Tuberosas, Grumos e TOC
Tuberosas, Grumos e Transtorno Obsessivo-Compulsivo
De onde viemos e para onde vamos? Por que estamos aqui? São perguntas que todos se fazem, menos eu. Depois que parei de contar postes nas estradas, já que sumiram mesmo, e o número de furos no ralo do box do chuveiro, meu transtorno obsessivo-compulsivo manifestou-se de outra forma. Tento, de forma doentia, resolver questões filosofais como a da mandioca e o aipim. Já observei que os oriundos de algumas regiões, do interior do Estado, chamam a raiz tuberosa, comestível pelos humanos, de mandioca. Já os porto-alegrenses, e os oriundos de outras partes do interior, a chamam de aipim. Inúmeras vezes ouvi a expressão – mandioca é para porco. Como eu não conseguia mais dormir nem me alimentar direito, procurei ajuda, não de um psiquiatra, como seria de se esperar, mas de dicionários e da Internet. No dicionário encontrei referências a ambos, aipim e mandioca, como sendo a mesma coisa, além da macaxeira e todos aqueles outros nomes exóticos. Pensei cá com os meus botões - comecei a contá-los compulsivamente – que estava fácil demais. Na rede, após pesquisas exaustivas, encontrei algo bem interessante no sítio da Embrapa. Segundo o que lá está, aipim é a mandioca mansa, enquanto mandioca é uma designação genérica, englobando também a mandioca brava. A diferença entre as duas, mansa e brava, tem a ver com o teor de ácido cianídrico. Enfim, todo aipim é mandioca e nem toda mandioca é aipim. Armado desta valiosa informação, marotamente esperei pelo dia em que houvesse aipim (ou mandioca?) no bufê do almoço. Almoçava com mais cinco colegas num pequeno restaurante, que havia numa pequena galeria do centro de Porto Alegre. Além da nossa mesa, apenas outra estava ocupada, por uma senhora que parecia alheia ao resto do mundo, concentrada no seu prato. Aguardei pelo momento oportuno, após todos haverem se servido, e lancei o comentário – prefiro a mandioca frita. Reação imediata! Iniciada a polêmica, um colega fulminou quaisquer outros argumentos com a afirmação – mandioca é para porco! A senhora, da outra mesa, tirou os olhos do prato e revidou indignada – se mandioca é para porco, somos todos porcos! Por precaução, a dona do restaurante passou a servir batatas, a partir daquele dia. Resolvida a questão, comecei a contar os botões do controle remoto da TV, da TV a cabo, do telefone sem fio e do celular. Achei que deveria dar um basta naquilo e me dediquei a responder outra questão filosofal – nhoque é feito com batatas? Para a maioria, a resposta é sim. Para uns poucos reacionários, nos quais me incluo, nhoque é feito apenas com farinha. Deixei os controles remotos de lado e me dediquei a esse novo desafio. No restaurante, novas discussões, agora sem aquela senhora, que nunca mais apareceu por lá, talvez ofendida com algum comentário velado sobre outras utilidades do tubérculo que foi alvo da discussão anterior. O restaurante fechou, sinto um certo remorso. Nova ida ao dicionário, de italiano desta vez, para descobrir que gnocchi (nhoque) é o plural de gnoccho. Palmas de golfe para esta descoberta! Ajudou deveras. Mas, o que raios seria um gnoccho? Mais umas pesquisas e descobri que pode ser um grumo (novas palmas de golfe!) ou uma massa. Uma luz finalmente! Massa é feita com farinha de trigo e de sêmola. Até esqueci que os controles remotos existiam. Antes que eu esqueça, tenho um, de um antigo equipamento de som que joguei fora, com 93 botões. Já pensou que delícia? Voltando aos grumos, minha teoria começou a encontrar uma base. Nessa época encontrei um italiano, no supermercado, por mera casualidade, que tentava comprar zafferano (açafrão) para preparar um autêntico risotto allá milanese. Concordei em ajudá-lo a encontrar o que procurava, desde que, ele me respondesse à questão filosofal do momento. Encontrado o açafrão, obtive a seguinte resposta: - o nhoque leva batata quando é de batatas (aplausos entusiásticos de golfe). Comecei a contar latas de mostarda. Voltei à rede e, após dois anos de exaustivas pesquisas, concluí que o nhoque leva batatas quando é de batatas! Antes de começar a contar rodas de veículos – não basta contá-los e multiplicar o resultado por 4 – descobri uma nova questão filosofal: qual é a diferença que há entre anholine (agnolotti), cappelletti e tortellini? Tenho medo de que outro restaurante feche as portas, por minha causa. Penso nisto enquanto caminho, procurando não pisar nos rejuntes.
Paulo Roberto Heuser
De onde viemos e para onde vamos? Por que estamos aqui? São perguntas que todos se fazem, menos eu. Depois que parei de contar postes nas estradas, já que sumiram mesmo, e o número de furos no ralo do box do chuveiro, meu transtorno obsessivo-compulsivo manifestou-se de outra forma. Tento, de forma doentia, resolver questões filosofais como a da mandioca e o aipim. Já observei que os oriundos de algumas regiões, do interior do Estado, chamam a raiz tuberosa, comestível pelos humanos, de mandioca. Já os porto-alegrenses, e os oriundos de outras partes do interior, a chamam de aipim. Inúmeras vezes ouvi a expressão – mandioca é para porco. Como eu não conseguia mais dormir nem me alimentar direito, procurei ajuda, não de um psiquiatra, como seria de se esperar, mas de dicionários e da Internet. No dicionário encontrei referências a ambos, aipim e mandioca, como sendo a mesma coisa, além da macaxeira e todos aqueles outros nomes exóticos. Pensei cá com os meus botões - comecei a contá-los compulsivamente – que estava fácil demais. Na rede, após pesquisas exaustivas, encontrei algo bem interessante no sítio da Embrapa. Segundo o que lá está, aipim é a mandioca mansa, enquanto mandioca é uma designação genérica, englobando também a mandioca brava. A diferença entre as duas, mansa e brava, tem a ver com o teor de ácido cianídrico. Enfim, todo aipim é mandioca e nem toda mandioca é aipim. Armado desta valiosa informação, marotamente esperei pelo dia em que houvesse aipim (ou mandioca?) no bufê do almoço. Almoçava com mais cinco colegas num pequeno restaurante, que havia numa pequena galeria do centro de Porto Alegre. Além da nossa mesa, apenas outra estava ocupada, por uma senhora que parecia alheia ao resto do mundo, concentrada no seu prato. Aguardei pelo momento oportuno, após todos haverem se servido, e lancei o comentário – prefiro a mandioca frita. Reação imediata! Iniciada a polêmica, um colega fulminou quaisquer outros argumentos com a afirmação – mandioca é para porco! A senhora, da outra mesa, tirou os olhos do prato e revidou indignada – se mandioca é para porco, somos todos porcos! Por precaução, a dona do restaurante passou a servir batatas, a partir daquele dia. Resolvida a questão, comecei a contar os botões do controle remoto da TV, da TV a cabo, do telefone sem fio e do celular. Achei que deveria dar um basta naquilo e me dediquei a responder outra questão filosofal – nhoque é feito com batatas? Para a maioria, a resposta é sim. Para uns poucos reacionários, nos quais me incluo, nhoque é feito apenas com farinha. Deixei os controles remotos de lado e me dediquei a esse novo desafio. No restaurante, novas discussões, agora sem aquela senhora, que nunca mais apareceu por lá, talvez ofendida com algum comentário velado sobre outras utilidades do tubérculo que foi alvo da discussão anterior. O restaurante fechou, sinto um certo remorso. Nova ida ao dicionário, de italiano desta vez, para descobrir que gnocchi (nhoque) é o plural de gnoccho. Palmas de golfe para esta descoberta! Ajudou deveras. Mas, o que raios seria um gnoccho? Mais umas pesquisas e descobri que pode ser um grumo (novas palmas de golfe!) ou uma massa. Uma luz finalmente! Massa é feita com farinha de trigo e de sêmola. Até esqueci que os controles remotos existiam. Antes que eu esqueça, tenho um, de um antigo equipamento de som que joguei fora, com 93 botões. Já pensou que delícia? Voltando aos grumos, minha teoria começou a encontrar uma base. Nessa época encontrei um italiano, no supermercado, por mera casualidade, que tentava comprar zafferano (açafrão) para preparar um autêntico risotto allá milanese. Concordei em ajudá-lo a encontrar o que procurava, desde que, ele me respondesse à questão filosofal do momento. Encontrado o açafrão, obtive a seguinte resposta: - o nhoque leva batata quando é de batatas (aplausos entusiásticos de golfe). Comecei a contar latas de mostarda. Voltei à rede e, após dois anos de exaustivas pesquisas, concluí que o nhoque leva batatas quando é de batatas! Antes de começar a contar rodas de veículos – não basta contá-los e multiplicar o resultado por 4 – descobri uma nova questão filosofal: qual é a diferença que há entre anholine (agnolotti), cappelletti e tortellini? Tenho medo de que outro restaurante feche as portas, por minha causa. Penso nisto enquanto caminho, procurando não pisar nos rejuntes.
Paulo Roberto Heuser
2 Comments:
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