Portas para lugar nenhum
Portas para lugar nenhum
Por Paulo Heuser
Participo de alguns grupos virtuais de fotógrafos do Flickr – sítio de compartilhamento de fotos do Yahoo. Lá depositamos fotos das quais gostamos, e das quais eventualmente mais alguém goste, conforme certos atributos temáticos. Há grupos para quem gosta de quase que qualquer tema. Fazemos nossas exposições virtuais de fotos, compartilhando imagens com qualquer um que queira vê-las.
Por Paulo Heuser
Participo de alguns grupos virtuais de fotógrafos do Flickr – sítio de compartilhamento de fotos do Yahoo. Lá depositamos fotos das quais gostamos, e das quais eventualmente mais alguém goste, conforme certos atributos temáticos. Há grupos para quem gosta de quase que qualquer tema. Fazemos nossas exposições virtuais de fotos, compartilhando imagens com qualquer um que queira vê-las.
Um grupo que me chamou particularmente a atenção é o denominado doors to nowhere – portas para lugar nenhum. As regras do grupo definem o que são portas para lugar nenhum. São aquelas que não dão acesso a algum lugar. São portas em meio aos andares superiores, sem escadas de acesso. Não servem como portas, não realizam a função primordial das portas – dar acesso a algum lugar. Cruzamos por essas portas, não através delas, no dia a dia, sem nos darmos conta disso, a não ser que observemos o mundo através de um visor de câmera fotográfica. Então elas nos saltam aos olhos. Estão lá, possivelmente chaveadas, sem serem abertas há muito, algumas, nunca. Foram colocadas e continuam à espera de uma escada que lhes dê acesso. Outras viram suas escadas desaparecer, como uma que fotografei numa avenida que foi alargada, causando a mutilação de muitos imóveis. Não há como não vê-la. É vistosa e azul, destacando-se sobre as marcas na parede do segundo piso do que algum dia foi uma escada. Restou o corrimão, ninguém mais apoiando. Uma porta que não leva mais a lugar nenhum já provoca uma forte sensação de abandono. O que dizer de um corrimão onde ninguém mais se apoiará?
Por vezes fotografamos as portas que não levam a lugar nenhum sem notá-lo. As notamos nas fotos. Procurávamos fotografar um prédio como todo. Vendo o resultado, as encontramos. Pelo visto, mais gente fica impressionada com a imagem dessas portas, pois há 219 participantes no grupo, até agora. Há falsas portas que não levam a lugar nenhum. Elas poderiam ser usadas para levar a algum lugar, mas não são. Têm escada de acesso, mas permanecem fechadas, simplesmente porque não há interesse em cruzá-las. Foram úteis, algum dia, quando outras pessoas, com outros costumes, as cruzavam. Vão-se as pessoas, vão-se hábitos, ficam as portas, apenas como testemunhas de um passado nem sempre conhecido. Velhas fotos podem até desvendar os mistérios por trás de muitas portas. Aquela fora a entrada da casa, antes de alguma antiga reforma que lhe tirou a utilidade.
Após ver tantas fotos de portas que não levam a lugar nenhum, sei que não devo levar minha câmera à seção eleitoral. Receio poder compartilhar a foto da urna no grupo doors to nowhere, apesar de haver escada que lhe dá acesso.
.
.
.
Marcadores: doors to nowhere, portas para lugar nenhum, urna eleitoral eleições
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home