A viagem de bodas do Zé
A viagem de bodas do Zé
Por Paulo Heuser
O Zé e a Maria completaram 25 anos de casados. Bodas de prata. Nada mais justo do que fazerem uma viagem de comemoração. Quando ele me pediu sugestões de destinos, fiquei tentado a lhe indicar um daqueles países fáceis do Primeiro Mundo. Ele foi descartando um a um. França e Itália seriam óbvias demais. Na Inglaterra a cerveja seria morna demais. Na Alemanha haveria chucrute demais. Os Países Baixos seriam baixos demais, e assim por diante. Queriam algo diferente, com forte emoção.
Sugeri então que considerassem os países balcânicos. O Zé não gostou. A Sérvia não serviria, pois haveria açougueiros demais. Na Bósnia, matéria-prima demais, para os açougues do vizinho. A Croácia seria calma demais. O casal jubilado queria algo menos comum. Por fim, entendi. Perguntei-lhes se queriam viajar para um país de contrastes, que pouco tivesse a ver com o Primeiro Mundo. Varrendo a Barsa, encontrei a Maurilândia, entre a Mauritânia e a Suazilândia. África, cheia de mistérios, por que não? Aquele sim é um país de contrastes, onde a maioria da população é semi-analfabeta e vive de forma muito simples, na pobreza. Contentam-se com muito pouco. As ruas confusas da capital, Ardisebrega, estão repletas de gente esquálida, sentada daquele modo que somente os famélicos conseguem se sentar, coisa de faquir. Alegres, exibem sorrisos de quatro dentes sob olhos negros emoldurados por profundas olheiras, enquanto moscas grudentas os rodeiam. Gente sofrida, mas alegre. Mansos, até. Velhos calhambeques caindo aos pedaços atravessam as estradas poeirentas e esburacadas. As ruas estão repletas de sujeira, e os carros de tração animal estão por toda parte, disputando espaço com os mercadores de alimentos primitivos e bugigangas e estes, com os pedintes. A miséria contrasta com a alegria natural daquele povo. Esquecem-se rapidamente das desgraças e caem na festa. As belezas naturais são ímpares.
O problema maior da Maurilândia é a segurança. Todos roubam de todos. Não há ruas pavimentadas porque roubaram o pavimento para transformá-lo em malocas. Não há energia elétrica porque roubaram fios, postes, transformadores e as usinas, não necessariamente nesta ordem. A Maurilândia é um dos líderes no ranking da corrupção. Os políticos são muito malvistos pela população. O regime político é um estranho tipo de democracia, onde o povo é o único que não manda nada.
Ao recomendar uma viagem a Maurilândia, achei melhor preveni-los sobre os perigos apresentados pelo país. Se fosse emoção o que procuravam, aquele era o lugar certo. Porém, deveriam tomar certos cuidados. Nada de dar bandeira com câmeras fotográficas e bolsas de mão. Comida e água, só do hotel. Caso contrário, diarréia na certa. Após chamá-los, mostrei-lhes mapas e li as recomendações quanto aos cuidados com segurança e higiene. Foi Maria quem falou:
- Ora, para isso aí, basta ficarmos aqui, em casa!
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Marcadores: bodas de prata, maurilândia, mauritânia, suazilândia, viagem
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