19.9.06

Nem Freud Explica

Publicada na Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul, em 20/09/2006:
http://www.gazetadosul.com.br/default.php?arquivo=_noticia.php&intIdConteudo=61565&intIdEdicao=959



Nem Freud Explica


Por Paulo Heuser

Realmente, há coisas que nem Freud explica. Veja só o caso dos mamíferos que marcam território. Os machos de boa parte dos mamíferos têm o hábito de urinar em tudo que aparece pela frente para marcar território.

Muitos adotam cães como mascotes para descobrir que toda a casa acabará marcada. O novo sofá de cetim branco será a iguaria do dia da inauguração. O mesmo vale para o novo tapete persa. Melhor não trocar os lençóis.

Nas noites de sexta-feira e sábado os machos humanos adquirem o mesmo hábito, como bem pode ser observado por aqueles que transitam tarde pela rua. Tal qual os cães, os machos humanos preferem os postes como local para marcação, talvez por oferecerem suporte estrutural durante a operação. Os humanos só não costumam cheirar o poste antes do procedimento, hábito cultivado pelos caninos.

Os cães são extremamente territoriais, assim como seus amigos humanos. Dentro do seu quintal são os reis do pedaço. Quando soltos, no entanto, os cães de quintal sentem-se meio perdidos e não têm muita noção da sua competitividade perante eventuais adversários. Acabam provocando cenas divertidas nos enfrentamentos quando, após o estabelecimento de quem é caça e quem é caçador, a situação se inverte. Após louca correria num sentido, invertem a situação, o antes perseguido passa a ser o perseguidor.

Já assisti à cena da inversão da relação agressor e vítima entre humanos. Um ladrão de carteiras, pego em flagrante, corria desesperado, fugindo da vítima. Sentindo-se acuado, parou e passou a correr em direção à vítima enquanto gritava “Pega ladrão!” Em quem acreditar nessa hora? O clamor popular pede justiça, qualquer tipo, imediata. Pelo sim, pelo não, acabou todo mundo envolvido na delegacia. Não sei como terminou, mas acredito que as coisas devem ter se esclarecido, já que houve testemunhas.

As dúvidas na relação vítima e agressor vêm às manchetes em novo escândalo envolvendo nossos adversários eleitorais. Perseguem-se, feito marcadores de território desorientados, alternando-se nas posições de agressor e vítima. Se não bastasse o escândalo da compra fraudulenta das ambulâncias, agora surge algum tipo de ilegalidade na denúncia do escândalo anterior.

Os protagonistas alternam-se na posição de vítimas, quando estas somos nós! Em quem acreditar? É isto o que os jovens merecem na inauguração do Título Eleitoral?

Esta, nem o Freud explica.

E-mail: prheuser@gmail.com