Abominável Mundo Novo
Abominável Mundo Novo
Por Paulo Heuser
Os prêmios Nobel de Medicina e Química de 2006 me fazem suspeitar que cada vez mais ingressamos no Abominável Mundo Novo. Ambos se referem à pesquisa genética. Ótimo não? Talvez. O mapeamento genético do ser humano permitiu a descoberta antecipada de mal-formações e da probabilidade de que um embrião vá produzir um ser humano com determinadas características, inclusive doenças. Há o lado disto que pode ser bom, como a eventual erradicação de doenças como diabetes e algumas formas de câncer, se os laboratórios de medicamentos não forem muito prejudicados. Todo bem tem contrapartida em algo não tão bom. Ou seja, para cada Yin existe um Yang, ou o contrário.
Por Paulo Heuser
Os prêmios Nobel de Medicina e Química de 2006 me fazem suspeitar que cada vez mais ingressamos no Abominável Mundo Novo. Ambos se referem à pesquisa genética. Ótimo não? Talvez. O mapeamento genético do ser humano permitiu a descoberta antecipada de mal-formações e da probabilidade de que um embrião vá produzir um ser humano com determinadas características, inclusive doenças. Há o lado disto que pode ser bom, como a eventual erradicação de doenças como diabetes e algumas formas de câncer, se os laboratórios de medicamentos não forem muito prejudicados. Todo bem tem contrapartida em algo não tão bom. Ou seja, para cada Yin existe um Yang, ou o contrário.
Algum técnico sentado frente a um monitor de computador examina o que aparece na tela e emite o parecer, tradução em mediquês da expressão “este vai vingar”, ou “este não vai vingar”. Controle de qualidade do produto semi-acabado. O que farão com os “defeituosos”? Não será útil fabricar alguns tipos de defeituosos, como no Admirável Mundo Novo (1931) de Aldous Huxley? Já estratificamos pela capacidade econômica, a genética é apenas mais um passo.
Quem deve estar morrendo de medo é o cirurgião plástico. Sua clientela para procedimentos estéticos é exatamente aquela que poderá eventualmente pagar pela manipulação genética com vistas à melhoria da aparência. As orelhas de abano do vovô não serão mais propagadas às gerações futuras daqueles que se dispuserem a pagar pelo procedimento de manipulação genética. Nada de SUS, com certeza.
Mais abominável poderá ser a seleção de pessoas baseada no seu mapa genético. Nada mais de entrevistas complicadas com psicólogos e especialistas em gestão de pessoas. Qualquer pedacinho de tecido poderá dar todas as pistas a respeito do candidato. O número sete não parece apto, pois há uma probabilidade de 79 por cento de desenvolver frieiras nos dedos do meio do pé esquerdo. O número três também não, apresenta tendência a arrancar asas de moscas vivas. O vinte e três não, pois há 87 por cento de probabilidade de que irá grudar tatu sob as mesas.
Quem puder pagar pelo serviço, poderá escolher sua prole. Sentará ao lado da técnica que conversará com o casal para uma obter um croqui básico do produto. Após uma análise do gineceu e do androceu..., Ops, estes são de plantas? Bem, seja lá que nome leva, fará um protótipo que passará pelo crivo de todos para os ajustes finais. Estes incluem as aptidões opcionais, cobradas à parte, como cítara, escultura em goma arábica, oratória de canal de vendas, e um sem número de outras selecionáveis, conforme o tamanho do bolso dos futuros pais do freguês. Como serviço adicional poderá ser realizada revisão periódica do DNA dos procriáveis da família.
Lindo, não é? É, mas e se, apenas por hipótese, o Nobel de Medicina de 2036 descobrir que ao alterar os genes da orelha de abano e os de grudar tatu sob a mesa, sem manipular aquele que leva a roer unhas do pé, há 98 por cento de probabilidade de que os meninos gostem de pintura, cultivem bigodinhos ridículos e invadam a Polônia?
E-mail: prheuser@gmail.com
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