17.9.07

Terebentex H12

Terebentex H12

Por Paulo Heuser

Como a maioria dos seres humanos, eu pego alguns resfriados. Não há como fugir dos resfriados. De quando em quando eles vêm. E vão, felizmente. Um dos piores aspectos do resfriado, além da fungação, é responder à pergunta inevitável sobre o que estou tomando. A maioria das pessoas crê que a evolução darwiniana se fez à base de medicamentos contra resfriados. Até há pouco tempo, eu respondia simplesmente que não estava tomando medicamento algum contra resfriados. Causava alvoroço entre os paladinos da farmacologia. Muitos ficavam indignados com minha deliberada refratariedade às maravilhas que a ciência encapsulou naquelas lindas embalagens coloridas. Minha insubmissão se deve em parte às dimensões dos comprimidos, se é que fazem jus a esse nome. Poderiam comprimir aquilo um pouco mais. O último que ingeri apresentava as dimensões de uma bolacha Maria. E devemos ingeri-los aos pares, não sei por quê. Talvez fossem ainda maiores, se bastasse ingerir apenas um. Algo como engolir um alfajor inteiro, sem mastigá-lo. O fato é que, tomando ou não aquelas coisas, sinto-me mal, quando resfriado.

Ainda não encontrei remédio para combater os sintomas do resfriado, apesar das inúmeras prescrições leigas que recebo por toda parte. Se exercício ilegal da Medicina realmente desse cadeia, a maioria da população estaria enjaulada, logo depois dos balconistas de farmácias. Da polêmica sobre as vacinas contra a gripe, então, melhor nem falar. Já ouvi relatos terríveis, por um lado, e maravilhosos, por outro. Conheço um sujeito que jura que essas vacinas são esporos de seres extraterrestres que preparam uma invasão do planeta. Utilizariam os corpos humanos como casulos. Seria a volta dos incas venusianos. Valha-nos, National Kid! Para outro, um pouco menos paranóico, as vacinas seriam obra de uma agência secreta do governo de uma potência estrangeira, tentando influenciar nosso voto. Na dúvida, não fiquei imune. Porém, encontrei remédio para responder às perguntas dos pseudomédicos de plantão. Primeiro, passei a procurar os nomes dos medicamentos da moda, para combate aos sintomas das gripes e dos resfriados. Estou tomando tal coisa, dizia eu. Invariavelmente, alguém me recriminava, alegando que essa coisa não funcionava mais. Alguns desses medicamentos teriam causado efeitos colaterais estranhos, como o aparecimento de pêlos no nariz e fungos sob as axilas. Agora se tomaria o novo qualquer-coisa-grip, com cores personalizáveis. Haveria até um preto, para o pessoal das tribos chegadas em percevejos e tachinhas.
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Acuado, tive de inovar. Agora digo que estou tomando Terebentex H12, cujo princípio ativo é a aguarrás bisurada. Não tente pedi-lo, muito menos nas boas casas do ramo, pois ele não existe – espero que não, pelo menos. Podem tê-lo desenvolvido enquanto escrevo este texto. A grande vantagem apresentada pelo Terebentex H12 é exatamente esta, a sua inexistência. Como alguém pode dizer que algo que não existe está superado? Na verdade, não pode, apesar de alguns tentarem com muito empenho. Sei que terei de mudar de medicamento em breve, pois o Terebentex H12 já estará na boca do povo. Estou pensando no Gryprostracin B. Vou registrar a marca, pois o Terebentex teria sido um sucesso de vendas, especialmente o H12.
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