25.6.06

O Elefante Atolado

O Elefante Atolado

Não consigo deixar de pensar no período pós-Copa e pré-eleição que se aproxima. Muda o logotipo do patrocinador, saem os comerciais e entra o leque de logotipos iniciados pela letra P. O tom da campanha já foi dado em recentes discursos de palanque. Saradas as bolhas, a cobra vai fumar. E o País vai parar, novamente. Paramos para o Carnaval, para as eleições e para a Copa. Não todos, as cervejarias faturam alto em todos esses períodos. Outro setor da economia visível, e legal, que se manterá ocupado será o dos serviços, marketing essencialmente. Marketeiros estarão tentando vender seus peixes, nem sempre frescos. Já reparou que quase não se vê propaganda de amido de milho? Para quê? Vende de qualquer maneira, pois mantém a mesma cara e o mesmo conteúdo há mais de 100 anos. Há confiança cega por parte do consumidor. Mudando estarão fora do mercado, derrotados pela própria imagem anterior. Já para a venda de peixes a dificuldade é maior, bem ilustrada por Goscinny & Uderzo na figura do Ordenalfabetix, dono da peixaria da aldeia gaulesa de Asterix. Televisores vendem bem na Copa, eventualmente no Carnaval. Definitivamente não vendem bem nas eleições. Quem quer assistir àquele espetáculo em formato 16X9, som estéreo e tela de 42 polegadas? Somente os masoquistas de plantão. Já pensou, aquele folclórico ex-candidato, ex-barbudo, gritando seu nome, com som surround e 500 W de potência? Dá para estremecer. Bares, restaurantes e locais para eventos também vêem seu faturamento crescer nesses períodos, à vista no Carnaval e na Copa, a prazo nas eleições, eventualmente a fundo perdido. Para quem quiser arriscar um investimento em bolsa de valores vai a dica: ações dos fabricantes de remédios contra os sintomas da ressaca. Vendem bem nos três eventos. Tanto Carnaval como eleições movimentam um contingente enorme de voluntários. No primeiro caso, pelo amor à escola de samba e à festa, no segundo, pelo amor ao partido, ou ao emprego. Cabos eleitorais são como treinadores e jogadores do esporte profissional, pois têm emprego enquanto vencem, estes os jogos, aqueles as eleições. No pré-eleitoral o desemprego some. Mendigos e caloteiros de semáforo viram agentes mercadológicos em troca de um sanduba e meia dúzia de merrecas. Os militantes de primeira hora distinguem-se dos de última, ou soldados da fortuna eleitorais, pelo entusiasmo. Os primeiros têm brilho no olhar, os últimos a paixão do(a) amante profissional. As coligações políticas conseguem unir bandeiras ideológicas tão antagônicas como seria, no futebol, um combinado Brasil-Argentina. Algo como Parreira e José Pekerman – treinador argentino - abraçados dançando um tango, às vésperas de uma final da Copa, entre seus times. As coligações de forças historicamente antagônicas têm outras conseqüências. Fulminam as esperanças dos eleitores mais esclarecidos que apresentam afinidade com uma das linhas ideológicas. Também fomentam a polarização extrema, não mais de idéias, agora de siglas. Ao eleitor que lê, que ouve e que vê, não sobra a alternativa de uma terceira via, pois dificilmente terá afinidade ideológica com os grandes conglomerados de siglas. Neles votará se algum interesse particular sobrepor o ideológico. Como o leitor informado é minoria, o marketing investe pesadamente na maioria afastada da informação. A alternância das eleições, a cada dois anos, deu continuidade ao antes sazonal. Vivemos permanentemente a campanha eleitoral, altamente polarizada, para o azar da Nação. Cada passo dado no Legislativo tem a agilidade de um paquiderme atolado no pântano. A inércia atinge a tudo e a todos. Vide o embrólio causado pelo atraso na votação do orçamento da União. A economia do Rio Grande do Sul também sofre com o antagonismo continuado entre vencedores e vencidos dos últimos pleitos. Medidas ansiosamente esperadas, para tentar sanar, ou pelo menos reduzir, os problemas estruturais do Estado são recebidos como iniciativas eleitoreiras – por vezes justamente -, pelas partes envolvidas. Se der certo é ponto feito para a situação e ponto contra a oposição. Se der errado, o contrário. Metaforicamente falando, quando os cavalos puxam a carroça para lados opostos, esta não sai do lugar. Metáfora cansa, mesmo como figura cognitiva, quando usada à exaustão. Como na corrida armamentista do pós-guerra – a segunda -, o estado investe pesado na continuidade dos governos, em detrimento dos demais setores da sociedade. Lá foi entre os EUA e a extinta URSS. Aqui, estamos em guerra contra nós mesmos, uma espécie de guerra fria civil. Não tão fria nas ruas. Quentíssima, talvez.

Paulo Roberto Heuser

1 Comments:

At sexta-feira, 11 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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