Navegadores dos Maricás
Navegadores dos Maricás
Por Paulo Heuser
O Navegador (1988) é um filme dirigido por Vincent Ward. Feito na Austrália e Nova Zelândia, definitivamente não fez sucesso nos EUA, passando longe do modelo certinho da Academia de Hollywood e das salas cheias de trituradores de pipocas. O filme retrata uma pequena aldeia inglesa ameaçada pela peste negra, no século XIV. Guiados por um menino que tem sonhos fantásticos, com uma missão que poderá salvar a aldeia, os aldeões cavam um túnel desde lá até a Nova Zelândia do século XX. Não se trata de um filme de ficção científica, como poderia parecer à primeira vista. É um drama que utiliza o fantástico como alegoria. Nos sonhos do menino a aldeia seria salva se ele conseguisse colocar uma cruz sobre uma igreja do outro lado do túnel.
Por Paulo Heuser
O Navegador (1988) é um filme dirigido por Vincent Ward. Feito na Austrália e Nova Zelândia, definitivamente não fez sucesso nos EUA, passando longe do modelo certinho da Academia de Hollywood e das salas cheias de trituradores de pipocas. O filme retrata uma pequena aldeia inglesa ameaçada pela peste negra, no século XIV. Guiados por um menino que tem sonhos fantásticos, com uma missão que poderá salvar a aldeia, os aldeões cavam um túnel desde lá até a Nova Zelândia do século XX. Não se trata de um filme de ficção científica, como poderia parecer à primeira vista. É um drama que utiliza o fantástico como alegoria. Nos sonhos do menino a aldeia seria salva se ele conseguisse colocar uma cruz sobre uma igreja do outro lado do túnel.
Uma cena impressionante do filme é a da saída dos aldeões, através de um bueiro, em plena cidade do século XX. Hoje esta cena me veio à lembrança. Na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, aquela que contorna o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia). Por lá há muitos maricás, arbustos ribeirinhos que atingem boa altura, formando uma espécie de paredão verde, entre o parque e o Guaíba.
O que seria apenas uma barreira verde, com água de um lado, parque de outro, é, na verdade, algo muito mais complexo. Não é muito fácil vê-los, mas há seres que moram em algum lugar cuja entrada, ou saída, deve estar escondida em meio àqueles maricás. São mais facilmente observáveis no nascer e no pôr-do-sol, quando migram como siris na maré. Saem do meio dos maricás no início da manhã, retornando à tardinha. A aparência deles é muito semelhante àquela dos personagens do filme. Maltrapilhos, têm a aparência de quem vive à margem deste mundo - o institucionalizado -, socialmente, pelo menos. Homens, em sua maioria, caminham sem pressa, cruzando a avenida, talvez a procura de uma igreja para colocar sua cruz, como fizeram os personagens do filme.
Serão os habitantes de alguma aldeia portuguesa da Idade Média, ameaçados pela peste negra, procurando a salvação na sua colônia do futuro? Cavaram um túnel, de acordo com o sonho fantástico de algum menino, saindo entre os maricás?
Provavelmente, esses viajantes dos maricás não sonham com as pestes do século XXI. Não sonham, as vivem.
E-mail: prheuser@gmail.com
2 Comments:
Possivelmente esta irá para a coleção "Porto Alegre Invisível", como algumas outras, aquela do arquiteto, por exemplo.
Quase invisível. Quase.
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