14.9.09

545 - 51 semanas de amor

Adônis
Fonte: Wikipedia
51 semanas de amor

Paulo Heuser

Denise é uma mulher bem sucedida. Sempre apostou na carreira, fez MBA e obteve certificações, como BES®, TAM®, ODE® e RNA®. Ela casou-se, ainda nova, mas logo descobriu que a paixão se fora, restando apenas uma cômoda amizade. Ela gostava do Lino, ainda gosta, de verdade. Uma vez por ano, ela o convida para passarem uma semana juntos. Viajam, para alguma praia do Nordeste, e esquecem-se das meias e cuecas sujas de outrora. Lino bom é assim, com a lavanderia do hotel. Se houvessem morado num deles, talvez a relação sobrevivesse, mas aquele junta cueca suja, até na cozinha, foi demais. Denise sempre foi perfeita, em quase tudo. Ela nunca teve chulé, pois sempre trocou os sapatos e as meias, duas vezes por dia. No trabalho, nunca a viram usando calças. Ela só usa saia ou vestido. Tudo impecável. Mesmo ao fim de um daqueles dias terríveis de verão, quando quebra o ar-condicionado do escritório, ela não exala odor que não seja perfume. De fato, ela lembra um eterno pacote de presente de tia velha, com sabonetes. O que mais impressiona, até quem já a conhece, é o fato de que ela não transpira, nem mesmo na academia. Todos no maior malho, se derretendo, e ela lá, diáfana, fresca e perfumada. A única alteração perceptível, enquanto ela se exercita, é um leve rubor nas faces, o que lhe empresta beleza adicional, quase juvenil, apesar da meia-idade que ninguém lhe atribui.

Rodrigo é a imagem do homem novo. Não só na idade. Além de jovem, ele coloca as cuecas e meias sujas no cesto apropriado. Todos os dias. Ele sabe se cuidar. Cultiva bons hábitos, só se alimenta com coisas orgânicas e malha duas horas por dia. Toma banho antes e depois de malhar. Esses cuidados transformaram-no numa espécie de adônis da academia. Ele malha usando óculos escuros, porque acredita que sua massa muscular crescerá enquanto o cérebro julgar que é noite. Isso demonstra que, talvez, seu cérebro não seja tão iluminado, mas lhe confere aparência que atrai olhares vindos dos demais aparelhos, ocupados pelas malhadoras. O rapaz está bombado society, na medida certa, sem pelancas nem exageros. Os olhares da Denise não passaram despercebidos.

Encontraram-se no bar da academia. Ela exalava frescor, enquanto bebia uma vitamina de açaí e leite de soja com alfafa. Ele pediu seu sanduíche de pão de painço e sorgo com broto de samambaia. Ele elogiou a vitamina dela, ela o sorgo dele. Denise lançava-lhe olhares constrangedores, do fundo dos seus olhos negros. Do papo, foram às mãos. Tocaram-se levemente, no princípio, passando às carícias mais prolongadas. Ela tentava descobrir qual era o creme que deixava as mãos dele tão macias. Fortes e másculas, porém, sedosas. O beijo não tardou, primeiro roubado, depois consentido e desejado. O Lino que ficasse com sua semana, as outras 51 seriam do Rodrigo. O adônis da academia percebeu que Denise não era exatamente adolescente, mas o amor durava exatamente o que durava. Portanto, aproveitaria enquanto durasse.

O flat dele ficava mais próximo, e o ardor impôs pressa. Quando a porta se fechou, eles agarraram-se e arrancaram suas roupas, com furor. Já rolavam sobre o tapete impecável, quando ela murmurou, ofegante.

- Só com proteção, meu amor.

Ela sabia que uma frase dessas quebraria um pouco do clima daquele momento, mas a excitação não poderia dominar totalmente a razão. Ele tateou, em busca da sacola da academia, de onde retirou a caixinha.

- Claro, sempre tenho várias, pois eu sabia que, um dia, toparia com você, minha deusa.

- O que é isso?

- Ora, benzinho, é camisinha...

- Camisinha? Cadê o álcool gel?

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