5.6.06

Estranhos Esportes

Estranhos Esportes

A profusão de canais estrangeiros, na TV por assinatura, nos traz imagens de esportes exóticos, como pelota basca e beisebol. O golfe e o tênis, inacessíveis à maior parte da população, ali estão, na telinha. Não consigo encarar como esportes, alguns assim classificados. O automobilismo e o boxe, por exemplo. O primeiro está mais para um jogo tecnológico. O segundo, resquício de antigas práticas de guerra, está mais para a selvageria. Talvez o esporte mais estranho já criado, findos os torneios de futebol chutando crânios, seja o chess-boxing, combinação de assaltos de boxe, de um minuto, intercalados com partidas de xadrez, de quatro minutos. Que tipo de jogada faz alguém que foi surrado na cabeça? Ataca o oponente (não o rei) com uma "voadora"? Esporte inquestionavelmente democrático é o futebol. Basta uma área, de qualquer tamanho, e algo semelhante a uma bola, para sair jogo. O número de jogadores pode ir de dois a qualquer coisa que o campo permitir. Com o excesso de cotas publicitárias vendido, para a cobertura da Copa do Mundo, não apenas os jogos, mas também o cotidiano dos atletas e da comitiva, são acompanhados de cima. Sabemos quanto arroz e feijão cada jogador comeu, se a mãe do craque mandou doce de jaca, se urinaram contra ou a favor do vento e outros fatos importantíssimos do cotidiano da Seleção. O bom disso tudo é que acabamos conhecendo os locais, por onde esta passa, e seus costumes. Descobrimos com quantas vacas se faz um Rahmschnitzel! Quem conseguir responder o que é um, concorre ao sorteio de uma (ou será um?) Kleinenfrischgeschlüpftenfedrigenkühen. Chego a babar, só em pensar! O esporte tem o lado positivo, o do preparo físico, e tem um lado negativo, o da tensão e do estresse que acomete o atleta. Ultimamente tenho praticado um jogo automobilístico que não faz bem, à minha saúde. O jogo exercita a capacidade de reação às situações de perigo, exigindo extrema habilidade. O jogador vê-se sentado ao volante de um carro. Afivela o cinto, ajusta espelhos e vira o arranque, tudo completamente real. A cada fase superada, crescem os desafios. Na fase Quintino, sem aviso nenhum, as três pistas se transformam em duas, a da esquerda se transforma em um prédio. Um pouco adiante, na mesma fase, os desafios são os semáforos escondidos atrás de galhos de árvores. Na etapa Protásio, o desafio principal é desviar dos ônibus que entram no, e saem do, corredor de ônibus. Desviam subitamente, levando de roldão quem estiver no caminho. Em todas as fases, os ônibus arrancam no sinal vermelho. Superada a fase Osvaldo, relativamente tranqüila, segue-se a Túnel e a Elevada. Nesta, a dica é seguir pela esquerda. Os ônibus, trafegando pela direita, efetuam bruscas mudanças de pista, aleatoriamente. Quem aí ainda estiver vivo, enfrenta uma das fases mais difíceis, o X da Rodô. Não se trata de comer um cheeseburger em algum trailer da Rodoviária. O desafio é cruzar entre ônibus, caminhões e carros, todos andando em diagonal, da esquerda para a direita, e vice-versa. Quando você acha que a fase foi superada, há novo estreitamento de pista, na entrada da fase Mauá. Quem completa todas fases tem direito à seqüência chamada Volta. Seguindo a moda criada pelos jogos de videogame criminosos, como GTA, infrações de trânsito vão sendo cometidas a cada instante. Carros na contra-mão, sem iluminação, motoristas falando ao telefone celular, pedestres imprudentes e, desafio supremo, motoboys ultrapassando pela direita. Táxis são desafios importantes, pois viram em todas direções, sem utilizar as luzes indicadoras. Suspeitei de uma economia de lâmpadas. Ontem, um motorista comentou, de passagem, que este seria o oitavo carro que comprara, equipado como uma misteriosa alavanca, no lado esquerdo do volante. Não conseguia entender o porquê de colocarem ali uma alavanca, apenas para ligar uma luzinha, em forma de seta, no painel. Em algo, este jogo difere do GTA, lá a polícia vem atrás. Aqui você pode morrer.
Paulo Roberto Heuser