18.9.06

A Confraria

Das Crônicas Raimundianas VI
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A Confraria

Por Paulo Heuser

Raimundo embarcou em Irkutsk, na Sibéria, no retorno a nossa querida Terra Futuris, a única com passado e futuro, mas sem presente. Por algum estranho motivo, Terra Futuris avança feito janela deslizante em direção ao amanhã sem deixar vislumbrar o hoje. Amanhã será ontem, sem ter sido hoje. Não podia deixar de traçar um paralelo com o filme Fenda no Tempo (The Langoliers, 1995), baseado numa obra de Stephen King, exibido a bordo. Relatava o drama de 10 passageiros que descobriram estar sozinhos no avião, e no mundo. Estavam vivendo fora do tempo, mas próximo dele. Coisa de mau gosto para se passar a bordo.

Após assinar finalmente o contrato para construção do CotraGulag – spa temático nos moldes do bem sucedido CotraVida, sentia-se realmente cansado.

Desta vez Raimundo prevenira-se contra filmes de calamidades aéreas, comprando um livro na banca do aeroporto. Quase todos os livros expostos estavam escritos em russo, no alfabeto cirílico. Quando reclamou à atendente da livraria, esta respondeu que também havia obras em udihe, tungúsico e buriata, tudo em cirílico, naturalmente. Como Raimundo não queria saber com quantos erres virados se faz um caiaque, implorou por alguma coisa em inglês, pelo menos. Até algo em alemão, havendo figuras, seria aceitável.

Havia somente dois livros em inglês. Um era uma biografia do francês Émile Durkheim (1858-1917), um dos pais da Sociologia moderna. Não era exatamente o que Raimundo procurava, preferia algo de John Le Carre para ler no avião. Mas ainda era melhor do que a outra opção em inglês, o Manual Sanitário Democrático Para Construção de Cabungos Revolucionários (1938), prefaciado pelo Camarada Stalin.

Raimundo afundou na confortável poltrona de pêlo de urso do tri-reator Uruboflot AK47. Confortável até que era, deveriam apenas curtir o pêlo um pouco mais. Enquanto esperava degelarem o avião, observou o aviso “É permitido fumar apenas charutos cubanos”. Logo abaixo havia outro: “Os transgressores serão expulsos imediatamente da aeronave”. Ficou imaginando o que aconteceria se acendesse um cigarro com o avião em altitude de cruzeiro, a três mil metros – a pressurização da cabine do Uruboflot AK47 não era exatamente confiável, razão da altitude de cruzeiro diferenciada. E da farta distribuição de mantas. A tripulação espalhou baldes com carvão em brasa pelos corredores, para tentar aquecer um pouco a cabine.

À medida que o livro ia sendo devorado, Raimundo começou a interessar-se cada vez mais. Quase recusou a refeição servida a bordo – batatas a Solzhenitsyn -, da safra do ano anterior, fervidas com casca e cobertas com fungos da tundra. Iguaria siberiana, para ser apreciada entre goles de vodka Stolichnaya. Antes de dormir, anestesiado pela “agüinha”, Raimundo já havia terminado o livro. Na conexão em Paris conseguiu encontrar um livro sobre estratificação social numa livraria do aeroporto. Antes da decolagem rumo à terra natal, já devorava o novo livro. Como devorou o tablete de cereais de sabor alho, servido como almoço.

Após a chegada, Raimundo ficou um dia inteiro pensando, enquanto tentava inutilmente dormir, desajustado pala diferença de fusos horários. Pensando melhor, não foi apenas a diferença de fuso horário o que lhe tirou o sono. Ainda sentia o cheiro de bordo, misto de picumã de carvão com fedor de pêlo mal curtido. No segundo dia, ainda com olheiras, após vários banhos, convocou o conselho da Cotra. Ficara muito impressionado com o que lera.

Quando o Velho (o sogro) entrou na sala de reuniões, com um Cohiba no canto da boca, Raimundo lembrou-se do vôo. O Velho adoraria voar naquilo. Permissão para fumar os charutos, péssima comida, boa bebida e uma fumarenta atmosfera de abrigo antiaéreo. O tipo de aconchego que o Velho apreciava.

A irmã do Zé Tongo veio diretamente do CotraVida, mostrando o bronzeado de quem vivia e trabalhava ao ar livre. Em breve estaria partindo para uma temporada na Sibéria, onde ensinaria os clientes do CotraGulag, altos executivos norte-americanos e japoneses (estes baixos, por uma questão genética) em sua maioria, a plantar batatas às margens do Lago Baikal. Zé Tongo e o Japa chegaram depois.

Raimundo falou durante mais de uma hora sobre o que lera na sua viagem de retorno a Terra Futuris. Percebera coisas a respeito da sociedade que antes passavam despercebidas. Percebera também a idiotice da frase anterior, óbvia em essência. Entendera a preponderância da sociedade sobre o indivíduo e a norma jurídica como decorrência da regra moral. Quanto mais desenvolvida a sociedade, mais próximas estavam as regras morais das normas jurídicas. Os suíços não cospem uns nos outros, normalmente. Em decorrência, é proibido cuspir nos outros na Suíça. E todo mundo lá acha natural não cuspir nos outros. A mesma lei não teria aplicabilidade prática em outro país onde houvesse o hábito de cuspir nos outros. Entendera que a regra moral diz respeito a uma determinada sociedade em um determinado tempo.

O Velho já estava no segundo Cohiba quando Raimundo começou a discorrer sobre a estratificação social. Mostrou o exemplo indiano como um extremo da separação da população em castas. Mostrou também o outro extremo, quase desestratificado, dos Kibutz israelenses. Lendo sobre tudo isso, Raimundo teve o lampejo do que chamou de TAI - Teoria do Abandono Inglês. Deixou claro que o inglês não era necessariamente um inglês, poderia ser qualquer povo conquistador e colonizador extrativista, como russos, franceses, belgas, holandeses, alemães, espanhóis e portugueses.

Havia dois momentos notáveis na história dos conjuntos de povos nômades ou tribais. A chegada dos ingleses e a saída dos ingleses. Temos exemplos claros na Ásia, na África e nas Américas do Sul e Central. Os ingleses chegaram, subjugaram as tribos em luta, e estabeleceram através da força sociedades relativamente estáveis, apesar da incompatibilidade das regras morais, de grupo para grupo. A estabilidade durou enquanto a mão de ferro dos ingleses esteve presente. Quando saíram, deixando algum governo “democraticamente” escolhido por eles, estouraram guerras étnicas e tribais.

A queda da Cortina de Ferro dera novos exemplos dramáticos, como a divisão dos países balcânicos. Retirada a mão da extinta URSS, as novas repúblicas entraram numa guerra selvagem e incompreensível para quem não leu a história deles. Também para quem leu.
Zé Tongo achou interessante, mas não conseguia enxergar a relação disso com Cotra. Raimundo respondeu que a Cotra nascera e crescera num sistema de cooperativas. Cooperativas congregam grupos com interesses afins, compondo uma sociedade. Se não houvesse os ingleses para manter a coesão, entre os diversos grupos sociais, havia uma tendência à desagregação social. Os grupos com interesses distintos passariam a disputar os recursos, isto é, o dinheiro, o capital. No caso da Terra Futuris os ingleses haviam se recolhido e deixaram o país à mercê dos antigos grupos de poder, exploradores iniciais dos recursos primários. A falta de um elemento interno de coesão, ou de alguma ameaça externa, pulverizou o poder em dezenas de pequenos (em número) grupos, cada um puxando a brasa para o seu assado. Um imenso assado, por sinal. Após longa ausência, os ingleses voltaram através da área de serviços.

Em pouco tempo as minorias sociais e econômicas se uniram em ações conjuntas para conquistar o poder. Tudo para dividi-lo logo após, na busca de suas conquistas individuais. Assaram o clássico bolo do Delfim para fatiá-lo desigualmente e brigar pelas maiores fatias ou migalhas. As minorias sociais criaram grupos estruturados com representantes nas instituições do estado, abrigados por partidos políticos que nasceram e cresceram dos chamados excluídos sociais. Findo o processo de tomada do poder, pela via democrática, os excluídos passaram a ser os incluídos, e vice-versa.

A norma moral individual de cada grupo deixou de ter reflexo na norma jurídica. Criou-se um enorme abismo ético e moral entre alguns grupos. A norma jurídica perdeu sua aplicabilidade em muitos aspectos. Quando se deixa de cumprir uma lei, e nada acontece, há uma tendência à desobediência de outras. Inicia com as pequenas contravenções e vai crescendo até os crimes penais.

Quando o estado deixa uma lacuna, logo alguém a ocupa. Praticamente todas áreas de competência do estado hoje estão ocupadas pela iniciativa provada. Ensino, segurança e saúde são os primeiros exemplos de lacuna deixada pelo estado.

Raimundo contou que entendera o que estava acontecendo quando percebeu que haviam sido criadas estratificações vertical e horizontal na nossa sociedade. Havia a casta dos grandes empresários com suas confrarias, como a Fiesp e a Feder-qualquer-coisa. Os antigos ingleses voltaram. Empresas de telecomunicações e bancos são deles. Portugueses, espanhóis, italianos, bascos, realmente ingleses, norte-americanos, todos estão aí. Os bancos têm sua própria casta, todos confrades na Febraban.

Os sem alguma coisa reuniam-se em torno dos MST, U, V, W, etc. Estas confrarias elegem parlamentares para manter seus interesses preservados na norma jurídica. As lideranças de algumas organizações não têm o mínimo interesse na solução de todos os problemas dos seus representados. Sem o problema para que solução? Deixariam de ter importância e perderiam seus eleitores. Para que serviria um representante do MSTeto se houvesse teto para todos? Basta fazer bastante barulho e levar umas cacetadas de vez em quando, para aparecer na mídia. Assim a reeleição fica garantida.

A leitura das novas, quando voltou da última viagem, deixara Raimundo particularmente preocupado. Uma confraria de bancos organizara um seminário sobre juros bancários para mais de 40 juízes, alguns das maiores instâncias, numa praia paradisíaca, com viagem e estadias pagas. Não sabia se isso era legal, mas com certeza estava muito longe da sua noção de ética. Mostrava o poder dessas confrarias.

Fez-se o silêncio quando Raimundo parou de falar. Todos se acomodavam nas poltronas como se dissessem: - onde ele quer chegar? Ele continuou. Chegara a uma conclusão: o maior problema da Terra Futuris era a falta de um arcabouço moral compartilhado pela maioria dos segmentos da sociedade. Algo simples e enxuto. Se houvesse, a norma jurídica o refletiria.
Contou também que refletira muito sobre o problema e acreditava que algo poderia ser feito para mudar a situação.

Zé Tongo foi o primeiro a se manifestar.

- Então esta não é uma reunião de negócios?

Raimundo se preparava para responder que não, quando o Velho atalhou:

- A princípio parece que não, mas, pensando bem, se alguém conseguir melhorar o caos que está instalado por aí, certamente fará bem para os negócios. Já gastamos horrores para sustentar um estado falido e omisso. Qual é a idéia?

- Eu tenho participado de uma atividade voluntária, como todos vocês, pelo que sei.

Todos assentiram. Continuou:

- As coisas que me atraem no grupo do qual faço parte são a confiança mútua e a ausência de interesses outros que não os de fazer algo em prol de outros. Entro lá sem levar a carteira, não preciso dela. Há um clima de desarmamento. Percebo agora o porquê. Simplesmente, porque o nosso código moral é o mesmo. Não cuspimos na rua, não roubamos, etc.

- Ninguém ali é um poço de virtude, somos apenas razoavelmente e suficientemente bons. Confiamos uns nos outros porque nada ganhamos materialmente. Esta possivelmente é a chave do problema. E da solução. Não dá para confiar num bom samaritano profissional, como os detentores de cargos eletivos em geral tentam se colocar. Para eles basta parecer decente. A imagem é o que conta.

O Velho conseguiu falar enquanto soltava rodelas de fumaça do Cohiba.
- É por isso ninguém desentope esgoto, o trabalho não aparece. Quando tudo alaga, é fácil dar a culpa para São Pedro.

- Exatamente. Pensem nisto: trabalhamos voluntariamente sem esperar qualquer tipo de agradecimento por isto. Queremos unicamente a recompensa de ter feito algo que possa estar melhorando a vida de alguém. Além disso, a confraria é um lugar para relaxar e afugentar um pouco do stress.

- Pensem mais: quantas pessoas das relações diretas de vocês poderiam fazer parte de grupos de trabalho voluntário? Em quantas pessoas vocês confiam cegamente? Não muitas, mas há algumas com certeza. Minha idéia não é muito complicada. Creio que precisamos unir de alguma forma as pessoas que trazem uma boa bagagem moral e ética. Poderemos fazer a diferença, quando unidos.

- Pensa em fundar mais um partido político? Zé Tongo imaginou que de nada adiantaria levar pessoas decentes à política partidária, pois ficariam engessados na luta pelo poder e pela hipocrisia inerentes à atividade política.

- Não, cairíamos na vala comum. Ninguém mais acredita em partidários mesmo. No meio do mar de promessas padronizadas apenas alguém muito ousado poderia se destacar. Alguém que utilizasse um discurso como “Não sou perfeito, não prometo nada antes de descobrir o tamanho do buraco no qual caímos, não dou beijo em todas as criancinhas e sou humano”. Neste eu votaria.

- A única forma de manter uma confraria decente é manter o dinheiro longe dela. Nosso desafio é a criação de um sistema de confrarias de voluntários, seja em que área de atuação for. Os voluntários tendem a ser pessoas semelhantes, nos aspectos éticos e morais. Há os voluntários involuntários que trabalham para somar pontos nos programas de gestão de pessoas de algumas empresas. Não é difícil identificá-los. Outra coisa importante é não pagar nada nem cobrar nada.

- Vamos formar grupos de até 100 pessoas, todas voluntárias, para trabalhar em atividades beneficentes. Pode ser qualquer coisa. Desde que não seja paga. Cada grupo deverá escolherá livremente um coordenador, através do método que julgar mais conveniente. Os coordenadores de grupos se reunirão em supergrupos de 100, representando assim 10 mil pessoas. Estes últimos se reunirão em hipergrupos de 10, representando 100 mil pessoas, e assim por diante. Os coordenadores dos grupos de hierarquia superior serão criados à medida que forem necessários e terão como finalidade primordial a manutenção da coesão das confrarias e o cadastro dos participantes. Cada grupo deverá tentar criar novos grupos de mesma hierarquia em outras localidades. A escolha dos voluntários será atribuição dos próprios, sendo necessária aprovação por unanimidade. Os membros de cada confraria serão conhecidos apenas pelos seus pares.

- Os jovens deverão ser a prioridade do esforço. Ainda carregam uma carga moral e ética preservada. Já notaram o trabalho feito pelos jovens na justiça? Além de ainda não estragados, apresentam a disposição necessária para este tipo de empreitada.

- Como conseguiremos financiamento?

O Japa sempre pensava no aspecto econômico.

- Não há financiamento, a princípio. Espera-se que os voluntários mantenham suas próprias atividades. Se alguém precisar de dinheiro, deverá buscá-lo. Há empresas e pessoas dispostas a gastar com benemerência, mesmo ficando incógnitas. O importante é não manter caixa. Onde há acúmulo, há tentação. Devemos tentar manter grupos de serviços, como conseguir trabalho, por exemplo. Um voluntário pode dedicar seu tempo a conseguir trabalho a outrem. Outro poderá dar emprego, contribuindo desta forma.

- O assistencialismo de esmola ou sacola não deverá ser incentivado, pois não resolve muita coisa e exige dispêndio de recursos. O dispêndio exige acumulação, que traz a tentação. Já há instituições oficiais e informais atuando no sacolismo. Se estiverem fazendo um bom trabalho, ótimo. Devemos dar preferência à educação, ao ensino, ao saneamento, à saúde e ao trabalho. Vamos incentivar médicos, dentistas, professores, e todos os tipos de profissionais a dedicar algumas horas do seu tempo para atender pessoas necessitadas. O importante é criar um grupo, pelo menos, por localidade. Deveremos estar presentes onde houver gente.

- Por que distinguir educação de ensino?

Quis saber o Japa.

- Educação é o ensino das regras morais e éticas feito pelos pais. Ensino é a instrução formal recebida nas escolas. Hoje há uma tendência de empurrar a educação para a escola e à televisão. O resultado depende da orientação da primeira e do programa sintonizado na segunda. Se vocês colocarem seus filhos numa pré-escola ou escola que não reflete seus padrões morais e permite que assistam a qualquer programa de Tv, não pode se queixar do resultado. A escola também educa, mas não deve ser a fonte primária.

- Conheço gente que se encaixa neste perfil do voluntário, mas já participam de outros empreendimentos de voluntários. Como convencê-los?

Zé Tongo tinha vários nomes em mente.

- Não os convença. Se já são úteis em outro empreendimento, deixe-os lá. Saberemos contatá-los mais tarde. Hoje eles farão falta onde estão.

O Japa também pediu a palavra.

– Não há como não gastar com cadastro e a logística básica, comunicação, etc. De onde virá o dinheiro?

- A Cotra fará doação de dez por cento do seu lucro, se os cooperativados, vocês, concordarem.
Todos assentiram.

- O que ganharemos com isso, no bom sentido – isto é, sem falar em dinheiro?

- Mobilizaremos pessoas que acreditam no bem a agem e vivem de acordo com uma ética semelhante a nossa. Como efeito colateral aumentaremos o trabalho voluntário. Isto, por si só, já recomenda a empreitada. Todos nós conhecemos pessoas boas, que conhecem outras, e assim pó diante. Cada pessoa que ingressar nos grupos poderá trazer novas pessoas e, eventualmente, criar novos grupos.

- Já há outras organizações que agem assim.

O Japa pensava nos Rotacionais, os Felinos e outras agremiações menos públicas.

- Realmente há, deixe que façam seu trabalho. Seremos apenas uma nova opção.

- Não sofreremos pressão da sociedade política?

- Não, ficaremos pouco visíveis. Como não há dinheiro envolvido a sociedade política não se interessará. Deixaremos que cada grupo assuma sua própria identidade e seu modo de operação. Assim ficará mais complicado pressioná-los, pela falta de um comportamento previsível. Também não ocuparemos espaço na mídia, não faremos passeata nem campanha. Seremos completamente desinteressantes para os partidos políticos. O Japa poderá inventar alguns sinais que os membros dos diversos grupos poderão utilizar para se identificar. Nem sofisticado, nem secreto, basta mostrar que é um Voluntário.

O Japa continuava inquieto.

- Não há o perigo de alguém contabilizar nossas façanhas?

- Há. Que contabilizem se assim o desejarem. Mas não sobre a nossa esfera de influência, pois haverá fidelidade.

O Velho se acomodou na poltrona e pediu algo para beber. Cerrou levemente os olhos enquanto dizia:

- Que diferença faremos no meio desta zorra?

- Quando formos em número suficiente, faremos toda diferença do mundo. Poderemos eleger nossos representantes e mudaremos a norma jurídica de acordo com aquilo que acreditamos. Tudo com representatividade.

- Quando o fizermos, não ficaremos iguais aos outros partidos políticos?

- Não. Raimundo respondeu apenas isto.

- Como faremos para não cair na mesma?

- Na hora saberemos.
Raimundo até sabia a resposta, mas preferiu não falar. Na hora apropriada saberiam como agir.

Encerrando a reunião, propôs um brinde com cerveja inglesa. Exceção foi o velho – preferiu algo escocês.

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