3.8.07

O poder da água


O poder da água

Por Paulo Heuser


Pouca gente se dá conta, mas a água é o melhor solvente que há. Estamos cheios d’água, apesar da nossa aparência um tanto sólida. A água faz parte da nossa vida, apesar de não nos darmos conta disso. Nos damos conta disso quando ela falta no meio do banho. Há aqueles que não bebem água. Bebem misturas dela com outras coisas. Como aqueles xaropes de calda de caramelo, açúcar e gás carbônico. O ser humano é estranho, mesmo. Um sujeito me falou, noutro dia, que seu filho bebeu água, pela primeira vez, aos 18 anos. Antes disso bebeu tudo que dá para imaginar, leite, suquinhos de mamão, laranja, coca-cola, fanta goiaba e bebidas energéticas. Tudo, menos água. Ao bebê-la, pela primeira vez, exclamou:

- Que horror! Isto não tem gosto de nada!

A água também pode ser usada para refrigeração, aquecimento, lazer, terapia e um sem número de aplicações. Há algo mais repousante do que o som de água caindo de uma fonte? Por outro lado, há coisa mais irritante do que o ruído gerado por uma torneira pingando? A água limpa e suja. A roupa sujada pela água espirrada de uma poça barrenta é lavada pela água limpa. A água da chuva pode ser benção para os agricultores e desgraça para os desabrigados pelas cheias. Há épocas em que a água da chuva é como empréstimo bancário. Só vem para quem não precisa.

O forno de microondas age sobre quem? Sobre as moléculas d’água. Aquece a água contida nos tecidos. Água também pode ser usada como arma, pelas tropas contra distúrbios. Os manifestantes ficam um pouco machucados, mas bem limpos. Vovô descobriu que a água misturada ao feijão pode se tornar perigosa, quando foi abrir a panela de pressão para conferir o cardápio do almoço. A água limpa tirou o feijão do teto. Escoteiros novatos também descobriam o poder violento da água, ao colocar latas de salsichas diretamente no fogo, para aquecê-las, seguindo instruções de algum veterano gozador. Outros ensinavam a assar na fogueira os ovos com casca.

As usinas nucleares transformam água em vapor, que move os geradores de eletricidade, a partir do calor liberado pela fissão nuclear. Por outro lado, liquefazem-na novamente utilizando água para refrigeração. A versátil água serve também como moderador de nêutrons, impedindo que a velocidade de reação cresça desordenadamente. As usinas hidrelétricas aproveitam a energia potencial da água acumulada em energia cinética que move os geradores. Água, sempre água.

O poder da água também pode ser devastador, como a natureza já deixou bem claro. Os relatos bíblicos já trataram desse assunto. No Século XX, a aparentemente inexpugnável Linha Bar Lev, às margens do Canal de Suez, foi dissolvida a jatos de água. Fora feita com areia e cascalho.

Ontem ouvi um relato de uma calamidade provocada pela água. Carmen estava contando que passara por maus bocados. Estava trabalhando no escritório, tranqüilamente, quando a água veio. Só teve tempo de pular sobre o tampo da mesa. Ali ficou aguardando o nível baixar, enquanto assistia às cenas de destruição. Alguém lhe perguntou:

- Foi Tsunami, na Indonésia?

- Não, foi o Pedrão. Ele deixou cair a bombona de 20 litros d’água do bebedouro, ao tentar trocá-la.
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