Amigos Para Sempre?
Publicada na Gazeta do Sul, coluna opinião, em 21/07/2006
Amigos Para Sempre?
Por Paulo Heuser
Chegando ao trabalho, ontem pela manhã, me surpreendi com uma placa de propaganda eleitoral em um poste da Rua Siqueira Campos. Nada pequena, media um metro por meio metro, mais ou menos. Sabedor de que a prática de afixar placas de propaganda eleitoral nos postes está proibida, olhei ao redor, procurando outras. Nada, apenas postes limpos, nem propaganda de cursinhos preparatórios, nem de conserto de persianas. Olhei novamente - será que apenas eu estava vendo? Matei a charada ao cruzar pelo poste. Havia um sujeito segurando a placa contra o mesmo. Ou seja, não estava afixada.
Dou a mão à palmatória. Os marketeiros políticos são realmente criativos. Não sei o que ocorre quando bate a fiscalização do TRE, feito rapa eleitoral. O homem-poste – ou outdoor humano - sai correndo e assoviando para dar o alarme? Ou então, afasta a placa a um centímetro do poste e discute semântica eleitoral com os fiscais?
Esta é a época dos amigos. Somos cumprimentados alegremente pelos novos amigos ao chegar ao trabalho todas as manhãs. Até outubro, novembro no máximo. Depois, só em 2008. É a vantagem de se trabalhar em um prédio grande. Os novos amigos se concentram ali para fazer o maior número de amigos no menor tempo. Vêm em grupos. Aparentemente não são tão amigos entre si, apesar de os grupos diferentes subirem num palco e cantarem juras de amor. Só falta o Julio Iglezias ao fundo cantando Amigos Para Sempre.
Em outras épocas aparecem os vizinhos. Nunca os entendi muito bem. Completamente estranhos, falam algo a respeito de conselho tutelar, ou algo parecido. Também sorriem, muda apenas o tratamento. Estes nos chamam de vizinhos. Nunca os vi perto de casa.
Os novos amigos nos tratam por amigo, companheiro, camarada ou cidadão. Na sexta-feira passada uma nova amiga me tratou por “meu jovem”. Levou minha amizade, instantaneamente. “Meu companheiro” pode trazer algum comprometimento, especialmente se partir de uma nova amiga jovem e bonita e você estiver acompanhado do cônjuge. Terá de explicar essa amizade em casa. Ou na vara de família.
Não é para menos que o brasileiro é tão famoso por fazer amizade facilmente. Temos esta institucionalizada, a cada dois anos, com direito aos vizinhos nos interregnos da amizade. Os vizinhos só se tornam amigos no condomínio, na véspera da eleição para o novo síndico. No dia seguinte voltam a vizinhos. Ou nem tanto.
Esta proibição de poluir as ruas e avenidas com a propaganda dos novos amigos deve estar cozinhando o cérebro dos marketeiros. Estarão à cata de novas oportunidades para afixação de propaganda. Nas fronhas de travesseiros de motéis, por exemplo. Quem sabe nos espetos das churrascarias de rodízio? Ao cortar um pedaço de carne surge o nome do amigo. Nas carnes poderia ser utilizado um carimbo azul, com o número do amigo, semelhante àquele da fiscalização sanitária. As agremiações que utilizam o vermelho sairiam perdendo nas carnes malpassadas. O fio dental poderia ser um local para declarar amizade aos extremamente míopes.
Nas sinaleiras não se podem nem se devem afixar as placas dos amigos. Além de ser proibida aos amigos a colocação, elas geralmente estão escondidas atrás dos galhos das árvores, o que dá um efeito muito bonito à noite, tirando a visibilidade da propaganda. É lindo de se ver as luzes verdes, amarelas e vermelhas piscando por detrás das folhas – é Natal!
Se você é um tipo turrão, que não acredita em novas amizades, ao menos poderá acreditar no Bom Velhinho.
E-mail: prheuser@gmail.com
Por Paulo Heuser
Chegando ao trabalho, ontem pela manhã, me surpreendi com uma placa de propaganda eleitoral em um poste da Rua Siqueira Campos. Nada pequena, media um metro por meio metro, mais ou menos. Sabedor de que a prática de afixar placas de propaganda eleitoral nos postes está proibida, olhei ao redor, procurando outras. Nada, apenas postes limpos, nem propaganda de cursinhos preparatórios, nem de conserto de persianas. Olhei novamente - será que apenas eu estava vendo? Matei a charada ao cruzar pelo poste. Havia um sujeito segurando a placa contra o mesmo. Ou seja, não estava afixada.
Dou a mão à palmatória. Os marketeiros políticos são realmente criativos. Não sei o que ocorre quando bate a fiscalização do TRE, feito rapa eleitoral. O homem-poste – ou outdoor humano - sai correndo e assoviando para dar o alarme? Ou então, afasta a placa a um centímetro do poste e discute semântica eleitoral com os fiscais?
Esta é a época dos amigos. Somos cumprimentados alegremente pelos novos amigos ao chegar ao trabalho todas as manhãs. Até outubro, novembro no máximo. Depois, só em 2008. É a vantagem de se trabalhar em um prédio grande. Os novos amigos se concentram ali para fazer o maior número de amigos no menor tempo. Vêm em grupos. Aparentemente não são tão amigos entre si, apesar de os grupos diferentes subirem num palco e cantarem juras de amor. Só falta o Julio Iglezias ao fundo cantando Amigos Para Sempre.
Em outras épocas aparecem os vizinhos. Nunca os entendi muito bem. Completamente estranhos, falam algo a respeito de conselho tutelar, ou algo parecido. Também sorriem, muda apenas o tratamento. Estes nos chamam de vizinhos. Nunca os vi perto de casa.
Os novos amigos nos tratam por amigo, companheiro, camarada ou cidadão. Na sexta-feira passada uma nova amiga me tratou por “meu jovem”. Levou minha amizade, instantaneamente. “Meu companheiro” pode trazer algum comprometimento, especialmente se partir de uma nova amiga jovem e bonita e você estiver acompanhado do cônjuge. Terá de explicar essa amizade em casa. Ou na vara de família.
Não é para menos que o brasileiro é tão famoso por fazer amizade facilmente. Temos esta institucionalizada, a cada dois anos, com direito aos vizinhos nos interregnos da amizade. Os vizinhos só se tornam amigos no condomínio, na véspera da eleição para o novo síndico. No dia seguinte voltam a vizinhos. Ou nem tanto.
Esta proibição de poluir as ruas e avenidas com a propaganda dos novos amigos deve estar cozinhando o cérebro dos marketeiros. Estarão à cata de novas oportunidades para afixação de propaganda. Nas fronhas de travesseiros de motéis, por exemplo. Quem sabe nos espetos das churrascarias de rodízio? Ao cortar um pedaço de carne surge o nome do amigo. Nas carnes poderia ser utilizado um carimbo azul, com o número do amigo, semelhante àquele da fiscalização sanitária. As agremiações que utilizam o vermelho sairiam perdendo nas carnes malpassadas. O fio dental poderia ser um local para declarar amizade aos extremamente míopes.
Nas sinaleiras não se podem nem se devem afixar as placas dos amigos. Além de ser proibida aos amigos a colocação, elas geralmente estão escondidas atrás dos galhos das árvores, o que dá um efeito muito bonito à noite, tirando a visibilidade da propaganda. É lindo de se ver as luzes verdes, amarelas e vermelhas piscando por detrás das folhas – é Natal!
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2 Comments:
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