15.9.09

546 - Aforismo do fim do mundo

João na ilha de Patmos
Fonte: Wikipedia

Aforismo do fim do mundo

Paulo Heuser


O fim do mundo não é assunto novo. Temos o Apocalipse cristão, o Acharit Hayamim (Fim dos Dias), do judaísmo, a Kali Yuga (Era do Ferro), do hinduísmo, o Dia do Juizo, do islamismo, e a chegada ao Nirvana, do budismo, entre tantas outras versões do fim de tudo. Há boas e más notícias. Uma boa, por exemplo, é a data do fim do mundo hinduísta, que só ocorrerá em 427 mil anos. Uma má, por outro lado, é que o mundo já acabou, para diversas religiões. Fomos exterminados, sem saber disso. Bem, olhando ao redor, podemos concluir que esses últimos estão mais certos. O fim do mundo varia, de religião para religião, mas muitas pregam a existência de lugares para onde irão as boas almas e de lugares para onde irão as almas ruins. Paraíso e inferno. Houve o Purgatório, local para onde seriam enviados os excluídos de classificação. Então, após muitos protestos, fecharam o lugar.

Seja como for, em todas as religiões, há crença em algo após o fim do mundo. Os maus pagarão, eternamente, pelos seus erros e os bons ficarão, eternamente, em algum paraíso. Não se sabe se haverá progressão de pena para o semi-aberto. Em algum momento, durante a eternidade, as almas se perguntarão sobre o que farão após essa eternidade. É difícil pensar na eternidade. É algo, digamos assim, perene demais, como tirar férias intermináveis na praia. Levantar-se tarde pela manhã, tomar café, ir à praia, voltar para o almoço, almoçar, sestear, comprar bugigangas, fazer happy hour, tirar bicho-de-pé, jantar, jogar e dormir. Para sempre. Sem depois. Em um paraíso não haverá o que fazer, além de esperar pelo fim da eternidade. Uma espera semelhante àquela enfrentada pelos usuários dos serviços públicos de saúde.

Há até uma ciência que estuda o fim do mundo, a Escatologia. Não é exatamente uma ciência exata, mas, enfim, é uma ciência. A noção de fim está intestinada em nós. A morte é um fim, tratado como passagem. Ou seja, há um fim, mas também há algo após o fim, nem que seja a continuidade de outros. Se não fosse assim, os suicidas não escreveriam bilhetes de suicídio. Justificam-se perante os que ficam, temendo, talvez, um encontro posterior, do outro lado do fim. A noção de um fim final, definitivo, irrevogável, total e irrestrito, é tão insuportável quanto a noção de eternidade. Tem de haver continuidade, nem que seja das baratas e das amebas. A saúde mental da maioria de nós depende disso. Entretanto, alguns pensam diferente.

O aforista polonês Satanislaw Jerzy Lec (1909-1966) explorou o assunto, ao dizer que os otimistas e os pessimistas diferem apenas sobre a data do fim do mundo. Há, porém, outro aforismo dele, sobre o tema, que provoca indagações:
Não espereis demais do fim do mundo.

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1 Comments:

At terça-feira, 15 setembro, 2009, Anonymous Anônimo said...

para variar um pouco.... adorei.
beijos - ju grün

 

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