29.6.09

534 - Dúzia de dez

Foto: Paulo Heuser
.

Dúzia de dez

Paulo Heuser


Teozinho arrasou. Após um MBA em marketing, inventou a dúzia de dez. Já houve a dúzia de treze, ou dúzia de frade, criada pela Igreja, como forma de cobrar seu quinhão. A origem da dúzia de doze, a clássica, é atribuída aos sumérios, que viveram lá por 3300 a.C. na região sul da Mesopotâmia. Eles usavam os dedos para contar. Não que eles tivessem doze dedos nas mãos. Eles foram mais espertos, na verdade, e usaram as falanges dos dedos para contar as unidades e o polegar para indicar a falange em que contavam. Isso na mão direita, onde eram capazes de contar até 12. Com a mão esquerda, eles implementaram um sistema quintal, de base cinco, e um sistema sexagesimal, de base 60. A perda de mãos, ou mesmo de dedos, levava à dislexia numérica.

O Teozinho analisou toda essa coisa, a pedido do Monopólio Central, à procura de uma forma de aumentarem o lucro com a venda de ovos. Ele logo percebeu o problema. Dúzias sumérias de doze eram conceitos para lá de antigos. O mundo havia mudado, e os novos tempos demandavam novos padrões, como a NDD - Nova Dúzia Decimal. Quem ainda contava falanges com o polegar? O Cartel reduziu a dúzia, de doze para dez, e manteve os preços, sem cobrar nada mais por isso. Logo vieram a meia dúzia de cinco e o ovo avulso sem surpresa, o contraponto do kinder ovo. As galinhas sabem fazê-los como ninguém. Em vez de brinquedos de montar, esses ovos avulsos contêm uma substância ranhenta e transparente circundando um fluido amarelo. Seria fantástico, se não fosse nojento. Segundo as instruções da embalagem, basta cozinhá-los em água fervente para que percam a aparência repugnante.

Quem sabe das coisas não dorme sobre os louros da vitória. Sucesso é coisa de momento. Teozinho trabalha em outro projeto, o do litro light. Ainda não há uma definição exata da dimensão do novo litro, mas tende a ter 750 ml. Menos calorias pelo mesmo preço.

Guardado a sete chaves anda o DSZ – Dispensador de Sabor Zero -, dispositivo implantado sob a língua do cliente, que libera essências diversas, tudo sem valor alimentício, completamente zero cal. O sujeito pensa na picanha, lá vem gosto de picanha. Petit gâteau de maracujá? Sem problemas, vem até o sabor azedo da fruta. O que o Monopólio Central ganhará com isso? Teozinho sabe, o DSZ tem interfaces 3G, wi-fi e bluetooth, em dentes brancos, para informar o consumo. A central do Monopólio coletará os pedidos e debitará da conta dos clientes, sem cobrar nada mais por isso.

É frustração do Teozinho não ter nascido antes. Ele poderia ter sido o responsável pelo lançamento do BDN – Bolo do Delfin Netto -, aquele que, depois de crescido, seria distribuído entre a população, sem cobrarem nada mais por isso.


prheuser@gmail.com
http://www.pauloheuser.blogspot.com/
http://www.sulmix.com.br/

Marcadores: , , , , , , ,