10.7.06

Bacon e Fé

Bacon e Fé

Após uma sexta-feira muito chata, com direito à tentativa de golpe do seqüestro, passei a maior parte do sábado e do domingo fazendo o que faço com alguma freqüência, cozinhando na paróquia. Não me importo de ceder alguns finais de semana por ano para atividades relacionadas à cozinha, já que sou chegado em um fogão. Normalmente piloto apenas o de quatro bocas, doméstico, mas não resisto ao desafio de um de seis bocas industrial, com queimadores duplos e acendimento manual.
Assemelha-se à situação do atravessador da Ceasa, com sua perua Fargo 48, que é convidado para correr na Fórmula Truck. Ali você descobre o que é um verdadeiro fogão!
O cardápio do dia foi feijoada completa. Completa significa completa mesmo! Com direito a todos aqueles entulhos que nunca passarão perto de uma prateleira de produtos light ou diet. Tudo de uma coerência total.
A feijoada poderia ser rotulada com adesivos do tipo “100% Colesterol” ou “Cholesterol Full”. Na entrada da cozinha poderia estar um cartaz com a inscrição “Por favor, não deixe seu cardiologista visitar a nossa cozinha”. Noutro poderia estar dito algo como “Fat is beatiful”, ou melhor, “Fat is flatusfull”.
Já havia cozinhado em outros eventos, cujo cardápio era um pouco mais leve. Na primeira vez em que cozinhei uma feijoada na paróquia, me senti culpado pelo provável entupimento das artérias de todas aquelas almas, 270 aproximadamente. Por que as coisas menos saudáveis são as melhores?
Fiquei ainda mais preocupado quando constatei que as almas já haviam rodado bastante, ultrapassando de longe a revisão dos 70 mil km. Neste sábado o mesmo sentimento de culpa retornou. Quilos e mais quilos de bacon, lingüiças de diversos tipos e calibres, salsichão, carne de porco, bacon novamente, mais bacon, pele, manta do bacon e, finalmente, muito bacon. Havia a aparentemente inocente farofa, frita no, adivinhe só, bacon. Uma feijoada dessas tem efeito semelhante ao das bombas atômicas. Inclusive no poder explosivo.
No domingo ao meio-dia, vencidos todos desafios, servida a feijoada, fiquei sentado olhando para toda aquela gente. Percebi duas coisas. Todos ali pareciam felizes. Conversavam, riam e aparentavam jovialidade incomum. O feijão não provoca toda essa felicidade. Teria algo a ver com o espírito de colaboração que reinava ali? Os que estavam trabalhando eram voluntários. Trabalhavam porque assim o desejavam. Os que vieram para almoçar a bomba vieram para colaborar com a paróquia.
Percebi também que Darwin fez um ponto. Os felizardos que estavam degustando nosso tributo às gorduras saturadas são o resultado da seleção natural. Os que não sobrevivem ao pièce de résistance provavelmente estavam em casa tomando uma sopinha, vítimas de continuadas feijoadas anteriores. Ou seja, à minha frente estava reunida uma gente privilegiada. E de fé.
Ou, teriam uma ajuda lá de cima?
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Paulo Roberto Heuser

2 Comments:

At sábado, 12 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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At quinta-feira, 17 agosto, 2006, Anonymous Anônimo said...

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