6.6.06

Churrasco à Gaúcha (Parte I)

Churrasco à Gaúcha (Parte I)

Domingo preparei um churrasquinho, observado pela cadela, fiel escudeira nessas horas. Numa casa onde se é o único homem, só os cães, seja qual for o sexo e a raça, quebram a solidão desse ato. Enquanto espetava um pedaço de vazio, fiquei pensando na difusão do churrasco pelo País. Meu primeiro contato com um churrasco alienígena ocorreu em São Paulo, em 1977 creio eu. Jantava no Hotel Normandie, na Ipiranga com Santa Ifigênia. Chacrinha e sua equipe se hospedavam lá. Era lugar comum tomar café da manhã ao lado do Velho Guerreiro, Aracy de Almeida e Pedro de Lara. Olhando de perto as Chacretes, percebi o milagre operado pelas meias e pela maquiagem da TV. No cardápio, um item chamava a atenção: churrasco à gaúcha. A curiosidade me levou a escolhê-lo. Já reparou como o tempo não passa, quando se janta sozinho, em restaurantes de hotéis? Chegado o prato, perguntei ao garçom: "O que é isto?". "Churrasco à gaúcha", respondeu. Em São Paulo, faça como os paulistanos, pensei. Resolvi encarar o curioso prato. Chuleta (bisteca) grelhada, guarnecida por batatas fritas, farofa e arroz. As batatinhas até que estavam boas. Em outra incursão noturna, pelo centro da Paulicéia cada vez mais desvairada, me deparei com uma autêntica churrascaria, bois pintados na fachada, roda de carroça na entrada, garçons pilchados, com cara de gaudérios. Encontrei costela (espetada!) no cardápio e pedi salsichão, como entrada. A imagem da churrascaria desabou quando o garçom trouxe um espeto com três fatias grossas de uma imensa mortadela. Nosso conceito de churrasco era, e de certa forma ainda é, completamente diferente daquele vigente ao norte do Mampituba. Como dizem os cariocas: “xurraxco xem fritax não é xurraxco!” Depois, em São Paulo, fui conhecer casas que servem carnes especiais, nas proximidades do Largo do Arouche, na época, hoje na Alameda Santos. Um vaqueano, dos quatro costados, diria que aquilo é coisa de fresco! O preço, coisa de magnata fresco! Carne assada, sobre o calor da pedra, sem fumaça, não é coisa de macho. Outro tipo de churrascaria surgiu no Rio de Janeiro, com incríveis bufês, espalhando-se rapidamente pelo Brasil, inclusive nesta terra do Borghetinho. Nas versões lá de cima, lagostas ostras, vieiras, polvo e outras tantas iguarias da culinária campeira (?). As daqui, um pouco mais simples, mesmo assim, um verdadeiro festim. Sinceramente, após uma entrada de carpaccio, queijo granna padano, cogumelos frescos, azeitonas pretas, alcachofras e metade do estoque de uma loja de especiarias, refugo a carne de churrasco. Ali a carne virou acompanhamento. Uma dessas churrascarias oferece um colete de Playmobil, para aparar eventuais pingos da carne. Nas fotos fica uma maravilha, falta apenas o cabelo preto cortado em forma de serra. O vaqueano só não dá de relho nos viventes porque não consegue parar de rir. (Continua...)

Paulo Roberto Heuser

2 Comments:

At sexta-feira, 11 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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At quinta-feira, 17 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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