O Arquiteto
O Arquiteto
Por Paulo Heuser
Quem cruza pela Mauá no Centro de Porto Alegre já deve ter observado um sujeito maltrapilho que labuta nas proximidades da última estação do trem. Impossível passar despercebido. Ele geralmente se encontra no meio da avenida, provocando o balé dos automóveis ao estilo do aquecimento de pneus dos carros de corrida. Quem há muito passa por lá já conhece os prováveis locais onde exerce sua atividade. Assim, reduz a velocidade e fica atento.
Não sei o seu nome, vamos chamá-lo apenas de Arquiteto. Ele constrói estruturas no meio das pistas da Mauá. Inicia cedo, logo após o nascente. As estruturas assumem formatos circulares, conforme alguma regra desconhecida. É um especialista em natureza morta, tanto na sua aparência pessoal como nos materiais que emprega para compor suas obras – paus e pedras, basicamente.
A primeira atividade do dia é a varrição do local que receberá a obra do dia. Aí que inicia o concerto para pneus, lonas de freio e palavrões, proferidos pelos motoristas. Arisco, o Arquiteto varre logo após a curva da estação do trem, dificultando a sua visão por parte dos desavisados condutores. Após anos de encontros inesperados aprendi um truque. Sempre utilizo a pista do meio. O Arquiteto preferia a da direita, até cercarem a estação do trem. Guardava seu material junto à estação. Agora o tenho visto na pista da esquerda, junto ao meio-fio.
Uma vez limpo o asfalto, com uma vistosa vassoura cor-de-laranja, inicia-se o processo de construção propriamente dito. Algumas pedras colocadas em círculo produzem uma coisa semelhante à maquete das estruturas de Stonehenge - aquele círculo misterioso, no Sul da Inglaterra. A colocação de paus e galhos secos dispostos em alguma ordem misteriosa completa a obra.
Stonehenge foi construída por volta de 2950 a.C. Atribui-se sua construção a uma variedade de povos que vai dos celtas aos habitantes do Continente Perdido da Atlântida. Estes provavelmente não tinham de desviar de automóveis nem de um Viamão articulado. Perene, sua obra é visitada por milhões de turistas e aficionados do ocultismo. As obras do Arquiteto são efêmeras. Duram até o primeiro ônibus passar.
Olhando rapidamente para o Arquiteto, constato que está mais para a imagem que faço de um celta do que a imagem que Hollywood me deixou dos habitantes da Atlântida. Só consigo olhá-lo rapidamente mesmo. Quem observa o Arquiteto está sempre de passagem. A não ser que ocorra um engarrafamento. Ali não é muito comum. Torço para que ocorra algum, pois seria a oportunidade quase única de indagar o Arquiteto sobre a utilidade da sua obra. Poderia dar uma boa pista sobre a utilidade da obra de Stonehenge, igualmente ignorada.
Feitas por arquitetos fisicamente semelhantes, com aparência arquitetônica semelhante, as obras daqui e a de lá devem ter utilidade semelhante. Procurei e encontrei um livro, na minha arriada biblioteca de índice aleatório, intitulado Eram os Deuses Astronautas? (Chariots of the Gods) de Erich Von Däniken. Este autor atribui as construções das Pirâmides do Egito e de Stonehenge aos alienígenas. Não há nada lá a respeito das obras da Mauá. Certo, minha edição é de 1969 e o Arquiteto ainda não havia assumido sua obra. Talvez haja algo nas edições mais novas.
De alienígenas calvos como o Arquiteto os filmes do gênero estão recheados. Cabelos devem se perder ao longo da evolução e os alienígenas são mais evoluídos, não é? Mas, maltrapilhos?
E-mail: prheuser@gmail.com
Por Paulo Heuser
Quem cruza pela Mauá no Centro de Porto Alegre já deve ter observado um sujeito maltrapilho que labuta nas proximidades da última estação do trem. Impossível passar despercebido. Ele geralmente se encontra no meio da avenida, provocando o balé dos automóveis ao estilo do aquecimento de pneus dos carros de corrida. Quem há muito passa por lá já conhece os prováveis locais onde exerce sua atividade. Assim, reduz a velocidade e fica atento.
Não sei o seu nome, vamos chamá-lo apenas de Arquiteto. Ele constrói estruturas no meio das pistas da Mauá. Inicia cedo, logo após o nascente. As estruturas assumem formatos circulares, conforme alguma regra desconhecida. É um especialista em natureza morta, tanto na sua aparência pessoal como nos materiais que emprega para compor suas obras – paus e pedras, basicamente.
A primeira atividade do dia é a varrição do local que receberá a obra do dia. Aí que inicia o concerto para pneus, lonas de freio e palavrões, proferidos pelos motoristas. Arisco, o Arquiteto varre logo após a curva da estação do trem, dificultando a sua visão por parte dos desavisados condutores. Após anos de encontros inesperados aprendi um truque. Sempre utilizo a pista do meio. O Arquiteto preferia a da direita, até cercarem a estação do trem. Guardava seu material junto à estação. Agora o tenho visto na pista da esquerda, junto ao meio-fio.
Uma vez limpo o asfalto, com uma vistosa vassoura cor-de-laranja, inicia-se o processo de construção propriamente dito. Algumas pedras colocadas em círculo produzem uma coisa semelhante à maquete das estruturas de Stonehenge - aquele círculo misterioso, no Sul da Inglaterra. A colocação de paus e galhos secos dispostos em alguma ordem misteriosa completa a obra.
Stonehenge foi construída por volta de 2950 a.C. Atribui-se sua construção a uma variedade de povos que vai dos celtas aos habitantes do Continente Perdido da Atlântida. Estes provavelmente não tinham de desviar de automóveis nem de um Viamão articulado. Perene, sua obra é visitada por milhões de turistas e aficionados do ocultismo. As obras do Arquiteto são efêmeras. Duram até o primeiro ônibus passar.
Olhando rapidamente para o Arquiteto, constato que está mais para a imagem que faço de um celta do que a imagem que Hollywood me deixou dos habitantes da Atlântida. Só consigo olhá-lo rapidamente mesmo. Quem observa o Arquiteto está sempre de passagem. A não ser que ocorra um engarrafamento. Ali não é muito comum. Torço para que ocorra algum, pois seria a oportunidade quase única de indagar o Arquiteto sobre a utilidade da sua obra. Poderia dar uma boa pista sobre a utilidade da obra de Stonehenge, igualmente ignorada.
Feitas por arquitetos fisicamente semelhantes, com aparência arquitetônica semelhante, as obras daqui e a de lá devem ter utilidade semelhante. Procurei e encontrei um livro, na minha arriada biblioteca de índice aleatório, intitulado Eram os Deuses Astronautas? (Chariots of the Gods) de Erich Von Däniken. Este autor atribui as construções das Pirâmides do Egito e de Stonehenge aos alienígenas. Não há nada lá a respeito das obras da Mauá. Certo, minha edição é de 1969 e o Arquiteto ainda não havia assumido sua obra. Talvez haja algo nas edições mais novas.
De alienígenas calvos como o Arquiteto os filmes do gênero estão recheados. Cabelos devem se perder ao longo da evolução e os alienígenas são mais evoluídos, não é? Mas, maltrapilhos?
E-mail: prheuser@gmail.com
2 Comments:
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