26.7.07

O maior despertador do mundo


O maior despertador do mundo

Por Paulo Heuser


A criatividade do ser humano é ilimitada. Veja só o exemplo de Michael Faraday (1791-1867), um dos maiores cientistas experimentais que o mundo já viu. Filho de pais pobres, Faraday somente aprendeu a ler aos 13 anos de idade. Teve acesso aos livros ao trabalhar para um livreiro. Autodidata, efetuou diversas descobertas relacionadas ao eletromagnetismo, como a indução. Mesmo sem a formação acadêmica, Faraday dedicou-se à pesquisa pura. Conta o folclore que a rainha da Inglaterra visitou o laboratório do cientista, depois dele adquirir fama. Após uma descrição das engenhocas misteriosas, e das descobertas relacionadas, a rainha lhe teria perguntado:

- Para que servem todas essas coisas? – debochando da pesquisa pura.

Ele respondeu à pergunta com outra:

- E para que servem os bebês?

Eu próprio tive minha fase de cientista experimental leigo. Não me recordo da idade, mas deveria estar entre os sete e os nove anos. Impressionado com a batalha que o meu pai travava com as formigas cortadeiras do quintal, resolvi ocupar meu tempo vago, que era muito, na pesquisa de um veneno final para formigas. Foram dias consumidos em relação aos materiais e métodos. O galpão de ferramentas era um ótimo laboratório. Após uns três dias de pesquisa, parti a campo (quintal) para realizar a parte experimental. Havia formigas de sobra. Acrescentando um pouco disso, tirando um pouco daquilo, cheguei à fórmula mágica. Nunca registrei a descoberta, com medo de que a copiassem e usassem para fins não-pacíficos. Eu não queria me transformar num novo Alfred Nobel (1833-1896), o inventor da dinamite, que viu sua descoberta utilizada para outros fins, muito distantes de paz. Não, comigo seria diferente. Creio que hoje já posso revelar a fórmula, assim ficará de domínio público.

Pode anotar aí a relação de materiais:

- 100 ml de querosene da marca Jacaré;
- 100 ml de álcool etílico 96 (aqueles 45 não servem!);
- 100 g de veneno para formigas, de boa marca;
- 10 ml de xarope (capilé) de groselha;
- suco de um limão galego;
- 1 folha de louro;
- 1 caixa de fósforos.

Antes de tudo, vai um alerta: NÃO TENTEM FAZÊ-LO, CRIANÇAS DE HOJE, AS ANTIGAS SOBREVIVIAM MAIS! Feito esse alerta de segurança, vai o método: Misturar todas essas coisas imediatamente antes do uso. A seguir, pincelar as formigas com a solução obtida, logo tacando fogo. Não se esqueça de retirar o pincel antes de acender o fósforo. É fogo e queda! Todas formigas pinceladas morrem. NÃO TENTE PROVAR A SOLUÇÃO PARA DESCOBRIR QUE GOSTO TEM! Feito outro alerta de segurança, vamos ao fulcro da questão, que permaneceu irresolvida: por que as formigas não levaram a solução para dentro do ninho? A maioria parava antes mesmo do fósforo acender. Talvez um dia me dedique novamente ao experimento.

Às vezes alguém descobre coisas por acidente. Percy Lebaron Spencer (1894-1970) observou em 1945 que uma barra de chocolate derreteu no seu bolso, enquanto realizava experimentos com um radar, utilizando microondas. Acabou criando o forno de microondas. Conheço um sujeito (1973-) que ampliou a gama de utilização do forno de microondas ao constatar que o magnetron - peça que gera as microondas - estava quebrado. Ele encontrou novo uso para o aparelho, já que o relógio e o temporizador ainda operavam corretamente. Criou um misto de relógio, mesa de cabeceira, despertador e luz de leitura. Antes de dormir, programava no timer do forno a hora em que queria despertar. Esse não foi o maior despertador do mundo. O maior foi o protótipo de Spencer, que media mais de 1,80 metros de altura e pesava mais de 300 kg. Porém, cozinhava pipocas.
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