2.10.06

Acarajé de Chuchu

Acarajé de Chuchu
Publicada na Gazeta do Sul de 04/10/2006

O picolé de chuchu acabou virando acarajé de chuchu, com certa dose de pimenta. O que tinha tudo para ser uma eleição tão emocionante como uma corrida de F1, com o Schumacher ganhando todas, acabou virando uma batalha que durou horas de fortes emoções, com pequenos avanços e recuos. Não sobraram unhas, nem dos pés, nos comitês eleitorais. Roeram tudo.

Quem levou a maior surra nesta eleição foram os institutos de pesquisa de intenção de voto. Nada deu certo. Provaram novamente ser autores de pesquisas indutoras, não induzidas.

Para muitos eleitores a urna eletrônica é uma espécie de jogo eletrônico enigmático. Como não sabem como converter sua intenção de voto na digitação dos números dos candidatos, eles acabam fazendo um jogo “no escuro”. Querem apenas livrar-se do dever do voto. De que adianta obrigar pessoas completamente alienadas politicamente a votar? Algumas catam santinhos no chão, próximo às zonas eleitorais, procurando em quem votar, no último minuto. Na barafunda de números de quatro, cinco, três e dois dígitos, perdem-se e não sabem como proceder.

No Rio de Janeiro furtaram 12 urnas eletrônicas, que hoje devem estar funcionando como máquinas de vídeo-pôquer. Um full hand pode ser feito com três Alkmis e dois Lulas ou com três Lulas e dois Alkmins. Qual valerá mais? Saberemos somente em 29 de outubro.

São Paulo mostrou ser um estado de tradições. Paulo Salim Maluf arrasou novamente, com mais de 700 mil votos, o primeiro colocado na disputa para deputado federal naquele estado. Estando bem para ambas as partes, sabe lá quais, Celso Russomanno chegou em segundo lugar, seguido de perto pelo Clodovil. Eleito, este declarou não saber que tipo de projetos levará à Câmara. Certeza, apenas de entrar chiquérrimo. Em quarto lugar aparece o Enéas Carneiro, que não conseguiu repetir o milhão e meio de votos de outro pleito. A perda concomitante da barba e dos eleitores pode indicar a existência de uma versão caprina de Sansão, sem bomba atômica até o momento. Perdeu a barba, perdeu a força. O denunciado mensaleiro João Paulo Cunha, absolvido pelos pares e pelos eleitores, acabou como candidato a deputado federal mais votado do seu partido.

Lá também foi eleito Frank Aguiar, famoso forrozeiro. Segundo alguns potiguares, o termo forró é uma redução de forrobodó, palavra que pode assumir múltiplos significados como arrasta-pé, farra, confusão e desordem. Isto explica algo.

Lá de cima vêm notícias sobre as derrotas de Severino e Suassangue, não, Sanguessua, não, sei lá! Em compensação, o homem que levava George Washington nas cuecas conseguiu reeleger-se, bem como seu genuíno irmão. E entrou areia no bobó do Toninho. Fernando Collor de Mello volta triunfalmente, agora ao Senado.

É a democracia!

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