provocados pela irritação com cheiros e ruídos, inerentes à tela grande. Pensando melhor, e considerandos que posso comprar um livro, comer um acarajé e tomar um suco de graviola, a cada exatas 2,54 vezes que for à tela grande, vou esperar para assistir na TV por assinatura. Talvez o penteado do Tom Hanks pareça menor. Posso também arrumar cinco seguidores e confeccionar placas de protesto com: “Plasma é Blasfêmia!”.

Paulo Roberto Heuser

4 Comments:

At domingo, 28 maio, 2006, Anonymous Anônimo said...

Ah....Paulo....o filme....não ficou tão ruim assim...
Certamente(mãe de cineasta)sou suspeita pra falar....sendo cinefila...assumida.
Cada criador...mesmo que adaptando um livro...bomou ruim...vai colocar a sua ótica e os seus motivos o levarão a mudar algo ou tudo...
mas....quem leu o livro...vai poder apreciar todas as diferenças...e criar motivações proprias para gostar ou detestar cada aventura.
Per

 
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