15.3.07

Semáforos e Rotundas

Publicada no jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul, em 17/03/2007
Esta a ducentésima postagem, no mês do primeiro aniversário deste sítio.



Semáforos e Rotundas

Por Paulo Heuser

Dizem por aí que os primeiros semáforos de trânsito foram instalados em 1868, defronte ao Palácio de Westminster, sede do parlamento inglês, em Londres. Aqueles semáforos utilizavam luminárias a gás, acionados através de alavancas colocadas na base do poste. Ou seja, havia um policial operando o dispositivo. Contam que o primeiro espécime explodiu, realizando o sonho de muitos motoristas contemporâneos. Ainda me lembro do primeiro semáforo instalado em Santa Cruz do Sul, no cruzamento das ruas Marechal Floriano e Júlio de Castilhos. O semáforo virou assunto obrigatório na cidade. Famílias inteiras foram assistir, in loco, ao funcionamento da coisa. Quase conseguiram criar um congestionamento de trânsito, pois todos queriam experimentar a sensação de serem barrados por uma máquina, não mais pelo brigadiano apitando e gesticulando sobre o cubo. Quase conseguiram, mas a largura das ruas não o permitiu. Hoje há um semáforo moderno, naquele local, que indica em quanto tempo se dará a transição dos sinais.

Para quem não costuma vê-los, os semáforos são aquelas latas amarelas, dotadas de três lâmpadas coloridas, nas cores verde, amarelo e vermelho, dependuradas em postes. Servem, hipoteticamente, para ordenar o fluxo do trânsito, evitando as colisões dos veículos nos cruzamentos. Quando há mais de duas vias, faz-se necessário o estabelecimento de tempos, ou fases, para cada via.

O significado de cada cor, na prática, varia conforme o tipo de veículo. O sinal verde, para os automóveis em geral, significa que podem seguir em frente. Carroças e lotações param, exatamente sob o semáforo, no meio da rua. O sinal amarelo também é interpretado de forma diferente, dependendo do tipo de veículo. Alguns motoristas freiam, outros aceleram. Talvez por esta razão as colisões costumam ocorrem no sinal amarelo. Para muitos motoristas de ônibus urbanos, o sinal amarelo apresenta significados distintos, dependendo da via em que se encontram. Quando estão na via do sinal amarelo, este indica que há uma excelente oportunidade para obstruir a via perpendicular, avançando quando não há espaço à frente. Quando estão na via perpendicular (no sinal vermelho), significa que devem arrancar antes que mude para o verde, uma questão de honra, aparentemente. Finalmente, o sinal vermelho também admite múltiplas interpretações. Para a maior parte dos condutores, significa que devem parar o veículo. Para carroças e bicicletas, nada significa. Para muitos motoristas de automóveis, se apresenta como uma ótima oportunidade para a criação de pistas de rolagem adicionais, pela direita, pela esquerda ou pelo centro. Aparentemente me esqueci das motos. Não, para elas os sinais nada significam, nenhum deles.

Quando há cruzamento de mais de três vias, implanta-se uma rotunda, ou rotatória, permitindo a entrada dos veículos conforme algum critério de preferência. Sabe-se apenas que estando lá dentro, só saímos quando desejamos, temos a preferência. Fico tentado a dar voltas e voltas na rotunda, só para sentir o poder, olhando com desdém os coitados que tentam ingressar nela. As rotundas de grande diâmetro, como a do Arco do Triunfo, em Paris, até que funcionam. As pequenas são fábricas de colisões, denunciadas pelo acúmulo de cacos de faróis e sinaleiras de automóveis.

Em Brasília as rotundas são conhecidas como “balões”. Imagine o tamanho do balão necessário para controlar o trânsito de todas aquelas correntes nos ministérios? Com as últimas nomeações e intenções, um semáforo teria mais de dez lâmpadas de cores diferentes, algumas de cores tão distantes no espectro quanto o vermelho está do violeta. Por outro lado, a Esplanada dos Ministérios forma uma boa rotunda.

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