A história reescrita
A história reescrita
Por Paulo Heuser
Lembrei-me de uma aula de Psicologia da Educação B, ao ler o jornal que mencionava um artigo publicado na revista francesa L’Express da semana passada. Aquela aula foi prática. Grupos de alunos, de cada área, davam aulas aos colegas. Os alunos da Licenciatura em História prepararam uma aula sobre exatamente isso: História. Mostraram como se observa a história, as fontes, etc. Ficou bem claro que ao falarmos de história, falamos de eventos no tempo, protagonizados por alguém e observados por alguém. Não há história sem o homem.
Parece bem evidente que os mesmos eventos podem ser vistos com olhos diferentes, conforme o tempo. Reescrevemos a história, conforme caem barreiras, pudores, preconceitos e medos. Vilões de hoje poderão ser os heróis de amanhã, e vice-versa. Adolf Hitler foi de ídolo a vilão, para não se dizer monstro. Entre os heróis de ontem e vilões de hoje, incluía-se Josef Stalin, o Paisinho dos Povos, aquela figura com cara de vovô bondoso e hábitos genocidas. Pois o Painho soviético mandou matar entre três milhões de pessoas, na estatística mais otimista, e nove milhões de pessoas. Outros falam de números ainda maiores. Stalin disputa o troféu do genocídio com Hitler, com o cambojano Pol Pot e outros não tão bem – ou mal – sucedidos, alguns bem atuais.
Stalin passou de herói a vilão. Até há pouco. O governo russo mandou seus historiadores reescreverem a história russa, materializando o livro História Contemporânea da Rússia – 1945-2006. E o Painho soviético brilhou novamente como herói. Esqueceram-se da época em que o homem esteve mais ocupado, exterminando gente, antes de 1945. Em abril de 1940, na floresta polonesa de Katyn, 22.500 oficiais poloneses foram mortos pelas tropas russas, comandas por Beria, braço direito (e esquerdo?) de Stalin. Hitler acabou levando a culpa pelo episódio, somente esclarecida oficialmente em 1992.
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Na nova releitura da história russa, Stalin aparece como o homem que transformou a Rússia na superpotência do pós-guerra, o que não deixa de ser verdade. Porém, esquecer as purgas políticas é um grande erro histórico. Os Gulags, as Katyns, os expurgos e as deportações foram esquecidos. Restou o bom homem. Muitos historiadores reclamaram. O governo russo, no entanto, alega que os historiadores que estudaram História, pagos pelo estado, devem escrever aquilo que o povo (governo?) quer ler. Ou seja, mandam reescrever a história conforme lhes convêm. Sabe-se que a história muito recente pode ser relatada de modo muito diferente pelos periódicos, conforme seus alinhamentos políticos. Contudo, um estado moderno mandar reescrever a história não tão recente, dessa forma, é bizarro. O que descobriremos a seguir? Tenho medo das releituras que farão por aqui.
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Marcadores: adolf hitler, beria, expurgo, genocidio, história, josef stalin, katyn, l'express, pol pot
3 Comments:
É fantástico. Eu, um aluno do curso de História, nunca pensei que alunos de outros cursos pudessem prestar atenção numa aula sobre o que é História e como se faz História, digo, escreve História. Ou será que tu também és (foste?) aluno de História. Bom aí ficamos no mesmo...
Mas tu tens certeza que não foi numa aula de Didática Geral? Eu, pelo menos, me lembro de ter dado aula sobre os temas relacionados acima numa (na verdade duas, eu rodei uma vez na disciplina) aula de Didática Geral. Algum outro aluno de História copiou a minha original idéia, ou será que fui eu que copiei ele? Huuummmm...
Mas não me lembro de ter te visto? Será que estavas disfarçado, e não te reconheci, se estiveste na minha aula? Talvez de óculos escuros?...
Bom. De qualquer maneira, já digo que te copiei de novo, lá no Voltas em Torno do Umbigo. Eu e o curso de História: tudo a ver!
Era uma aula de Psico B, mesmo. Havia uma profa. chamada Ana Maria Petersen que formava grupos por "flavor". Cada grupo dava uma aula dentro do espírito da disciplina. Não fui aluno da História. Fui anulo da Física, na verdade. Da minha aula, ninguém esqueceria.
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