2.2.07

Mixoscopia Brasil 7

Mixoscopia Brasil 7

Por Paulo Heuser

A palavra mixoscopia é um helenismo – se origina no grego. Há um sinônimo mais conhecido da mixoscopia: o voyeurismo, um galicismo desta vez, pois se origina no francês. Entre grego e francês, fico com o primeiro, pois tem mais história. Mixoscopia é a “perversão” daqueles que se excitam ao observar atos sexuais, entre terceiros, ou a nudez alheia, sem que possuam qualquer poder de interferência nos atos. É o clássico ato de espiar pelo buraco da fechadura. Ou pelo binóculo, nas cidades.

A Mixoscopia pode ser um ato pago ou amador, quando praticado sem remuneração da terceira parte, com o sem o consentimento dela. A mixoscopia amadora era forma mais praticada na antiguidade. Além dos buracos das fechaduras, as janelas de banheiros e os espelhos também foram muito utilizados pelos mixoscopistas. A modernidade trouxe os pip shows, casas da mixoscopia paga, onde os praticantes da “perversão” remuneram atores para simular a prática de atos sexuais, escondidos atrás de vidros que dificultam a identificação do cliente. Surgiram como cabines individuais, evoluindo(?) para salas coletivas, quase estádios. A Internet mudou bastante a realidade do mundo mixoscopista. Os pip shows afloram da rede dos digitalmente incluídos, se é que isto é, realmente, algum tipo de inclusão. O episódio Cicarelli é um ótimo exemplo de mixoscopia digital amadora, onde o praticante utiliza o buraco da fechadura do Youtube. Bem, não é exatamente de graça, pois se paga, de forma muito sutil.

Exemplos clássicos da mixoscopia paga são os reality shows, que da realidade nada têm, como os Big Brother Brasil, mega-pip shows, pagos através do consumo dos produtos anunciados nos comerciais ou da compra de pacotes pay per view – pagos por demanda. O fato é que uma boa parcela dos espectadores paga para ver o show. Paga, deixando a tv sintonizada naquele canal.

Como aqueles pip ou reality shows são praticados mediante remuneração, dependem da qualidade dos atores. O amador está apoiado pela espontaneidade. O profissional depende de preparo, do roteiro, dos números do Ibope. Quando este índice cai, aumenta-se a ousadia, anunciando previamente pela imprensa: vai rolar amasso pesado. Mesmo no cinema, apesar da polpuda remuneração, observa-se melhor qualidade quando os diretores e protagonistas priorizam a arte. A receita da sobrevivência dos reality shows é a troca dos personagens. Ninguém quer saber dos mesmos. A cada nova temporada, novo plantel. Antes escolhiam um plantel eclético. Agora é a vez dos sarados.

Shows que chegaram para ficar são os Shows da Câmara, onde os personagens que perpetuam as piores ações são reconduzidos a cada nova rodada. Ao contrário dos reality shows, aqueles começam com os mesmos personagens da edição anterior. Começa agora o regiamente pago Mixoscopia Brasil 7, com velhos e astutos jogadores, que, através do canal de tv próprio, certamente saberão roubar a cena. Novamente.

E-mail: prheuser@gmail.com