O Dilema do Prisioneiro
O Dilema do Prisioneiro
Por Paulo Heuser
Emocionante o final da história de Márcio José Ramos, ex-vigia do Porto Alegre Country Club, que ganhou uma casa nova devido ao reconhecimento da sua honestidade. Devolveu um envelope contendo seis mil dólares ao empresário que o perdera durante um jogo de golfe. Em que outro esporte um atleta perderia tal quantia? Uma associação de trabalhadores da construção civil acabou lhe doando uma casa, entre outras coisas. Nestes dias tão obscuros, eticamente falando, trata-se de um feito importante. Melhor seria se fosse fato corriqueiro. Mas, não o sendo, é justo que se premie aquele que tanto se destacou. E que foi chamado de idiota, devido à sua honestidade.
Não sei porque, lembrei-me do Dilema do Prisioneiro, ao ler a notícia sobre a premiação do justo. O Dilema do Prisioneiro é uma demonstração matemática de que nem sempre o que parece ser a melhor estratégia individual, dá os melhores resultados. Este teorema faz parte da Teoria dos Jogos. Em determinados problemas, como os oferecidos pelos mercados econômicos com diversos agentes, esta ciência procura encontrar as melhores situações estratégicas, levando em conta a existência de concorrentes com estratégias próprias e conflito pelos objetivos comuns. Quem notabilizou a Teoria dos Jogos foi John Nash, Nobel de Economia de 1994, cuja biografia inspirou o filme Uma Mente Brilhante (2001), de Ron Howard.
No Dilema do Prisioneiro, dois acusados por um crime menor, mas suspeitos de ter cometido também outro maior, são isolados em celas diferentes. A promotoria só dispõe de provas para condená-los a um ano de prisão, pena pelo crime menor. Se A delatar B, A sairá livre e B será condenado a três anos de prisão, pelo crime maior. Se B trair A, delatando-o, inverte-se a situação. Caso tanto A como B traírem-se mutuamente, cada um pagará pena de dois anos de prisão. Ou seja, a melhor estratégia individual seria a delação onde o outro não a pratique. Mas, sendo a melhor estratégia individual, ambos a utilizariam, acabando em perda geral, pois cada um ficaria preso por dois anos. Este é um tipo de jogo chamado de soma não-zero, que se aplica aos estudos em múltiplas áreas de conhecimento, como a Sociologia, a Economia e a Biologia.
Márcio acabou demonstrando o Dilema do Prisioneiro, na prática. Que cócega nos dedos sabe fazer um envelope com seis mil dólares. Ainda mais nos dedos de quem sente de perto o gosto da miséria. Márcio jogou com o que parecia ser a pior estratégia individual e levou o maior prêmio. Ponto para Nash que previu a existência de um ponto de equilíbrio - o melhor para todas as partes -, ponto para Márcio, que provou, contra tudo que se vê por aí, que há gente honesta. Ponto também para os que lhe doaram a casa. Com certeza, o ato rendeu-lhes, pelo menos, a publicidade.
Muhammad Yunus, Nobel da Paz 2006, com seu Grameen Bank, já concluíra que os pobres são os melhores pagadores de empréstimos, mantendo pontualidade superior a 97 por cento. Será a pobreza uma virtude ética?
Mas, o que marcou mesmo nesta história foi a cena do homem honesto chorando lágrimas de felicidade. Cena rara, extremamente rara.
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