27.7.07

Blabadabóóóu!

Blabadabóóóu

Por Paulo Heuser


Rote Grütze nasceu na periferia pobre de Korrupt, capital do Principado de Dunkelstein, encravado entre a Phallacia Ocidental e a Sofísmia do Norte. Grütze foi o terceiro presidente eleito pelo voto direto, desde a saída das tropas. Gozava de uma popularidade inabalável, graças ao seu discurso salsicha com batata (versão dunkelsteiniana do feijão com arroz).


- Blabadabóóóu! – gritava Grütze, antes de iniciar qualquer discurso. Lembrança da época em que militava no Demoli – Democracia e Liberdade, organização clandestina de resistência contra as tropas. Grütze gostava do barulho das explosões. Fabricava bombas por prazer. Elas foram sua ferramenta de trabalho. Ele estudou na Universidade Maurice Kumbuka, na Phallacia Ocidental, no período de exílio voluntário. Já que não o prenderam nem torturaram, exilou-se voluntariamente, em protesto. Quando voltou para Dunkelstein, graduado em Direito Negativista, protestou contra a sua não-anistia. As autoridades alegaram que não poderiam anistiá-lo, pois nunca fora condenado, sequer indiciado. A base parlamentar da Demoli conseguiu aprovar uma lei que o condenava por crimes políticos, lhe concedia anistia e indenização vitalícia pela condenação injusta, tudo em um só pacote. Grütze recebeu uma polpuda quantia a titulo de indenização por danos morais, já que conseguiu depoimentos corroborando o imenso sofrimento de exilar-se sem sequer ser perseguido pela pátria. Alegou que o governo lhe tirara qualquer possibilidade de virar um herói nacional, ao não perseguí-lo.


- Blabadabóóóu! – gritou novamente, com a boca colada no microfone.


A platéia recuou, de susto. Grütze gostava da onda de susto que se propagava pela massa. E o povo também gostava. Tanto que respondia em coro, logo que refeitos do susto. O jingle de campanha foi exatamente esse. Grütze, o Homem Bomba, foi eleito com ampla maioria. O povo queria que as instituições se explodissem. Portanto, nada mais natural que eleger um fabricante de bombas que gostava de explodi-las.


O discurso de posse não podia iniciar com algo diferente do que se ouviu durante toda a campanha.


- Blabadabóóóu!


- Blabadabóóóóóuuuuu! – ecoou a massa.


- Graças a vocês, tenho certeza da vitória no próximo pleito!
Silêncio. Grütze repetiu a frase. Constrangimento, até que um assessor cochichou:


- Vossa Excelência já venceu a eleição! – ao que Grütze retrucou:


- Como? Ninguém me avisou?! – parecia acordar de um pesadelo.


- Blabadabóóóu! – gritou, para ganhar tempo, enquanto pensava em algo para dizer.


- Blabadabóóóóóuuuuu... – reagiu a massa, já delirante.


- Não sei o que dizer! – cochichou de volta, para o assessor – Nunca podia imaginar que isso pudesse acontecer!


- Fale do plano de governo! – orientou a escudeiro.


- Mas, qual plano? Qual governo?


- Ora, diga qualquer coisa...


- Blabadabóóóu!

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