15.6.06

Um Estudo Em Vermelho

Um Estudo Em Vermelho

Neste chuvoso feriado a cama pareceu mais aconchegante do que nunca. Algum tipo de magnetismo me prendia ali. 11 horas, panela fora do fogo e barriga vazia. Entro na cozinha tentando achar inspiração para algum prato que contraste com o dia horrível. Tem de ser algo que não me obrigue a sair de casa, nem que seja só até o armazém do Sérgio, ou pior, até o supermercado. Examino a geladeira e a despensa, opto pela massa com um molho bem vermelho. Ainda há lingüiça calabresa na geladeira, excedente de um arroz de moçoila remediada preparado na véspera. Maravilhosa calabresa, por sinal, cortada a faca, quase sem gordura, feita na linha Dezenove, em Carlos Barbosa. Comprada no Mercado Público, naturalmente. Na TV toca o hino de Trinidad e Tobago. Curioso, se parece com um mini hino inglês. Não combina com um país caribenho. Panela no fogo, um fio de azeite de oliva puro, a calabresa cortada em fatias ali mergulha. Meia cebola picada, dois dentes de alho e duas folhas de louro. Sem pimenta vermelha, já há na calabresa. Um pouco da do reino apenas. Reduzido o refogado, meio cálice de vinho tinto até reduzir novamente. Vá lá, um cálice para o refogado e outro para mim. É justo e iguala o pH do cozinheiro com o do molho. A prova do vinho, antes de colocá-lo na panela, elimina o risco de estragar o refogado com um ruim. Se não há certeza absoluta quanto á qualidade do vinho, paciência, outro cálice para contra-prova. Aprovado finalmente, adicionado e reduzido, entra a massa de tomate, muita. Vermelho e espesso o refogado borbulha. Entra uma cenoura inteira para corrigir a acidez. Um pouco de água apenas para ajustar a espessura, não demais. Apurado, provado e corrigido o sal, uma colherinha de açúcar para corrigir a acidez. Cor maravilhosa, textura perfeita, hora dos aromáticos. Um ramo de manjericão fresco. Onde o consegui em pleno feriado, morando em apartamento, sem sair de casa? Ora, na geladeira, onde mais? Mantém-se por vários dias. O ramo cozinha por três minutos, não muito mais, para não perder o aroma. Molho pronto, escolha da massa. Massa longa, bavette. Há penne, mas acho que perde a graça comer massa curta com esse molho. Molhos assim pedem massa longa. Por que não uso spaghetti? Porque não o há em casa. O bavette é a armadilha para os incautos, por ser chato e grudar com facilidade. Não dá para descuidar no cozimento. Cozido, escorrido e misturado com o molho imediatamente, leva azeite de oliva virgem extra sobre tudo. Parmesão ralado na hora completa o prato. Chega à mesa, ansiosamente aguardado, trazendo luz e calor para este dia tão lúgubre. Servido o vinho, a massa tinge de vermelho o prato fundo branco. Conversar? Muito, após as primeiras garfadas, enrolando a massa, auxiliado pela colher. Um dia feio pode ter muita cor também. Improviso um guardanapo de mafioso, aqueles de prender no colarinho. A opção é vestir camisa vermelha. É humanamente impossível safar uma camisa branca de ter algumas manchas vermelhas. Há quem use massas curtas, considero isto um truque baixo. O desafio das massas longas é irresistível. Protegido pelo meu elegante guardanapo, feito com papel toalha, saio ileso. E o molho vermelho ilumina nosso almoço. Buono Appetito!

Paulo Roberto Heuser

3 Comments:

At quarta-feira, 09 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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At quinta-feira, 10 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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At quarta-feira, 16 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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