22.9.06

Perigos Domésticos

Perigos Domésticos

Por Paulo Heuser

Um estudo coordenado por Rodolfo de Castro Ribas Jr, pesquisador da UFRJ, publicado na revista Social Science & Medicine, aponta que três em cada cinco mães sabem identificar os perigos dentro de casa, mas apenas uma em quatro é capaz de apontar soluções. Quem tem filhos sabe que os perigos podem estar escondidos nas coisas aparentemente mais inocentes.

Veja o exemplo de uma laranja. Tem vitamina C, o suco tem ótimo sabor e tudo indica que só faz bem à saúde. Agora vamos adicionar uma menininha bastante ativa. Ela recebe a laranja com a tampa retirada, para chupá-la. Inquieta, correndo para lá e para cá, consegue o feito de inspirar uma semente da laranja, que fica entalada na narina. Tentativas domésticas de retirá-la de nada adiantaram. Lá vamos nós ao pronto-socorro, novamente. O plantonista a reconhece, de outros eventos, e cumprimenta alegremente: - O que manda hoje? Ela ainda usava a tala no braço, colocada após o tombo da árvore na creche. Mas já retirara os pontos do queixo! Até hoje recebemos cartões de Natal daquele plantonista.

Ter filhos é levar sustos. Maiores ou menores, eles sempre vêm. Quem projetou as crianças deveria ter colocado uma proteção no queixo. Não resiste ao mínimo tombo e sempre acaba remendado. Por que os joelhos já não vêm de fábrica com joelheiras?

Hoje até que as coisas estão um pouco melhores. Os interruptores residuais (DR) evitam sérios acidentes com dedinhos em tomadas. As balas mudaram o formato – principalmente aquela redondinha - e as tampas das esferográficas vêm com um orifício que evita a asfixia das crianças que inadvertidamente as engolem. Dos adultos também. De qualquer forma, acredito que os futuros pais deveriam passar por um curso de maternidade e paternidade defensivas, assim como os motoristas passam pelo de direção defensiva.

Quem disse que Deus protege os bêbados e as crianças só estava certo em parte, pois não previu que crianças pudessem estar em carros dirigidos ou atingidos por motoristas bêbados. Esta afirmação tem alguma validade nos acidentes domésticos. Muitas vezes as crianças saem ilesas de acidentes que nos deixariam numa ala de politraumatizados, como aqueles em que puxam um paninho bordado que estava sob o televisor que, por sua vez, estava na estante, que estava cheia de cristais. Sem mencionar aquele vaso que foi colocado no topo para resguardá-lo do anjinho ou da anjinha. Quando cessa o ruído de coisas desabando e quebrando, surge uma figura em meio aos escombros, rindo ou chorando.

Tenho sincera e real admiração pelas professoras e professores que cuidam das pestinhas, nas creches e pré-escolas. Certamente têm nervos de aço. Não há instrução que permita antever todas situações de perigo que possam surgir.

Falando em televisor, ali está um dos maiores perigos domésticos. Imagine o que passará naquela cabecinha em formação se chegar a assistir aos noticiários e aos desenhos animados onde o maior diálogo ouvido é: - eu vou te destruir! – e eu vou te aniquilar!

Tenha sempre à mão uma gravação do programa do Chaves. Na pior das hipóteses, dará um peteleco acidental no Seu Barriga.

E-mail: prheuser@gmail.com