11.10.06

Bratwurst Und Stetson

Bratwurst Und Stetson?

Por Paulo Heuser

Sala de espera do médico. Lugarzinho desagradável este. Gostamos tanto deste ambiente como gostamos de supermercados e funerárias, não necessariamente nesta ordem. Olho para o sujeito que acabou de entrar, cumprimentando-o com aquele boa tarde padrão de sala de espera. Qual será a pereba dele? Será grave, contagiosa? A mulher sentada à direita está preparando o bote. Vai puxar a conversa que não conseguiu travar comigo. Alguma troca de experiências sobre perebas. Quando entra outro sujeito, com uma pasta enorme, percebo que a coisa vai longe. Chegou o homem das amostras grátis e dos brindes. Ele sempre fura os horários marcados.

Alheio ao ataque, olho para a pilha de revistas com aparência sebenta. Por que não fornecem luvas para manusear revistas de consultório? Há uma revista de bordo Ícaro, do tempo em que o filho de Dédalo ainda não havia mergulhado no Egeu. Escolhi uma Isto É de – Cruzes! - 1999. Vou doar minhas revistas velhas ao médico. Ele parece precisar delas. E o filho dele poderá recortar coisas novas. Há um enorme artigo sobre a Festa do Peão Boiadeiro de Barretos. Já naquela época, quase dois milhões de pessoas acorriam á festa. Isto é, mais de um por cento da população do País! Haja agroboys e countrycinhas! Em apenas três dias haviam consumido dois milhões de latas de cerveja. E gastado horrores comprando chapéus da marca texana Stetson, bem como calças Wrangler e camisas Ralph Laurent. Mudaram o Texas para lá, com música e enormes fivelas de cinto. Nas esquinas, neo-texanos embriagados tentavam laçar, literalmente, as poucas mulheres que por lá se aventuravam. Um banho de cultura tradicionalista. Cada macaco no seu galho. Ou com o seu espelho? Lá, entre Alckmin e Lula, votariam no terceiro, George Bush, já que Lyndon Johnson se foi.

Cada etnia faz a sua festa. Os descendentes de italianos fazem a Festa da Uva, do Champanha, do Vinho, enquanto os descendentes de alemães fazem as Oktoberfest. Os tradicionalistas gaúchos têm a Semana Farroupilha e outros eventos culturais. Os afrodescendentes festejam o Carnaval e Iemanjá. Poloneses, portugueses e russos, todos tem seus eventos típicos. É a preservação da cultura pelos descendentes dos imigrantes. Por que os barretenses não podem manter sua cultura texana? São os ascendentes preservando a cultura dos futuros emigrantes. Na Oktoberfest de Blumenau, quem for em trajes típicos não paga ingresso. Se fizerem o mesmo em Barretos, a renda será zero.

Gosto muito da Oktoberfest. Pode-se sentar à sombra de uma árvore e comer Weisse Bratwurst (salsicha branca grelhada) com Sauerkraut (chucrute), batatas cozidas e pão preto. Com muita mostarda. Para não me engasgar, um chope. Ou dois, já que é fácil engasgar-se com o pão. Para os ouvidos, uma furiosa bandinha, preferencialmente um pouco desafinada pelo chope. Nas cidades de colonização mista ocorrem festivais maravilhosos, unindo culturas. Tendas oferecem o que há de melhor na gastronomia, música, dança e artesanato de cada cultura. Salsichas, espaguete, chucrute, galeto, polenta, churrasco, carreteiro, chope, cachaça ou vinho, vale tudo, dentro das tradições.

Só não esperem que eu vá trocar meu chapéu bávaro verde por um Stetson. Afinal, paguei 15 reais pelo meu, e já veio com uma pena! Tampouco esperem que eu troque Trink Brüderlein Trink, Funiculì Funiculà ou Canto Alegretense pelas Na Sola da Bota ou Vou Pra América.

Cada macaco no seu espelho.

E-mail: prheuser@gmail.com