Memorize seu setor!
Foto: Paulo Heuser
Chegamos à fase da vida em que nos tornamos extremamente minimalistas. Trocamos qualquer bufê de 87 pratos quentes e 48 frios por um prato bem-feito. Um bom pão, acompanhado de boa manteiga, vira banquete. Ernest Hemingway vira opção de leitura. Fugimos de cafés coloniais como o diabo foge da cruz. Rodízios, só sob os móveis. Pizza? Margherita, ora. Enfim, trocamos quantidade por qualidade e caos por harmonia.
Num dia qualquer da vida, sem aviso prévio, passamos a freqüentar pequenos armazéns e lojas de miudezas. As bancas do Mercado Público passam a nos atrair. As bancas, até que não são tão minimalistas, mas o povo é. E isso é belo. Chega aquela senhora pedindo peixe seco. O que alguém fará com peixe seco? Sei lá, mas aí que reside a graça da coisa. Pedem coisas estranhas e exóticas, coisas que nunca encontrarão à venda nos supermercados das grandes redes. São aquelas coisas que estão guardadas em grandes vidros, na quarta prateleira, terceira coluna, atrás do pote de geléia de cactos da Abissínia.
Quando entramos na fase minimalista, fugimos da padronização, do modismo. Modismo é complexo, pois implica condicionamento social. O treinador mercadológico deve nos adestrar, para que compremos pasta de qualquer porcaria e digamos: - Oh, que como é bom comer Grlbh! Todos gostam, por que não eu? Passei da fase de comer Grlbh, hoje prefiro o pão. Não os pães de iogurte, 29 cereais, erva doce, alcachofras secas, batata azeda ou caju. Apenas pão. Quando comemos carne, preferimos a de sabor carne. Nada de carnes sabor pizza, guacamole, quatro queijos ou cheddar.
Na hora de comprar os mantimentos, passamos a preferir o armazém do Sergio. Não há necessidade de carrinho para colocar as compras. Basta largá-las sobre o balcão. O Sergio sabe de quem são. Também não há ilhas de mercadorias no Sergio. Pode-se caminhar livremente, sem arredar carrinhos esquecidos no meio do corredor pelos distraídos, para não dizer coisa pior. Ilhas de mercadorias são campos minados no meio do corredor de supermercados grandes. No Sérgio não há caderno de ofertas, basta lhe perguntar o que está barato. Ele sabe, e diz. As sacolas do Sergio são mais resistentes. Não furam com qualquer lata. O que dizer dos estacionamentos, então? No Sergio, há vaga na porta. Nos grandes, esquecemos onde deixamos o carro. Depois, vagamos pelo estacionamento, tentando encontrá-lo. Certa feita, perdi meu carro. Pior, sem saber onde. Já era noite feita, quando descobri que o deixara no dentista, pela manhã. Tive de apanhar um táxi, para buscá-lo. As grandes redes de supermercados criaram padrões de sinalização para seus estacionamentos. Maravilha, você vai a qualquer loja da rede e encontra os mesmos sinais, com uma advertência: Memorize seu setor.
Quando não vou ao Sergio, costumo comprar coisas na pequena loja da muito grande rede. Loja tão pequena que ficou meio esquisita, com a sinalização das grandes. No minúsculo estacionamento, para algo como 20 carros, há o aviso para memorizar o setor. Sigo à risca: Setor 1-A. Não é difícil memorizá-lo. É o único.
Memorize seu setor!
Por Paulo Heuser
Chegamos à fase da vida em que nos tornamos extremamente minimalistas. Trocamos qualquer bufê de 87 pratos quentes e 48 frios por um prato bem-feito. Um bom pão, acompanhado de boa manteiga, vira banquete. Ernest Hemingway vira opção de leitura. Fugimos de cafés coloniais como o diabo foge da cruz. Rodízios, só sob os móveis. Pizza? Margherita, ora. Enfim, trocamos quantidade por qualidade e caos por harmonia.
Num dia qualquer da vida, sem aviso prévio, passamos a freqüentar pequenos armazéns e lojas de miudezas. As bancas do Mercado Público passam a nos atrair. As bancas, até que não são tão minimalistas, mas o povo é. E isso é belo. Chega aquela senhora pedindo peixe seco. O que alguém fará com peixe seco? Sei lá, mas aí que reside a graça da coisa. Pedem coisas estranhas e exóticas, coisas que nunca encontrarão à venda nos supermercados das grandes redes. São aquelas coisas que estão guardadas em grandes vidros, na quarta prateleira, terceira coluna, atrás do pote de geléia de cactos da Abissínia.
Quando entramos na fase minimalista, fugimos da padronização, do modismo. Modismo é complexo, pois implica condicionamento social. O treinador mercadológico deve nos adestrar, para que compremos pasta de qualquer porcaria e digamos: - Oh, que como é bom comer Grlbh! Todos gostam, por que não eu? Passei da fase de comer Grlbh, hoje prefiro o pão. Não os pães de iogurte, 29 cereais, erva doce, alcachofras secas, batata azeda ou caju. Apenas pão. Quando comemos carne, preferimos a de sabor carne. Nada de carnes sabor pizza, guacamole, quatro queijos ou cheddar.
Na hora de comprar os mantimentos, passamos a preferir o armazém do Sergio. Não há necessidade de carrinho para colocar as compras. Basta largá-las sobre o balcão. O Sergio sabe de quem são. Também não há ilhas de mercadorias no Sergio. Pode-se caminhar livremente, sem arredar carrinhos esquecidos no meio do corredor pelos distraídos, para não dizer coisa pior. Ilhas de mercadorias são campos minados no meio do corredor de supermercados grandes. No Sérgio não há caderno de ofertas, basta lhe perguntar o que está barato. Ele sabe, e diz. As sacolas do Sergio são mais resistentes. Não furam com qualquer lata. O que dizer dos estacionamentos, então? No Sergio, há vaga na porta. Nos grandes, esquecemos onde deixamos o carro. Depois, vagamos pelo estacionamento, tentando encontrá-lo. Certa feita, perdi meu carro. Pior, sem saber onde. Já era noite feita, quando descobri que o deixara no dentista, pela manhã. Tive de apanhar um táxi, para buscá-lo. As grandes redes de supermercados criaram padrões de sinalização para seus estacionamentos. Maravilha, você vai a qualquer loja da rede e encontra os mesmos sinais, com uma advertência: Memorize seu setor.
Quando não vou ao Sergio, costumo comprar coisas na pequena loja da muito grande rede. Loja tão pequena que ficou meio esquisita, com a sinalização das grandes. No minúsculo estacionamento, para algo como 20 carros, há o aviso para memorizar o setor. Sigo à risca: Setor 1-A. Não é difícil memorizá-lo. É o único.
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