Um dia incomum
Um dia incomum
Por Paulo Heuser
Nigel acordou cedo, cinco horas antes de Paulo, que também acordou cedo, naquele domingo. Como? Ora, Nigel estava em Budapeste, Paulo no Brasil. Havia apenas quatro horas de diferença de fuso? Sim, se lá não houvesse horário de verão. Cristina também acordou cedo. Estava especialmente agitada, naquela manhã de sol de inverno.
Enquanto Nigel afivelava o cinto de segurança, Paulo ligou a TV. Protagonistas de um mesmo evento, separados por cinco horas e 11.115,07 km. Aquele dia seria muito diferente dos outros, para ambos, apesar de não se conhecerem.
As tomadas de tempo se sucederam, ao longo da manhã. Nigel recebeu placas de aviso dos tempos. Paulo cronometrou cada volta. Nigel completou a prova em 1h49m39s3. Paulo afivelou o cinto quando Cristina andava na razão de três minutos por volta. Entraram no box, pela primeira vez, às 11h04. A segunda vez foi às 11h21. Cristina apertou o ritmo, deixando claro que, naquele dia, tudo seria diferente. Talvez o suspense se devesse ao fato de ser o aniversário de Alfred Hitchcock.
Nigel já relaxava, enquanto Paulo entrava naquele clima pré-prova em que os acontecimentos se sucedem sem que se tenha muito controle sobre eles. Cada prova é uma prova, diferente. Experiência não conta muito nesse ramo. Há pouco que possa ser feito ou planejado de antemão. A logística da coisa foi deixada para a equipe. Ela providenciou alojamento, ferramentas, apoio e todas as coisas necessárias para o sucesso. Uma equipe enorme para apoiar os astros do dia. Os que fariam toda a diferença daquele dia em especial. Nigel não se esqueceria mais daquele dia. Na Hungria, empurrado por toda a Itália e pela Inglaterra, obteve seu segundo grande triunfo, naquele ano.
Cristina, no Brasil, também empurrava. Paulo deixou o cronômetro de lado. Não era mais dele a responsabilidade de registrar as voltas. Era da equipe, que crescia a cada instante. Hora de dar apoio, sem atrapalhar. Cada um tem seu lugar e sua função numa equipe. Nigel já tomava banho quando as coisas começaram a tomar um rumo definitivo, a 11.115,07 km a sudoeste de Budapeste. Paulo sentia o que Nigel sentira algumas horas antes, um misto de ansiedade, esperança e de um turbilhão de outras emoções não muito bem identificáveis isoladamente. Cada prova era uma prova, antes e depois. Como explicar a quem delas não participou? Impossível, provavelmente.
Nigel Ernest James Mansell venceu o Grande Prêmio da Hungria de Formula 1, no circuito de Hungaroring, em Budapeste. Era 13 de agosto de 1989, ducentésimo vigésimo quinto dia do calendário Juliano. Paulo teve um Dia dos Pais diferente. Naquele domingo Cristina lhe deu Mariana, às quatro da tarde, hora em que Nigel já deveria estar comemorando em alguma festa, às nove da noite.
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Marcadores: Dia dos Pais
2 Comments:
Ai, quanta emoção!
Isto deve ser para dizer Feliz Dia dos Pais!
Muita emoção! :)
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