22.5.06

Minhocão do Pançudo

Minhocão do Pançudo

Monstros mitológicos povoam o folclore de todos os povos. A relação é enorme, Yeti, Pé Grande, Chupa-cabra, Boitatá, Grifos, Dragões, Quimeras, Minotauro, Ciclope, Hidra e muitos outros. Nos festivais chineses está sempre presente a figura do dragão movido a um monte de chineses, soltando fumaça. Nos seriados de TV japoneses, como Nacional Kid (Nationaro Kiido), Ultraman, Jaspion e Changeman, Tóquio era destruída semanalmente por algum tipo de monstro saído da baía da cidade ou vindo do espaço. Esses seriados encheram a tela das nossas TVs nas tardes das décadas de 60, 70, e aí por diante. Invariavelmente, iniciavam com uma musiquinha infantil, cuja letra, em japonês, ninguém entendia. O enredo era sempre o mesmo - fruto da poluição, algum monstro cheio de apêndices, franjas e olhos luminosos, na nuca inclusive, surgia das águas e passava a pisar nas casas e nos automóveis. Os edifícios desabavam após golpes de uma das três caudas. Aí alguém chamado Hayata, ou algo parecido, transformava-se num super-herói com direito a lâmpada piloto de carga da bateria. A seguir começava a pancadaria - o que restava de Tóquio, após a passagem do monstro, era pisoteada pelos dois durante a briga. Nosso super-herói, após um início bem convincente, começava a apanhar feito Bruce Willis - em algum Duro de Matar -, depois de o monstro ter ativado alguma arma secreta. No auge da surra, começava a piscar a lâmpada-piloto da bateria do nosso, então arriado, sub-herói. Por sorte, os deuses resolviam dar mais uma chance à sua criação e davam uma carga rápida na bateria. Refeito, o agora ultra-herói, lembrava-se da super-arma x-qualquer-coisa, e fulminava o asqueroso monstro com uma saraivada de raios fumacentos. Após entregar uma flor à menina órfã, cuja vida estava em risco, lançava-se em vôo, com direito a nova musiquinha infantil. Pérolas do behaviorismo piegas. Ivan Pavlov, John Watson e Burruhs Skinner (não confundir com o diretor Seymour Skinner, dos Simpsons), expoentes da teoria comportamental, bateriam palmas alucinadamente. Ali não eram necessárias medalhas, bastava um olhar triunfante e uma reverência formal. Monstros japoneses à parte, a mitologia grega oferece um variado cardápio de monstros, como Hércules, filho de Zeus, pôde comprovar na prática. Na Europa, um dos monstros preferidos é o Monstro do Lago Ness, talvez pela longevidade, talvez por resistir aos ataques tecnológicos. A primeira aparição do Nessie, como foi apelidado, remonta a 565 DC, seguindo-se outras ao longo dos séculos, algumas supostamente documentadas. Como o lago, localizado no norte da Escócia, é razoavelmente grande, e profundo, as tentativas de localizá-lo, através de sonar, estenderam-se durante anos. Quando a lenda ameaçava desmoronar, pela falta de resultados positivos na busca, descobriu-se uma grande caverna próxima ao fundo do lago. Pronto, Nessie pode esconder-se lá dos bisbilhoteiros e paparazzis.
Lembrei-me de tudo isso após o jantar de sábado passado, ao visitar parentes na cidade de Espumoso. Constou do cardápio uma fabulosa sopa de capeleti, com direito a carne lessa, seguida de um galeto – não ao primo, mas ao supremo canto – acompanhado de massa caseira, preparados magistralmente pelo meu cunhado. Diz-se lá que o segredo da massa caseira é fazê-la com os ovos de fora – de colônia, bem entendido. Durante a sopa, um dos convivas lembrou dos relatos a respeito de um estranho ser que habitaria as proximidades de uma ilha do Rio Jacuí – Ilha do Pançudo. Durante os meses de verão o Minhocão do Pançudo, como é conhecido por lá, chegaria próximo à cidade. Curioso, e impressionado com o inusitado apelido do monstro, puxei o assunto e conversei com diversas pessoas. Os relatos mais antigos antecedem a própria criação do Município de Espumoso. Teria o formato de uma cobra, ou minhoca, de dimensões fantásticas, como as de um poste de eletrificação. Há relatos de pescadores que fugiram apavorados das proximidades da ilha. Cães, e outros animais, teriam sumido durante as aparições do Minhocão do Pançudo. Uma senhora, ponderada, surgiu com uma explicação bastante razoável para a existência da lenda. Quando era criança, não havia piscina em clube. O programa de férias de verão era tomar banho de rio, no Jacuí. Como o rio apresentava uma série de perigos aos banhistas incautos, especialmente às crianças, algum pai teria inventado a lenda do Minhocão do Pançudo, para mantê-las afastadas dos locais mais perigosos, casualmente aqueles freqüentados pelo monstro. Faz sentido, mas tira o encanto. Prefiro acreditar que, assim como Nessie é o monstro do Lago Ness, em Great Glen, nas terras altas escocesas, o Minhocão do Pançudo é o monstro do Jacuí, em Espumoso, nas terras altas gaúchas. Que nenhum dos dois seja encontrado.

Paulo Roberto Heuser

3 Comments:

At domingo, 02 julho, 2006, Anonymous Anônimo said...

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At terça-feira, 18 julho, 2006, Anonymous Anônimo said...

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