Quarenta Histórias
Quarenta Histórias
Por Paulo Heuser
Em tempo de formaturas, temos a tendência de considerá-las todas muito semelhantes, a mesma combinação de togas, músicas tema, autoridades, homenageados, famílias, formandos, hinos e protocolos. Assisti ontem à cerimônia da Faculdade de Odontologia da Ufrgs.
Por Paulo Heuser
Em tempo de formaturas, temos a tendência de considerá-las todas muito semelhantes, a mesma combinação de togas, músicas tema, autoridades, homenageados, famílias, formandos, hinos e protocolos. Assisti ontem à cerimônia da Faculdade de Odontologia da Ufrgs.
Afora autoridades, homenageados e funcionários, todo mundo estava lá para homenagear algum formando em especial. Acabei me distraindo um pouco com os personagens outros, que estavam trabalhando na cerimônia, enquanto aguardava a vez da formanda motivo da minha presença.
Operadores de câmeras e fotógrafos vestiam preto para não chamar a atenção sobre si. Impossível não perceber a presença de um operador de cabo (um cabista?) que auxiliava o operador da câmera de vídeo. Sua função era a de evitar que o cabo se enrolasse ou que o operador da câmera tropeçasse nele. O rapazinho corria atrás do chefe tentando prever a direção que este tomaria, feito reboque desorientado.
A cena me lembrou de um amigo, já falecido, que comprou uma velha motocicleta alemã da marca Zündapp necessitando de algumas pecinhas, como uma caixa de câmbio. Contou com a ajuda de um amigo para rebocá-la até em casa, usando para tanto uma Lambreta e uma corda. Numa esquina se desentenderam quanto a direção a ser tomada. Um foi para a esquerda, o outro foi reto.
Voltando a cerimônia, percebi o que diferencia as formaturas, umas das outras. A primeira diferença está nos discursos. Foram 40 discursos de 40 formandos. Em cada um, uma história de vida. Algumas semelhantes, nenhuma igual às outras. Em todas uma sensação de vitória pela conquista do diploma.
Os discursos proferidos pelos formandos têm a mesma estrutura básica. Iniciam pelos agradecimentos à família, namorados, à faculdade, etc. Mesmo aí ocorrem variantes importantes.
Em pelo menos quatro discursos, além dos agradecimentos usuais, agradecimentos aos pacientes, figurantes anônimos no processo da conquista do diploma. Fiquei imaginando a situação dos familiares no pós-diplomação: "E aí paizão! Vamos treinar? Agora não precisas mais daquele dentista". Quem é pai participa, não é?
Dos discursos, o que chamou mais a atenção, e levou às lágrimas tanto a própria formanda como a platéia, foi o proferido por uma menina que agradeceu à família, declarando, emocionada, ser a décima filha de um casal de pequenos agricultores. Dez filhos graduados. Com a voz embargada pela emoção, afirmou que o Brasil seria um país muito diferente se todas famílias fossem como a dela. Ganhou a noite. E o futuro.
A outra grande diferença desta formatura foi a qualidade dos sorrisos. Quarenta sorrisos perfeitos e alvíssimos, feito 40 teclados novos em folha.
E-mail: prheuser@gmail.com
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