13.6.06

Das Frustrações I - A Música

Das Frustrações I – A Música

De frustrações e arrependimentos todos vivemos um pouco. Alguns, muito. Prefiro me incluir entre os primeiros. Na categoria das frustrações, meu Oscar vai para a música, um Grammy, portanto. Sempre gostei de música. Nasci e cresci numa casa onde a música esteve presente. Na família da minha mãe todo mundo arranhava algum instrumento, predominando o violino. A família do meu pai era mais dada aos gramofones e seus sucedâneos. Incluo-me no segundo grupo. Juro que tentei aprender música. Pedi e ganhei um violão, novo, laqueado em preto. Coisa fina. Fui estudar com uma conceituada professora de teoria e prática. Hoje vejo que a culpa pelo meu fracasso não foi somente da minha inaptidão musical. Mesmo idiotas musicais conseguem aprender alguma coisa. Eu não. Fui aprender a tocar violão nas intermináveis férias de verão. Minha rotina iniciava às 8 horas com treino de natação, no clube. Após o almoço, às 13h30 jogava tênis, até às 16 horas. Às 17 horas, treino de atletismo – arremesso de disco. Banho tomado, às 18 horas, aula de violão. A meia-luz e o silêncio de um casarão antigo substituíam a luz e o calor de verão do mundo ao ar livre. Enquanto aguardava a professora iniciar a aula, o tic-tac de um relógio de pé, de carrilhão, começava a agir sobre o meu sistema nervoso central. Gente, se alguém sofre de insônia, compre um desses relógios, a cura é certa. A aula iniciava com o aprendizado de solfejo. Após um dia de braçadas, raquetadas e arremessos, era tudo que eu pedi ao Tio Lá De Cima. Para quem não conhece, solfejo é uma técnica para se obter a afinação correta, ou algo que o valha. Adrenalina pura! O livro, Solfeo de Los Solfeos, com capa cinza-macrobiótico, foi recheado com desenhos de personagens do conto da cigarra e da formiga, desenhados sobre uma série de linhas horizontais feito varais estilizados. Das sete notas musicais fiquei no dó. Ou melhor, morri no dó. Foi de dar dó mesmo. Tentava imitar aquele dóóóóó.... - a mão em postura de dança egípcia. Dormia no meio. De dar dó era a cara da professora, assistindo ao bizarro espetáculo sem conseguir assistir o aluno. A única coisa que aprendi, além de um pedaço do dó, foi dedilhar uma música que falava de um tal de Miguel a navegar e tinha Aleluia no final do estribilho. Nem para o Parabéns a Você deu. Aos insones recomendo também aquele aparelhinho, chamado metrônomo – viu, google também é cultura -, usado para marcar o ritmo. Faz um tac-tac com período ajustável através de um peso no pêndulo. Você pode ajustar para dormir mais rápido ou mais lento. É um contador de carneirinhos pendular automático. Nunca tive aulas de piano, mas aprendi a tocar o Bife, com uma só mão! Talvez um dia volte às aulas de música. Quem sabe não chegarei ao mi ou até um sol?
(continua)
Paulo Roberto Heuser

1 Comments:

At sexta-feira, 11 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

Looks nice! Awesome content. Good job guys.
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