Uma Crônica de Verão
Uma Crônica de Verão
Por Paulo Heuser
Chuva na praia pode ser bem-vinda. Quando chove à tardinha, parando pela manhã. Nada melhor para dormir. Contudo, quando a chuva vara dias a fio, torna-se incômoda, exigindo criatividade redobrada por parte dos veranistas. Há poucas alternativas de entretenimento. Após intermináveis partidas de canastra, buraco, sinuca e pega-vareta, o pessoal começa a ficar inquieto. Daí surgem as pescarias com bolinhos de chuva e alguma coisa quente para beber. Quem tiver José Saramago como companheiro de rede, certamente terá o que fazer, por muito tempo.
Por Paulo Heuser
Chuva na praia pode ser bem-vinda. Quando chove à tardinha, parando pela manhã. Nada melhor para dormir. Contudo, quando a chuva vara dias a fio, torna-se incômoda, exigindo criatividade redobrada por parte dos veranistas. Há poucas alternativas de entretenimento. Após intermináveis partidas de canastra, buraco, sinuca e pega-vareta, o pessoal começa a ficar inquieto. Daí surgem as pescarias com bolinhos de chuva e alguma coisa quente para beber. Quem tiver José Saramago como companheiro de rede, certamente terá o que fazer, por muito tempo.
Quando bate de vez a inquietude, surgem os esportes náuticos alternativos, como bocha no barro, corrida de tatuíras e surfe no gramado. O mau tempo se reflete também na alimentação. Sucedem-se churrascos, caldeiradas, feijoadas, macarronadas, mariscadas e outras adas. A olina com sal de frutas corre solta. Bebe-se de um trago só. Os veranistas planejam o almoço, durante o café da manhã, o jantar, durante o almoço e, porque não, a ceia, durante o jantar. Em meio a uma ceia dessas, assisti a um desafio original. Quem faria o café da manhã mais repugnante, pelos padrões alimentares considerados normais, pela maioria. Padrão normal é aquele do taça-pão-e-manteiga, aprovado pelas vovós e pelas tias velhas. Estabelecidas as regras, todos foram dormir, excitados pela perspectiva de grandes emoções na chuvosa manhã seguinte.
De acordo com o estabelecido durante a ceia, os concorrentes puderam escolher qualquer coisa que houvesse na geladeira e fora dela. Tiveram 30 minutos para freqüentar os mercados. Confesso que não resisti à tentação e me inscrevi na contenda.
Fui o primeiro concorrente a mostrar as habilidades culinárias praianas, abrindo a I Olimpíada Litorânea de Nojeira Matinal. Quase não dormi na noite anterior, planejando meu prato. Chegada a hora, espalhei cebolas fatiadas sobre uma caçarola, alho, rodelas de pimentão, pimenta vermelha, tudo regado com azeite e coberto com presunto, ovos e queijo. Uma autêntica fritada, de dar azia já durante o preparo. Pelas reações da torcida, recebi nota três, de cinco. O segundo concorrente não fez nem cócegas, limitando-se a colocar um filé à parmegiana dentro de um pão amanhecido. As tias nem torceram o nariz.
Chegou a vez do Inominável. Não sobrou panela sobre panela. Ele colocou banha de porco, uma camada de uns três centímetros, no fundo de uma panela, acrescentando bacon e rins de porco. Em meio à fedentina, intercalou a gosma resultante com camadas de pastéis e risoles de frango amanhecidos. Serviu frio, acompanhado de cerveja morna. Uma tia não conseguiu assistir à cena, correu antes para o banheiro. Ele recebeu nota dez, de cinco. Naquele dia não houve almoço nem ceia. E o jantar foi uma sopa rala de batatinhas e cenouras. Parou de chover, também, graças a Deus.
E-mail: prheuser@gmail.com
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8,2
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