A Missão de Alex
A Missão de Alex
Por Paulo Heuser
Sempre fiquei intrigado com os motivos que levam alguém a assumir a profissão de demolidor de bombas. Não consigo me imaginar agachado ao lado de um pacote contendo explosivos, tentando desarmar o dispositivo de detonação. Vestindo um traje de proteção, encharcados de suor, o coração disparando, a tremedeira mal controlada, devo escolher o fio correto para o corte. Sempre é o vermelho. Só que este terrorista em especial era daltônico e colocou apenas fios verdes. Todos os fios em tons de verde. Não é uma profissão, é uma missão.
Por Paulo Heuser
Sempre fiquei intrigado com os motivos que levam alguém a assumir a profissão de demolidor de bombas. Não consigo me imaginar agachado ao lado de um pacote contendo explosivos, tentando desarmar o dispositivo de detonação. Vestindo um traje de proteção, encharcados de suor, o coração disparando, a tremedeira mal controlada, devo escolher o fio correto para o corte. Sempre é o vermelho. Só que este terrorista em especial era daltônico e colocou apenas fios verdes. Todos os fios em tons de verde. Não é uma profissão, é uma missão.
Outras profissões também se caracterizam pelo alto grau de periculosidade, como as de policial que atua nas ruas, bombeiro e atendente da saúde pública. Acordam, tomam o café, por vezes com a família, e saem em direção ao trabalho sem ter a mínima idéia do que enfrentarão durante o dia e se haverão outros cafés da manhã. Certezas, apenas de que têm uma missão a cumprir e do baixo salário, ou soldo. Não são movidos exatamente pelo dinheiro. O que os moverá então? Paixão pelo perigo? Extremo altruísmo?
Alguns trabalhos perigosos não passam despercebidos. É o caso do trabalho do Alex. Este não é o seu nome verdadeiro. Necessita manter-se incógnito. Alex também tem certeza da baixa remuneração e o extremo perigo que corre. Ao contrário do que ocorre em outros tipos de trabalho, Alex recebe uma ou mais missões por dia. Não há missões de longo prazo e todas são cruciais e decisivas. Se não cumpri-las, nada perceberá. Pessoas dependem dele.
Alex fará tudo ao seu alcance, e até fora dele, para cumprir cada missão, arriscando a própria vida e a de outros, caso necessário. Afinal, o que importa é a missão. Não há vazamento prévio do teor de cada missão. Quando chegar a hora, receberá um papel com a descrição do próximo desafio. Também não há como escolher, é pegar ou pegar.
No trânsito, Alex gostaria de ligar a sirene, mas não lhe permitem. Correria menos risco quando é obrigado a cumprir missões impossíveis. Ziguezague entre os outros veículos, em alta velocidade, cruzar sinais vermelhos, trafegar sobre calçadas e na contra-mão, tudo faz parte de uma missão. E o importante é cumprir a missão.
Curiosamente, Alex gosta de assistir aos seriados sobre emergências médicas. Talvez tenham influenciado na escolha da profissão. A tensão e o perigo sempre presentes permitem traçar um paralelo entre o seriado e o trabalho. Na tv, uma ambulância cruzava as ruas de NY em alta velocidade, desviando dos carros, para entregar um paciente na emergência do alguma-coisa-Memorial.
Até o horário do seriado, Alex contabilizava 21 missões cumpridas e ainda estava vivo. Já entregara 18 pizzas e três calzones.
E-mail: prheuser@gmail.com
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