6.4.09

512 - Separação à distância

Foto: Wikipedia
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Separação à distância

Por Paulo Heuser

Quem anda por locais onde há grande afluência de pessoas pode observar um fenômeno interessante. Hoje se briga à distância. Na saída dos bancos, há aqueles que berram ao celular cobrando depósitos que não ocorreram e saques que ocorreram. Os orelhões deixaram de ser os muros das lamentações dos negócios malsucedidos. Hoje, estão às moscas, seja pelo desuso, seja pela sujeira. Os que usam orelhões correm o risco de ficar grudados neles.

Noutro dia fui ao WC de uma entidade e ouvi parte do lado A de um diálogo que era travado entre o ocupante de uma daqueles compartimentos e o que parecia ser uma mulher, no lado B, à distância, espero. Era uma cantada. Uma primitiva e comum cantada. Seria completamente comum, se não fossem algumas estranhas modulações na voz do Dom Juan sanitário, talvez provocadas por eventual esforço esfincteriano, no melhor estilo “o balão vai subiiiindo”. Fiquei a imaginar se a outra parte sonhava com o local onde seu interlocutor estava. Lá pelas tantas, ele disse que seria algo vindo da TV. Seria o som do acionamento da descarga do vaso? Um documentário sobre as Cataratas do Iguaçu, quem sabe?

Outras vezes o assunto é briga de casal. O celular aumenta confortavelmente a distância entre os ex-apaixonados. Pelo telefone é muito mais fácil terminar o namoro. E-mail é melhor ainda. Foi-se o olho no olho. No máximo, webcam. Antigamente, dizia-se que os casais haviam dado um tempo à relação. Esse tempo era indefinido, geralmente infinito. Hoje, esse tempo é o tempo para mandarem um torpedo ou ligarem para os ex. A redes sociais de relacionamento permite aos ex a bisbilhotice antes só permitida pelas redes humanas de fofocas. O você não imagina quem eu vi com a Betinha deu lugar ao você já viu a página da Betinha?

Há formas insidiosas de dinamitar o prestígio dos ex. Eu já havia percebido que pessoas descontentes usam as redes domésticas sem fio como forma de protesto contra algum produto que gerou descontentamento. Um vizinho havia identificado sua rede doméstica como talcarro_é_uma_bosta. Em grandes condomínios, ou ao lado de praças, esses nomes de protesto podem atingir grande público. Não deixa de ser uma forma surpreendente de propaganda de protesto. Imagine só uma rede chamada Tonhão_não_comparece.

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