Ovo No. 20
Ovo No. 20
Por Paulo Heuser
A origem do costume de dar ovos de Páscoa perde-se no tempo. Há relatos ancestrais desse costume no oriente e no ocidente. Os primeiros ovos presenteados foram os de galinha e ganso, ou outras aves disponíveis no local. Alguns estudos relatam o culto à divindade anglo-saxã Ostera (Eostre), pelos germânicos da Alsácia e da Renânia, Alta e Palatinado, onde aquela apareceria segurando um ovo e observando um coelho. Ovos e coelhos sempre foram associados à fertilidade, cultuada pelos primitivos nos rituais dos equinócios – no hemisfério norte. Os judeus comemoram o Pessah, entre 15 e 22 do mês de Nissã (março/abril), festejando a saída do Egito.
A igreja católica acabou associando as festividades religiosas da morte e ressurreição de Cristo à efeméride pagã e à judaica. Permaneceu muito vivo, na Europa, o costume de se darem ovos de presente. Do calendário judaico, baseado nas fases da Lua, veio também a data da comemoração da Páscoa. Ocorre no primeiro domingo após a lua cheia que sucede a passagem do equinócio de passagem para a primavera – no hemisfério norte, entre 22 de março e 25 de abril. Daí provém a confusão do estabelecimento da data de outros eventos, como o Carnaval, Quaresma e Pentecostes.
Lembro-me bem da Sexta-Feira da Paixão, quando criança. Em respeito à data, as rádios tocavam apenas músicas clássicas ou sacras, bem como os temas musicais dos grandes épicos bíblicos cinematográficos. Havia silêncio nas ruas, quebrado apenas pelos vendedores de macela, colhida no raiar do dia. Os sinos das igrejas não tocavam. No sábado, grande excitação! O que traria o coelho da Páscoa? Aquele dia não passava nunca. A única distração vinha da cozinha, onde se preparavam os ovos e coelhos de amendoim e massapão.
Chegado o Domingo de Páscoa, após aquele sábado interminável, chegava também a hora da caça aos ovos, logo ao amanhecer. Ovos de galinha pintados, ovos de açúcar decorados, ovos de licor, ovos de amendoim e massapão e os tão esperados ovos de chocolate, embrulhados em papel celofane. Os maiores poderiam conter algum tipo de recheio, descoberto ao sacudi-los. Além dos ovos, os ninhos poderiam conter coelhos ou outras formas feitas de chocolate, como motocicletas e carros.
O costume de se presentear os outros com ovos permaneceu até os dias de hoje. Atribui-se a confecção dos primeiros ovos de chocolate aos confeiteiros franceses do Século XVIII. A globalização chegou também aos ovos. Além de assumirem marcas de chololates em barras, obedecem a uma padronização que chega a ser assustadora. Antigamente colocava-mos os ninhos na balança para verificar quem ganhara mais chocolate. Hoje basta que contabilizem o número e o tamanho dos ovos, também representado através de um número.
Permanece um mistério, no entanto. Quem definiu que os ovos deveriam ser os de No. 20? Foi Ostera?
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Marcadores: Celtas, coelho, Ovo de Páscoa, Palatinado, Renânia
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