8.3.07

Dia das Mulheres

A Ordem Das Mulheres

Por Paulo Heuser

Às mulheres coube o papel de mártir, na História. Diz-se dos prostitutos que exercem a profissão por prazer, apesar da remuneração. Já delas, nenhuma virtude é enaltecida, afora a do próprio ato. São messalinas, megeras, devassas. Nada a dizer a respeito de quem as remunera. Quem tem o poder do capital sempre é puro. Na corrupção há apenas o corrompido. O corruptor aparece como uma espécie de vítima do sistema. Assim sempre foi com as mulheres. Hereges, como Joana D’Arc. Fogueira para aquelas que se sobressaíssem em alguma ciência. Bruxas, com certeza. Catarinas, Anas e Jane experimentaram a ira do Rei Henrique VIII. Muito antes disso, o apedrejamento das infiéis, ou assim consideradas, era a norma.

A elas cabe a reprodução, ativamente, apesar de serem consideradas passivas durante o ato. É delas que emerge o rebento, rebentando tudo pelo caminho, enquanto o exausto guerreiro distribui charutos ou bombons aos amigos do bar. Orgulhoso pelo feito. Às meninas as bonecas e as rendas. Numa vã tentativa de afastá-las do mercado de trabalho deles. São emotivas demais, dizem os concorrentes, quando elas agem, em verdade, com a razão. Chamadas de barbeiras no trânsito, quando não ultrapassam pela direita, nem o sinal. As seguradoras lhes dão bônus, pela menor periculosidade.

Quando chegam ao poder constituído, através do sufrágio, antes lhes negado, têm de suportar achaques dos colegas machistas, que lhes atribuem o papel de musas. Serão bibelôs parlamentares. Quando pilotam um avião comercial vêm as piadas e o espanto. Como ela aprendeu tal arte masculina? O pai a introduziu nas artes mecânicas, com certeza. Subverteu a ordem natural das coisas e lhe deu aeromodelos de presente, na infância.

Deixaram de assumir cargos de chefia nas empresas. Imagine só se engravidarem. Ficarão afastadas por muito tempo. E se o filho ou a filha tiverem febre no dia da reunião de diretoria? Nada como um homem para esses cargos. Estarão sempre disponíveis, mesmo quando os filhos estiverem doentes.

Freiras não rezam missas. Só podem rezar para si mesmas. Apenas os padres têm o poder de espalhar a palavra divina. Mesmo nas novas igrejas protestantes, nada se observa de progresso. Cabe às mulheres apenas o papel de pecadora. Redimida ou não, sempre a pecadora. Na hora de retirar o demo de dentro de alguém, este alguém sempre será uma mulher. Homens não incorporam o Inominável. Apenas as mulheres, fracas de espírito, na opinião dos homens, fracos de autoconfiança.

Os clubes ingleses, nos quais os homens fumavam charutos e liam o jornal, não admitiam mulheres. Assim é a maior parte das agremiações masculinas, leões, rotarianos, bisões, confrades e maçons. Dá para imaginar o poder que as mulheres perdem, sozinhas, contra essas confrarias? Um bando de barbados conspirando contra apenas uma mulher? Escoteiros podiam entrar no mato, aventurar-se. Meninas deveriam vender doces e acompanhar velhinhas. E assim a coisa segue, sem grandes mudanças.

Mulheres: aliem-se e conspirem. Reúnam-se em confrarias secretas, de bruxas, que seja. Exerçam seu poder. Recusem-se a tirar fotos ao lado dos velhos barrigudos da Câmara. Demitam homens que não cuidam dos filhos com febre. Façam loucas acrobacias com o seu avião de passageiros quando lhes contarem piadas sobre a comandante.

Sejam Damas de Ferro na Câmara, Joanas D’Arc nas reuniões da empresa e Madres Terezas de Calcutá consigo mesmas!

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